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O mortal vírus

Por Luís Carlos Bedran

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O assunto deste mês de maio não poderia deixar de ser outro. Aquele que tem mexido com a vida das pessoas na cidade, no Brasil e no mundo: a pandemia do novo coronavírus, a covid-19 e que tem transformado as pessoas.

Até que gostaríamos de relembrar e trazer algumas mensagens edificantes aos leitores e às leitoras sobre um dia especial,que não deveria ser esquecido por todos nós, nem tanto por causa do comércio, dos presentes, dos mimos, dos agrados, mas, mais importante do que tudo, dos abraços e beijos que daremos àquela pessoa querida, a mãe, no seu dia — que, aliás, são todos os dias. O Dia das Mães.

Felizes as pessoas que ainda as abraçam e as beijam, mesmo virtualmente. Aproveitem. Porque não é fácil perder a mãe. A minha recordo-a todos os dias. E olhem que a curti quaseaté o seu fim, falecida aos 102 anos. Relembro-a sempre. Posso considerar-me uma pessoa feliz por isso.

Nas conversas quase que diárias que tive com ela, dizia-me de sua tristeza em não ter podido desfrutar de sua mãe, porque ela falecera quando tinha uns seis ou sete anos. E sabem do que morrera? Da gripe espanhola, daquela influenza que dizimou milhões de pessoas em todo mundo e milhares em nosso país.

Entretanto, meus amigos e minhas amigas, não consigo deixar de me solidarizar com aquelas pessoas que têm perdido seus entes queridos, impedidas até de velá-los para evitar que a pandemia se espalhe rapidamente, e,ipso facto, controlar a superlotação dos hospitais.

 Esse é um assunto trágico, triste, preocupante. Porém não há como fugir dele, inventar outro qualquer para tentarmos esquecê-lo, mesmo que seja por alguns momentos, ante as inúmeras notícias trágicas que nos chegam dia e noite, constatando as mortes de jovens, idosos, homens, mulheres e até crianças.

Como o sofrimento das pessoas na espera de vagas dos leitos nos hospitais lotados;como a dor das famílias verem seus entes queridos sofrendo;como a abnegação e o heroísmo dos e das profissionais da saúde, na tentativa hercúlea de salvar vidas, isso quando conseguem escapar ilesos do mortal vírus; como os estudos científicos para conseguir inventar uma vacina eficaz e rápida.

O pior de tudo é que não se vislumbra, a curto prazo, que essa pesteseja debelada. E isso apesar da evolução da ciência, em pleno século 21 e isso apesar de todas as medidas profiláticas para tentar controlá-la dentro dos limites razoáveis. E uma das consequências trágicas tem sido a de obrigar os médicos e as médicas a decidirem e a optarem quais pacientes devem sobreviver e quais os que não têm condições disso.

Esse vírus fez com que as nações mais poderosas, econômica e geopoliticamente, embora nem todas, deixassem de lado, pelo menos por um tempo, suas disputas entre si pela hegemonia mundial e, coisa rara, conseguiram unir-se em torno da Organização Mundial da Saúde. Esta tem reunido os cientistas mais competentes dessa área, que têm orientado os países a como conseguir evitar a maior propagação da covid-19 e, o que é melhor, suas normas têm sido seguidas pela maioria deles.

Embora esperemos, dentro de um contexto realista, mas otimista que, passada essa pandemia, o mundo se transformará para melhor e que o ser humano tentará ter uma outra visão filosófica mais compreensiva das coisas, na verdade, ele dificilmente deixará de ser o que é. Faz parte de nossa condição humana, a de, superadas as crises, voltar a ser como dantes e não ter aprendido as lições de um convívio harmônico com o Outro.

A ignorância, a ganância, a ingratidão continuarão. Como li recentemente uma frase extraída de Os Contos de Canterbury, do século 14: “o homem é sempre o mesmo, e nada perde a sua natureza, apesar de que tudo muda”.

Mas esse é outro assunto. O importante agora, e é o que mais nos interessa como brasileiros, é que as lições da tragédia sejam aprendidas e consigamos superar tudo isso. Porém não está fácil, porque ainda vivemos no chamado Terceiro Mundo, o das nações emergentes as quais, apesar das vantagens da globalização, ainda a miséria impera.

Mas não somente ela, também a incompreensão, com as exceções de praxe, pelas mais várias circunstâncias, daqueles políticos que têm o dever e a responsabilidade, como governantes, de procurar resolver os problemas que nos tem acometido há muitas e muitas décadas. E que agora, com a disseminação do novo coronavírus, foram exacerbados.

**Luís Carlos Bedran, é sociólogo e cronista da Revista Comércio,Indústria e Agronegócio de Araraquara

** As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem,necessariamente, com as do RCIARARAQUARA.COM.BR