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Só US$ 10 bilhões e só ao agro? É o que a Arábia pode dar ante a única garantia do Brasil

A estratégia da Arábia Saudita é quase parecida com a da Rússia, investir fora mas com o mínimo de segurança e alinhamento com suas reais necessidades.

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Principal item importado do agronegócio brasileiro, aves, tambe´m estaria na mira de investimentos da Arábia Saudita (Imagem: Reuters/Seun Sanni)

Governos do mundo inteiro gostariam de abocanhar fatias maiores dos bilionários fundos soberanos da Arábia Saudita, especialmente investimentos em ativos reais. Se a pequena parcela de US$ 10 bilhões anunciada para o Brasil vier mesmo, está de bom tamanho. Seriam para o agronegócio, direta ou indiretamente, e é só isso que o País tem a oferecer de mais seguro aos árabes.

A necessidade de diversificação do portfólio do reino para mitigar sacrifícios em caso de crises agudas regionais (como o ataque a instalações petrolíferas no mês passado) ou mundiais, diante da extrema dependência do óleo, não implica em esparramar petrodólares a torto e direito. Menos ainda só porque os cofres estejam abarrotados, com dinheiro sobrando, como também se escuta aqui e ali.

Justificativas que se alinhariam, ao Brasil de agora, às imensas oportunidades em infraestrutura e a aprovação da nova Previdência. Esqueça, isso não é com os árabes.

Não adianta lamentar em tom irônico (como já se analisa por aí) os US$ 10 bilhões prometidos ao presidente Jair Bolsonaro contra os US$ 40 bilhões anunciados ao primeiro-ministro Narendra Modi, ainda mais só porque foram divulgações quase simultâneas durante o chamado “Davos do Deserto”. Não teve nada de “menor” ao Brasil.

A Índia está mais próxima do Oriente Médio, portanto se justificam vultuosos investimentos em refinarias; tem tecnologia de ponta em várias áreas – e tecnologia própria, frisa-se -, e mercado consumidor enorme e à margem; apesar da instabilidade regional entre vizinhos, sempre a beira de guerra,  o país é seguro institucionalmente e o establishment político não muda há décadas.

O dito pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman sobre o budget que deve ser destinado aos indianos é tão verdadeiro quanto o que poderá vir ao Brasil. A Arábia Saudita importa 85% do que come e é daqui que poderá seguir saindo boa parte das suas compras.

Segurança alimentar é o que eles precisam. Dai é mais importante investirem aqui diretamente e ficarem menos expostos a possibilidades de problemas recorrentes na importação, como o caso do frango nos últimos dois anos, cujas compras daqui sofreram diminuição. É importante para o Brasil também.

A Ferrogrão é outra rubrica importante oferecida pelo presidente Bolsonaro, porque mesmo que não tenha interesse direto dos árabes, ao menos está na cadeia produtiva mais segura do Brasil, o agronegócio. Portanto, a garantia de retorno do investimento é sólida.

A estratégia da Arábia Saudita é quase parecida com a da Rússia, investir fora mas com o mínimo de segurança e alinhamento com suas reais necessidades. Basta verificar o “pouco” que a Rússia pragmática de Vladimir Putin tem no Brasil.

A Aramco, estatal do petróleo, pode até trazer algum recurso para o pré-Sal, ou outro setor, como já acontece em inúmeras participações reduzidas da Arábia Saudita.

Mas o grosso de seus recursos vão para regiões mais estratégicas e o grosso do que poderá acabar no Brasil é do agronegócio, só.

Fonte: Giovanni Lorenzon / Money Times