Assim, o poder de compra da população, considerando que a barganha dos trabalhadores é muito baixa num mercado de trabalho bastante debilitado, já começa a cair sensivelmente. Isso já começa a ser percebido nos dados de outubro, na divulgação da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O comunicado do instituto foi o seguinte:
“Neste último [dado], de setembro de 2021, o fator determinante é a inflação. Isso fica claro quando comparamos a queda de 1,3% no volume e a variação de -0,2% na receita, estável. O componente que joga o volume para baixo é a inflação. As mercadorias subiram de preço”.
Portanto, a segunda queda seguida do indicador geral do comércio, em setembro – com baixa de 1,3% – foi forçado, em boa parte, pelo aumento do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que continua acelerando.
As reduções em comparação a setembro de 2020 são ainda mais dramáticas: 22,6% em móveis e eletrodomésticos, e -14,8% em equipamentos e material para escritório. Este movimento indica que as pessoas estão comprando mais itens básicos, sobrando menos para gastar com itens considerados não essenciais.
Além disso, o aumento da inflação ainda tem um efeito indireto: como o Banco Central (Bacen) é obrigado a aumentar os juros básicos para combater esse aumento, a população começa a sentir o crédito mais caro na ponta do consumo; já estamos vendo os saldos de crédito se estabilizando, e novas concessões diminuindo.
A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) apontou, na Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), que, considerando a capital paulista, o número de endividados bateu novo recorde em outubro: 2,84 milhões, representando 71,3% do total dos lares. É a 11ª elevação consecutiva. Para se ter uma ideia, em setembro, este número era de 69,2%
Portanto, o aumento de juros terá como efeito não apenas a diminuição das compras no comércio (diretamente pelo encarecimento do crédito), mas também porque o custo das dívidas deve aumentar, diminuindo a renda disponível para consumo.
Em suma, a sensação de otimismo – que, antes, era atribuída à reabertura dos estabelecimentos e ao aumento da vacinação – está restrita apenas ao fim de 2021, em razão do décimo terceiro e da poupança, acumulada na pandemia. O cenário não mostra 2022 muito promissor para o setor, o qual terá de conviver com inflação mais alta, juros mais elevados, endividamento e maior concorrência com o setor de serviços, principalmente o turismo. Assim como em outras variáveis do sistema econômico, o comércio começa a se inquietar para o ano que vem.
*André Sacconato é economista, consultor da FecomercioSP e integrante do CEEP (Artigo originalmente publicado no Portal Contábeis em 19 de novembro de 2021)
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