O etanol poderá ter um papel muito importante no cenário de descarbonização de outros setores, como o aéreo, com a produção de combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês), e o marítimo, com o biobunker. Por esta razão, o terceiro painel da Conferência NovaCana foi dedicado às inovações para o biocombustível brasileiro.
Nesta segunda-feira (15), o estrategista global de açúcar do Rabobank, Andy Duff, trouxe um panorama dos principais avanços registrados no último ano.
Para o biometano, Duff explica que existe uma “correria” para que toda a regulamentação esteja alinhada para que o mandato previsto na lei do Combustível do Futuro possa entrar em vigor no próximo ano. Inclusive, de acordo com ele, há distribuidoras em vários estados que estão interessados no gás para ampliar suas redes de distribuição.
“A cidade de São Paulo já está estudando implementar ônibus de biometano. É um ecossistema que está em andamento, que será um substituto ao diesel. Este é o eixo mais óbvio de crescimento”, detalha.
Para o SAF, Duff reflete que é legítimo colocar um ponto de interrogação em sua produção. No Brasil, segundo ele, existem apenas plantas pequenas e que ainda não começaram a operar em sua plena capacidade. O analista, entretanto, é otimista e acredita que a questão tecnológica poderá ser resolvida entre dois e três anos na rota alcohol to jet (AtJ).
“Se olharmos para a concorrência, vemos que existem sete rotas tecnológicas para SAF. O etanol terá que lutar pelo seu espaço no mercado”, Andy Duff (Rabobank)
Ele ainda ressalta que, no ano passado, todo o setor estava animado para produzir SAF, mas que esse cenário agora é visto pelos combustíveis sustentáveis para o setor marítimo. Segundo ele, a tecnologia já é existente e a regulamentação registrou avanços, com incentivos e planos de descarbonização semelhantes com os que foram vistos pelo setor de aviação.
“Estão criando facilidades para o abastecimento com combustíveis alternativos em rotas que têm muito trânsito entre os dois, incentivando os navios que podem usar esses combustíveis”, reforça.
SAF TEM ESTIMATIVA DE ALTA DEMANDA
Duff detalha que a produção de SAF teve um crescimento impressionante entre os dois últimos anos, saindo de 1,3 bilhão de litros para 2,5 bilhões de litros atualmente. Porém, com os mandatos em vigor, que colocam o combustível com uma contribuição de 65% da descarbonização do setor aéreo até 2050, serão necessários 450 bilhões de litros.
“Estamos na primeira página, do primeiro capítulo, de um livro do tamanho de ‘Guerra e Paz’. Há muita coisa para acontecer”, aponta.
De acordo com ele, existem mandatos em vigor na Europa e no Reino Unido; já nos Estados Unidos, há iniciativas para promover o SAF. De acordo com Duff, o mercado está um pouco mais complicado do ponto de vista de quem olha para o futuro e cogita exportar para esses mercados, mas ainda existe interesse.
“Com a entrada em vigor desses mandatados, tem um número de projetos que serão obrigados a querer esse SAF”, analisa.
Além disso, o estrategista do Rabobank detalha que existem mais acordos sendo assinados e que os prazos estão diminuindo: “Antigamente, eram entre cinco e dez anos; mais recentemente [os contratos] são de dois e três anos”.
A ideia é que a distribuição de contratos passe por várias rotas e, por enquanto, os óleos vegetais e gordura animal (HEFA) estão com 60% da parcela. Enquanto a rota de etanol está em 8%. “Falta alguma coisa a nível de prontidão a respeito dos projetos”, afirma Duff. (Giully Regina / NovaCana)