Assim, essa minoria rica, com a sua influência financeira, tende a colocar no poder político, pela via eleitoral, os seus representantes, mesmo porque a disputa não se dá pela honestidade, nem pela clareza ideológica, ou pela militância política em defesa dos trabalhadores, principalmente dos mais empobrecidos. Predominam na disputa os recursos que o candidato tem para pagar “cabos eleitorais” para as suas campanhas.
É concreto que numa disputa eleitoral o resultado é sempre inesperado. No ano de 1982, na cidade de Jundiaí, ouvi pela primeira vez a frase “eleição é como nuvem”, dita por meu saudoso amigo Dr. Mario Galafassi, um militante político de esquerda, ex-ferroviário, advogado, falecido no ano de 1995.
O Dr. Mário, com esta comparação, me fez perceber que numa disputa eleitoral não se pode prever a vitória antes do fechamento das urnas e apurações dos votos. As nuvens podem mudar de configuração, influenciada pelos ventos das alianças e outros fatos políticos imprevistos.
Penso que na oposição de “esquerda” não há muito de original a fazer, a não ser ir para os bastidores, para as ruas e tentar subir o tom da mobilização. As direções, os ocupantes de cargos políticos precisam ser vanguarda procurando colocar o povo na rua. Isso, logicamente, se não usarem do mesmo método dos adversários de direita. Percebi que a partir dos últimos três meses Bolsonaro está reagindo nas pesquisas.
Os candidatos ricos, financiados por poderosos, não vão às ruas. Num país com renda altamente concentrada nas mãos de poucos, com milhões de brasileiros com dificuldades financeiras até para se alimentar, sempre foi fácil para a burguesia pagar pessoas para panfletar e pedir votos. Será que o PT, que sempre teve um quadro de militantes mais ideológico, vai fazer o mesmo? Estou vendo uma disputa cada vez mais polarizada entre Lula e Bolsonaro, o que penso ser prejudicial para a verdadeira democracia.
Na polarização as pessoas não param para analisar as propostas, os debates de ideias, que tem a ver com as ideologias dos candidatos, como por exemplo a qualidade de vida para a população, especialmente para os que mais dependem do Estado e dos serviços públicos. Ou se vota no Lula ou no Bolsonaro. Essa polarização não educa politicamente a população, que adquire o péssimo vício de votar num “mito” ou “salvador da pátria”.
Ao atual Governo interessa a reeleição. Assim, é preciso avaliar o que o mesmo tem feito em relação ao combate à inflação, à distribuição de riquezas e renda, à preservação do meio ambiente, à saúde, à educação e, principalmente, às remunerações dos trabalhadores ativos e aposentados no Brasil. Aos demais concorrentes interessa derrotá-lo.
Estou vendo Bolsonaro se utilizando deste modelo eleitoral deformado para continuar resistindo, enquanto seus adversários começam a pensar cada vez mais na via eleitoral para derrubá-lo. Ficam três dúvidas: a) como o presidente reagirá diante de uma derrota? b) como Lula, à frente nas pesquisas, se eleito, vai conseguir governar diante de um provável Congresso formado por, pelo menos, 30% de bolsonaristas, e pelo menos 70% de parlamentares de direita? c) para que lado os blocos denominados “Centrão” e bancada evangélica vão pender?
Na última pesquisa da Data Folha, Lula lidera com 43% dos votos; Bolsonaro tem 26% e os demais candidatos pontuaram em 23%. Será que a nuvem das eleições estará com esta configuração até o dia 2 de outubro? Quem os candidatos perdedores apoiarão no segundo turno desta eleição polarizada?
Eleição é como nuvem, dizia o meu saudoso amigo Dr. Mario Galafassi. Vamos ver a sua configuração no primeiro e segundo turnos da eleição.
*Walter Miranda, Vice-presidente do Sindifisco Nacional-Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil/Delegacia Sindical de Araraquara, Diretor do SINSPREV-Sindicato dos Trabalhadores Públicos em Saúde e Previdência do Estado de S. Paulo, militante da CSP CONLUTAS-Central Sindical e Popular
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