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Novo duto com 2 mil km para atender ao agronegócio do Centro-Oeste

Petrobras anuncia, na Rio Pipeline & Logistics, a construção de um novo duto até 2030 para ligar São Paulo ao Mato Grosso e atender à crescente demanda de transporte de biocombustíveis na região

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Caso o projeto seja aprovado, ele representará o primeiro grande oleoduto no país desde os anos 1990 (Foto: Fonte: Construtora Elevação)

Em resposta ao crescimento acelerado da demanda por transporte de biocombustíveis no Centro-Oeste, impulsionada pelo agronegócio na produção de etanol de milho, a Petrobras anunciou a construção de um novo duto de líquidos com 2.030 quilômetros, que ligará São Paulo ao Mato Grosso. O anúncio foi feito hoje por Daniel Sales Correa, gerente executivo de Comercialização no Mercado Interno da companhia, durante o painel “Desenvolvimento da Infraestrutura Dutoviária para o Centro-Oeste Brasileiro”, na Rio Pipeline & Logistics, principal ponto de encontro global do setor de dutos, transporte e logística, organizado pelo Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP).

Segundo o executivo, o projeto integra o plano de investimentos da empresa, que prevê US$3,6 bilhões em logística até 2029. Apenas o novo duto receberá mais de R$2 bilhões em investimentos, com um cronograma entre 2025 e 2030. “A Petrobras quer ser parceira do agro, oferecendo mais uma rota para escoar a produção do Centro-Oeste”, afirmou, destacando que o milho é a matéria-prima estratégica para os novos projetos de biorefino da estatal, como a produção de Combustível Sustentável de Aviação (SAF).

A necessidade do novo duto foi reforçada por outros executivos no painel, que apontaram o descompasso entre a infraestrutura atual e a demanda crescente da região. Bruno Ebecken, gerente executivo de Manutenção, Integridade e Eficiência Operacional de Dutos e Terminais da Transpetro, destacou que o atual oleoduto OSBRA, com 962 km, foi pensado para um mercado de 1996 e hoje opera com capacidade reduzida entre Paulínia (SP) e Brasília (DF). “A produção de etanol de milho hoje está muito alta. Os volumes já superaram os de derivados”, disse Ebecken, ressaltando taxas de crescimento “chinesas”, entre 8% a 11% ao ano.

Moderado por Marcelino Guedes, diretor da PipelineBrazil, o painel também abordou o desafio de expandir o fornecimento de gás natural para a região, já que cidades como Brasília ainda não são abastecidas. Helder Ferraz, diretor Comercial e Novos Negócios da NTS, explicou que a expansão da malha de gás para o Centro-Oeste depende da solução de gargalos na infraestrutura do Sudeste. Com o declínio da oferta boliviana, o sistema atual enfrenta pressões, e ampliar o transporte a partir do Rio de Janeiro exige modernização regulatória, agilidade no licenciamento ambiental e novos investimentos.

TBG: MERCADO AQUECIDO COM GÁS ARGENTINO E BIOMETANO

O mercado de gás natural no Brasil passa por um período de transformação, com a queda da dependência do gás boliviano abrindo espaço para novas fontes de suprimento, como o gás de Vaca Muerta, na Argentina, e o crescente potencial do biometano. No CEO Talks, Jorge Hijjar, diretor-presidente da Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG), descreveu esse cenário como um “momento ímpar” para a maturidade do setor.

“Temos hoje 30 clientes potenciais que já assinaram contrato master para transporte de gás. Esse movimento é impulsionado pela chegada de novos agentes e pela necessidade de diversificação da oferta, diante da queda da importação boliviana”, afirmou Hijjar.

Com a redução da oferta da Bolívia, a Argentina desponta como fornecedor estratégico. A rota via Uruguaiana (RS) é a mais discutida, com investimentos previstos para ampliar a capacidade de entrega. Em paralelo, o biometano se consolida como uma nova fronteira: em algumas regiões do Brasil, a produção prevista já supera o consumo local, tornando necessária a exportação do excedente.

DESAFIOS REGULATÓRIOS PARA TRANSPORTES DE ENERGIAS RENOVÁVEIS

O painel “Regulatory and Strategic Aspects for Renewable Energy Transportation” reuniu especialistas para discutir os limites técnicos, os gargalos regulatórios e as oportunidades estratégicas no transporte de hidrogênio, biometano e combustíveis sustentáveis no Brasil.

Marcello Portes da Silveira Lobo e Raphael Moraes, sócios do Pinheiro Neto Advogados, destacaram estudo da Universidade Federal do Ceará que aponta limite de até 3% para inserção de hidrogênio em dutos de aço de alta performance, podendo chegar a 4% com adaptações na infraestrutura nacional. Lobo alertou para as incertezas na intercambialidade entre gás natural, hidrogênio e biometano, defendendo especificações claras da ANP para blends e um modelo de comercialização justo.

E Paciello lembrou que a ANP já autoriza projetos-piloto de CCUS, mencionando iniciativas da Petrobras, FS Agrisolutions e Eneva, mas ressaltou a ausência de um marco regulatório robusto para consolidar esse mercado.

Já Erick Sobral Diniz, assessor jurídico da SEENEMAR, observou que a produção de SAF está concentrada no Sudeste, criando desafios logísticos para abastecer todos os aeroportos do país. Para ele, é fundamental um método de certificação robusto, rotas claras de coprocessamento e maior integração com o mercado de CBios.

Por fim, Alessandra Plaga, Coordenadora de Assuntos Regulatórios da Diretoria de Transição Energética da Petrobras, ponderou que o mercado ainda não tem maturidade para absorver hidrogênio em dutos com mandatos previamente estabelecidos, reforçando a importância de evolução regulatória gradual e de um ambiente de negócios que dê segurança a investidores e operadores.