É verdade que todo homicídio tem a sua dose de frieza, apresenta característica repugnante e nos conduz a pensar – puxa o indivíduo teve coragem de fazer uma coisa dessas? É o tipo de pergunta que se faz, quando efetivamente até Deus duvida da disposição do criminoso em praticar algo terrivelmente bárbaro, como aconteceu então no último domingo.
Por mais distante que estejamos do convívio familiar desta jovem, 30 anos ainda é a flor da idade, a dor que sentimos é a mesma que familiares e amigos a esta altura estão tendo que conviver. Bem pior, pois nós ainda temos as pessoas em nosso convívio. No caso de Karunã, não. Ela partiu e deixou um rastro de pessoas que amava e com as quais ela dividia sua alegria e vontade de viver. Sonhava quem sabe com um mundo melhor entre os seres humanos.
Com violência semelhante pelo menos dois outros casos policiais estão em minha memória e na carreira de jornalista em Araraquara: um ocorrido no final dos anos 70 quando três jovens assassinaram brutalmente uma jovem que saia à noite da escola e a levaram para a linha do trem na altura do Viaduto da Barroso.
Não bastasse sua morte por enforcamento e os abusos sexuais, a jovem após o seu sepultamento no Cemitério São Bento teve na mesma noite seu corpo retirado da cova e do caixão, rasgaram o vestido com o qual fora enterrada e voltaram a cometer as mesmas bestialidades.
A revolta da população foi tamanha que dois dias depois, já presos, na Delegacia Seccional de Polícia os três sofreram tentativa de linchamento. O crime abalou a cidade e passados 44 anos nas minhas lembranças ainda consigo visualizar uma cidade enfurecida disposta a fazer justiça com as próprias mãos.
No dia 31 de março de 2001, Maria Augusta Mendes, de 14 anos, a Guta, no auge da sua adolescência foi igualmente brutalizada por três vagabundos, drogados e desocupados quando voltava de um clube por volta das 8 horas. Foi cercada e levada para um matagal, da mesma linha férrea, proximidades da sua casa, onde passou 3 horas nas mãos dos criminosos. Sem reação foi assassinada e hoje vejo a pedir dinheiro nos semáforos de Araraquara um dos criminosos em liberdade.
São lembranças que nós jornalistas procuramos esquecer, tanto quanto as próprias famílias que passaram por essas situações. Mas, não tem como. Se eu 44 anos depois ainda me recordo tão bem desses dois caso estando longe desses convívios, imagino os que estão próximos o que devem carregar no peito: apenas revolta e acreditar ser possível um reencontro espiritual em algum lugar do passado.
*Ivan Roberto Peroni, jornalista e membro da ABI, Associação Brasileira de Imprensa
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