A Seleção Brasileira Feminina de Vadão ficou para trás depois de cair para anfitriã França na última Copa do Mundo. O lugar deixado por ele foi preenchido pela sueca Pia Sundhage, um bom nome em que a CBF aposta para um (res)surgimento de uma seleção que sempre teve jogadoras bastante promissoras, mas que nunca chegaram ao seu ápice com a camisa amarela, claro que com as exceções de Marta e Cristiane.
O mais esperado momento para imprensa e torcida aconteceu na semana passada, quando foi anunciada a convocação para a disputa de uma competição amistosa, o Torneio Uber Internacional de Futebol Feminino, que será disputado no estádio do Pacaembu, em São Paulo. Para a surpresa, boa parte do elenco que disputou o Mundial foi mantida, inclusive Marta, mas com algumas caras novas, como no caso da volante Yaya, de apenas 17 anos, que atua no São Paulo.
Porém, a volante Thaisa, que está no Real Madrid e foi uma das remanescentes da Copa, teve que ser cortada devido a uma lesão muscular. Em seu lugar, para surpresa novamente de todos, a meia-atacante Aline Milene, da Ferroviária, foi convocada e se apresentou nesta segunda-feira, em São Paulo, para início dos treinamentos com a Seleção.
Em meio a esta convocação, muitos esperavam alguma jogadora de Corinthians ou Santos, principais times do momento no país, para completar a lista dos convocados, mas parece que o nome não foi digerido por parte da “imprensa especializada”, o que terminou no principal assunto futebolístico do dia.
A Jornalista Ana Thais Matos, do SporTV, fez uma publicação em seu Twitter sobre a convocação da jogadora grená:
Thaisa foi cortada dos amistosos da seleção brasileira feminina e a CBF chamou Aline Milene da Ferroviária. Me pergunto se os clubes brasileiros inserirem Ferroviária no nome serão mais lembrandos? Tipo Santos Ferroviária, SPFC ferroviária, Flamengo Ferroviária.
— Ana Thaís (@anathaismatos) August 26, 2019
Seria mais uma postagem sobre a ausência de jogadoras que teriam maior potencial de estarem presentes na seleção, mas o comentário deu a entender que “se não tiver Ferroviária no currículo, não entra”, insinuando que poderia existir algo entre CBF e o clube, causando um reboliço na rede social.
Utilizando a sua conta, a Ferroviária respondeu a jornalista na tarde desta segunda-feira e deu uma aula sobre como funciona o futebol feminino dentro da agremiação.
Olá, Ana Thais. Tudo bem?
Segue algumas informações que talvez possam ajudar a entender a última convocação e a Ferroviária:Sobre a nós:
– O clube investe no FF desde 2001, muito antes das exigências da FIFA e CBF;(+)
— Ferroviária (@afeoficial) August 26, 2019
– Apesar de 1/3 das atletas convocadas para a última Copa do Mundo terem passagens pela Ferroviária, nenhuma delas tinha vínculo com o clube na convocação;
(+)
— Ferroviária (@afeoficial) August 26, 2019
Sobre as atletas que jogam no Brasil:
– Das 23 convocadas, com a Aline teremos 8 atletas que atuam no Brasil, poderia ser mais, mas não é um número ruim se considerarmos o investimento de alguns clubes europeus no FF;(+)
— Ferroviária (@afeoficial) August 26, 2019
Saudações Afeanas!
— Ferroviária (@afeoficial) August 26, 2019
A rede foi a loucura e ganhou muito apoio de torcedores da Ferroviária, de outros clubes e de quem prestigia o futebol em geral. Apesar de ter se expressado muito mal, Ana Thais , em resposta, não largou o osso:
Repito o que eu disse. A critica não é feita para a Ferroviária, mas ao modus das convocações que não mudou com a chegada da nova técnica. O FF brasileiro segue ignorado e boicotado, mas aproveitem pra fazer propaganda mesmo, mais pessoas têm q conhecer o FF no Brasil. ?
— Ana Thaís (@anathaismatos) August 26, 2019
Vamos lá. Um clube que trabalha com o futebol feminino desde 2001 e se mantém de forma sólida, não precisa de propaganda, e sim de trabalho e esforço para se manter, ainda mais se tratando de um clube de futebol no interior.
Não podemos esquecer que toda vez que mencionamos Seleção, a memória de quem trabalha com Ferroviária vem com a maldita “Seleção Permanente”, criada em 2015 pela CBF. Aquilo esfacelou o clube de Araraquara. Foram SETE jogadoras CEDIDAS para confederação. Reparem a data da notícia: 20 de janeiro de 2015.
Oito meses e cinco dias depois, a CBF fez um draft com “suas” jogadoras para serem emprestadas para as quadrifinalista do Brasileirão daquele ano. E a Ferroviária, que havia cedido boa parte, não estava entre as classificadas. Talvez não tenha sido um motivo de surpresa ou até mesmo de comoção nacional com o clube tendo que convocar jogadora de 16 anos que jogava futebol de salão para a disputa da Libertadores da América, quando com mérito e muita raça, faturou o caneco. Como foi no Twitter de muitos profissionais da “mídia especializada” que tentam insinuar algo? Acho que zero aparições. Lembrando que a rede social do passarinho azul surgiu em 2009.
Aline Milene, de 25 anos, possui apenas oito jogos na Seleção, como a própria Ferroviária informou. Fez apenas um gol com a camisa amarela e tem o título da Copa América de 2018. Quando se fala de renovação, a jogadora se encaixa perfeitamente no quesito. Quem acompanha o futebol feminino, sabe o quanto Aline é uma jogadora muita habilidosa e rápida, sempre desequilibra. O que peca é a finalização. Mas estamos falando de uma Seleção Brasileira. Outras jogadoras podem fazer esse papel e a atleta pode se encaixar perfeitamente no esquema de Pia.
Fica claro o que incomoda de quem faz a cobertura da Seleção a pouco tempo. E me refiro apenas da seleção. Querem sempre a presença de nomes que fazem parte dos grandes clubes, porque vendem jornal e tem pauta para ser discutida nos programas esportivos, já que é fácil ter imagens e porque “fica do lado e é mais fácil para acompanhar”.
O interior não faz parte do “eixo”, como torcedor popular sempre fala. Podem apostar nisto. Não só de Ferroviária a Seleção viveu, mas também de São José e Rio Preto, este último é o atual vice-campeão brasileiro, mas pediu licença de disputar campeonatos este ano.
A ofensa gratuita proporcionada por muitos contra Ana Thais não pode fazer parte disso também. Mas faltou humildade e brilhantismo na hora de ouvir. Poderia ter saído por cima. Tentou se retratar, mas acabou deixando margem para erros. O jornalista não pode errar ou se equivocar na hora de informar, e se errar tem que assumir, não sumir.
Não fui clara e vou escrever de novo. O problema não é a CBF chamar atletas da FErroviária (um projeto pioneiro de FF). O ponto é ignorar os outros times, principalmente o Santos. Não adianta pregar renovação e seguir no mesmo modus operandi. Acho q agora ficou claro.
— Ana Thaís (@anathaismatos) August 26, 2019
Como eu havia dito no Twitter em uma mensagem para ela (mesmo que não tenha lido), o futebol feminino em Araraquara é levado muito a sério. Em termos de conquistas, tem até mais âmbito que o masculino: Campeonato Paulista, Copa do Brasil, Brasileirão e Libertadores. Não pode passar batido os feitos que a categoria conquistou não só para a cidade, mas para o Brasil.
Que possam ir mais jogadoras das Guerreiras Grenás para a Seleção e suas categorias, e de clubes que levem o esporte a sério também. O futebol feminino precisa disso, de trabalho, não de insinuações.
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