O setor sucroenergético prevê que os estoques de etanol no Brasil sejam suficientes para abastecer o mercado até abril, quando começa a próxima safra de cana-de-açúcar no Centro-Sul. Ainda assim, fatores como preços da gasolina, consumo do biocombustível e como começará a temporada 2022/23 precisam ser levados em conta.
“Nossa expectativa, se não tiver alteração, é atender, em abril, a demanda de anidro para todo o mês, e de 20 dias de hidratado com os estoques”, disse ao Broadcast Agro o diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Antonio Padua Rodrigues. Isso significaria algo em torno de 850 milhões de litros de anidro e 750 milhões de litros de hidratado. Há alguns meses, o cenário era considerado mais crítico, mas a queda de consumo e a moagem acima do esperado no final da safra de cana ajudaram a normalizar a perspectiva para os estoques.
O diretor da Bioagência, Tarcilo Rodrigues, estimou volumes parecidos com os da Unica para o fim da entressafra no Centro-Sul brasileiro. “O que o setor fez nesta temporada é suficiente para ir até o final do ciclo e abastecer abril inteiro”, afirmou. “Além dos estoques do etanol de cana produzido no Brasil, o biocombustível à base de milho e um volume de importação vão fechar a conta.”
De acordo com dados do Departamento de Comercialização e Abastecimento do Ministério da Agricultura, o Brasil importou 157,715 milhões de litros de etanol entre abril e novembro de 2021, o que representa um recuo expressivo na comparação com o mesmo período de 2020, quando foram comprados 307,2 milhões de litros do exterior. “A importação até o momento está em equilíbrio”, diz Padua. “Embora haja alguns volumes nomeados para dezembro, a preocupação de ter de importar etanol para garantir a mistura de 27% do etanol anidro na gasolina não existe mais.”
No mês passado, a venda de etanol pelas usinas do Centro-Sul registrava queda anual de 24,5%, e em outubro, de 28,8%. “A primeira leitura do mercado foi que os estoques até março do ano que vem seriam apertados. Com isso, o preço subiu e o consumidor se retraiu, principalmente do etanol hidratado, fazendo com que o sentimento se invertesse. Agora a impressão é que o estoque de passagem está folgado”, afirmou Padua em entrevista coletiva da Unica no início de dezembro.
Em novembro, conforme a entidade, o Centro-Sul do Brasil vendeu 2,062 bilhões de litros de etanol. Já os estoques físicos do País somavam 9,80 bilhões de litros no fim do mês passado, de acordo com dados do Ministério da Agricultura. Portanto, caso a demanda dos quatro meses seguintes de entressafra seja igual à de novembro, o Centro-Sul venderá 8,248 bilhões de litros até o fim de março. Se os estoques continuarem estáveis nesse período, o volume armazenado de etanol no início de abril ficará em torno de 1,56 bilhão de litros, equivalente ao projetado pelos especialistas.
Vale lembrar, entretanto, que a demanda por combustíveis não é linear ao longo do ano. Em geral, a procura é grande em dezembro, enquanto janeiro e fevereiro são mais fracos. Além disso, o consumo do etanol depende da relação entre o preço do biocombustível e o da gasolina – se a paridade começar a favorecer o biocombustível, os estoques tendem a ficar mais apertados. Entretanto, o que tem acontecido é uma paridade mais favorável à gasolina, ainda que os preços do derivado do petróleo venham recuando – há duas semanas, a Petrobras anunciou corte de 3% no preço do combustível fóssil nas refinarias.
Outro fator no radar do mercado é se a safra 2022/23 de cana-de-açúcar se iniciará no começo de abril ou se pode ser antecipada ou atrasada. “A temporada atual começou atrasada em 15 dias”, afirmou Padua. “A expectativa é que haja pelo menos alguma recuperação do canavial na próxima temporada, então pode haver incremento na oferta de cana e um início mais antecipado. Mas há também unidades com necessidade de caixa e que precisam iniciar a moagem imediatamente.”
As usinas decidem o início da moagem pensando já no seu fim: com base numa estimativa de quanta cana vão processar ao longo da temporada, tentam encerrar a safra antes do período chuvoso, que, em geral, começa em novembro, já que a colheita em época de chuvas é prejudicial ao solo. O diretor da Paragon Global Markets, Michael McDougall, afirma que há entre 4 e 6 milhões de toneladas de cana desta safra que devem ser colhidos em março. “No entanto, o desenvolvimento da nova safra ainda está mais lento que o normal, então podemos ver um atraso de algumas semanas”, disse ele, ressaltando que, se os preços estiverem elevados em março do ano que vem, usinas podem decidir iniciar a moagem antes da maturação ideal.