Religião e política sempre caminharam juntas desde que este país foi constituído, após ter sido ocupado pelo governo português. No entanto, a partir da eleição de 2018 — e mais contundentemente em 2022 —, um dos presidenciáveis utilizou com frequência o slogan “Deus, Pátria e Família” como uma das principais estratégias para conquistar apoio e votos principalmente dos religiosos conservadores.
Penso que não por mera coincidência o Movimento Integralista Brasileiro, liderado pela extrema-direita, foi um dos maiores movimentos políticos da história do país, utilizando o mesmo lema. Inspirado no governo de Benito Mussolini, baseava-se em um modelo autoritário, antiliberal e antidemocrático, identificando-se como nacionalista, anticomunista e fortemente influenciado pela radicalização dos religiosos cristãos conservadores.
Nas eleições de 2018 e 2022 o presidenciável Jair Bolsonaro e seus seguidores restabeleceram o espírito do integralismo brasileiro, que, a partir da década de 1930, se tornou o maior movimento fascista da América Latina, inspirados na ideologia do escritor Plinio Salgado – admirador declarado do regime totalitário fascista de Mussolini, então militar e primeiro ministro da Itália.
O Movimento Integralista também foi um dos elementos que marcaram o início do golpe civil-militar de 1964, com a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que reforçou o slogan “Deus, Pátria e Família” e consolidou a aliança entre religião e política — o que, como cristão, considero um equívoco. Afinal, Jesus nos deixou ricos ensinamentos que indicam que o reino de Deus não é deste mundo.
A família Bolsonaro, por exemplo, comemorou nas redes sociais a imposição de uma tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras para os Estados Unidos, uma medida implementada por Donald Trump — sempre na linha do conservadorismo de extrema-direita. Diante da repercussão negativa e do prejuízo político, mudaram o discurso, percebendo que o tiro estava saindo pela culatra, após deixar transparente a submissão ao totalitário presidente americano.
O absurdo chegou ao ponto de o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro, residindo nos Estados Unidos e articulando-se politicamente com o setor mais radical do Partido Republicano, agradecer o tarifaço objetivando forçar Lula e o STF voltarem atrás na condenação de seu pai, evitando a prisão.
Em determinado momento, Jair Bolsonaro chegou a se oferecer para ir aos Estados Unidos negociar o fim do tarifaço, desrespeitando a soberania nacional. Para isso, solicitou a liberação do passaporte, penso que com o plano de fugir da possível condenação pelo STF, obtendo o exílio.
Com esse comportamento antinacionalista e o desrespeito à independência entre os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, ficou evidente a postura hipócrita, oportunista e eleitoreira de Jair Bolsonaro. Ao buscar o apoio de cristãos conservadores — em sua maioria adeptos da teologia da prosperidade
Lamentavelmente, boa parte — senão a maioria — dos parlamentares no Congresso Nacional, de extrema direita, tentam aprovar o projeto de lei que anistia os envolvidos nas manifestações golpistas de 8 de janeiro de 2023, incluindo Jair Bolsonaro.
Ainda bem que Trump, segundo pesquisas da The Economist, tem a desaprovação de mais de dois terços dos americanos. No Brasil a maioria da população é contrária a qualquer interferência dele em nosso governo.
O clã Bolsonaro trocou slogan “Deus, Pátria e Família”, para “Trump, Estados Unidos e Nossa Família”, demonstrando total desinteresse pela fome e pela qualidade de vida do povo brasileiro, que poderá passar fome com o tarifaço de Trump.
(*) Walter Miranda, Auditor Fiscal da Receita Federal, aposentado, mestre em Ciências Contábeis pela PUC/SP, pós-graduado em Gestão Pública pela UNESP/Araraquara, militante da CSP CONLUTAS-Central Sindical e Popular e filiado ao PSTU-Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados, escreve para o RCIA.
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