É verdade que alguns dias após o Grupo São Francisco finalizar a reestruturação do antigo hospital, anunciando que todas as áreas já estavam abertas para atender aos mais de 73 mil beneficiários da região, nos embebedamos na notícia e não a menosprezamos: Hospital São Francisco contempla tecnologia conservando traços da Beneficência. Era o que víamos naquele momento, felizes com o empreendimento.
Mas, como nem tudo está para o céu, passado um mês da entrega solene veio o que ninguém esperava. Em meio à euforia da inauguração o grupo informou que aceitara uma proposta e, com isso suas empresas passariam a fazer parte da Hapvida, que se tornará com esta aquisição, a maior operadora de saúde do Brasil com quase 6 milhões de beneficiários nos planos de saúde e dental.
A partir daí, enquanto a negociação era analisada pelo CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica, autarquia federal brasileira vinculada ao Ministério da Justiça, a vida do usuário do plano de saúde começou a sentir os efeitos de desmanche, uma espécie de fim de feira ocasionado pelo desinteresse do plano em corresponder com atendimento de excelência, não fazendo jus ao que lhe é pago por quem nele se associou.
Alguém poderá dizer – mas isso é normal, logo tudo vai mudar, o novo dono deverá dar uma ‘injeção’ de ânimo e as coisas entrarão no eixo. Num primeiro momento pode ser que ocorra essa compreensão, mas quando se trabalha com vida o sentido é outro e as insinuações sobre atendimentos pouco convincentes nos levam a refletir sobre semelhanças que acontecem quando queremos nos desfazer de algo.
Por mais bem intencionado que esteja o grupo, já que a venda foi autorizada, é preciso entender que a história do São Francisco foi construída em grande parte por usuários que sofriam para pagar o plano de saúde e a essa gente se deve o respeito e a atenção. Então, enquanto não se entregar a chave para o doutor Cândido é de extrema importância que todos estejam em posição de altivez para cumprir os sagrados direitos da medicina. Aqui não se fala de manobras empresariais para se promover um atendimento – mais ou menos.
E comentários pouco recomendáveis é o que não faltam em meio a este processo de transição, onde se observa até mesmo a inversão de valores quando a necessidade bate na porta do homecare. Há caso em que – a opinião da enfermeira tem mais poder decisório que o relato do médico. Ou casos em que serviços disponibilizados em domicilio estão minguando por conta de uma economia que não reflete o que a saúde prega – que é a humanização.
Como araraquarense é verdade que desejamos o melhor pra nossa gente, independente se o dono for Pedro ou Paulo, mas que tenha sabedoria na prestação de bons serviços e não avance os sinais do desprezo e do desrespeito ao ser humano. Somos vivos e seremos mortos, sem direitos exclusivos no carregamento das coisas que nos rodeiam. É o nosso jeito de pensar em uma pequena cidade, mas provida de caráter para receber bem quem chega.
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