A indiferença diante da morte não é uma novidade. Há anos os movimentos sociais denunciam o ritmo alucinante de crescimento de violências contra as mulheres. Os dados estão expostos para quem quiser conferir. No Brasil, foram 105. 821 denúncias no ano passado, 12 denúncias por hora, por meio do disque 100 e ligue 180. Em São Paulo em 2020 foram registradas 52.602 ocorrências. Entre elas, 179 feminicídios segundo dados da Secretaria de Segurança Pública. E já sabemos que existe subnotificação.
O machismo e o resultado que produz na vida de milhares de mulheres, seus filhos e familiares, são muitas vezes naturalizados assim como querem naturalizar a morte de mais de 200 mil brasileiros pela Covid.
A combinação, aliás, é desastrosa. Com a pandemia e o isolamento social aumentou a violência contra as mulheres e crianças e, com ela, o descaso com essas vidas.
Em São Paulo temos uma longa história de políticas públicas que enfrentam o problema. Em 1983 foi criada a primeira Delegacia Especializada na Defesa da Mulher e, na sequência, o Conselho Estadual da Condição Feminina. Ambos produtos do diálogo com o movimento de mulheres.
Ao longo dos anos novas políticas foram implementadas, tais como casas abrigos, prevenção e combate ao tráfico de seres humanos, espaços de atendimento psicológico, capacitações para as instituições que compõem a rede de atendimento, entre outras iniciativas. Além disso, foi instituída a Coordenação de Políticas para a Mulher no Estado, que cumpre papel estratégico na articulação das políticas públicas.
Mais recentemente o governo lançou o dispositivo móvel SOS Mulher que protege mulheres vítimas de violência, inaugurou delegacias 24 horas, criou programas específicos de capacitação para o empreendedorismo feminino, patrocina a construção de casas abrigo e políticas de proteção de direitos das mulheres deficientes em todo território. Todas medidas fundamentais e presentes nas pautas dos encontros e conferências feministas.
Nas últimas eleições vimos ascender à posição de deputadas, vereadoras e prefeitas mais mulheres engajadas com pautas de defesa dos direitos da Mulher e defesa da vida. São avanços que contabilizamos. As protagonistas são as mulheres que se organizaram e foram com a cara e a coragem derrubando os muros do machismo, avançando em profissões tidas como masculinas, em espaços onde não se imaginara ocupado por mulheres.
São as mulheres também grandes protagonistas na pandemia que vivemos. Trabalhadoras da saúde que enfrentam corajosamente o cuidado dos doentes. Chefes de família que defendem seus filhos e idosos do descaso daqueles que negligenciam os cuidados necessários com a vida.
Em São Paulo, com o governador João Doria, enfrentamos o descaso federal com a saúde e a vida dos brasileiros. O governador planejou e buscou a única saída possível para evitar mais mortes: produzir vacinas.
Então, neste 8 de Março, as mulheres proclamam, como sempre o fizeram, a defesa da vida. Todas as vidas! Mesmo quando não quiserem ver que estamos perdendo vidas para o preconceito, para o machismo e para o negacionismo.
*Edna Martins é Cientista Social, Doutora em Linguística, especialista em Gestão Pública e segunda vice-presidente do PSDB Mulher do Estado de São Paulo
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