Enfrentamos desafios como a pandemia de Covid-19, que ainda gera consequências sobre a economia mundial, bem como sobre a brasileira. O processo inflacionário também ganhou força e tornou-se um problema global. Já o conflito Ucrânia/Rússia, deflagrado em fevereiro de 2022, causou restrições ao comércio na região e gerou sanções à economia russa, trazendo choques aos preços das commodities.
Algumas cadeias de suprimento do mundo ainda continuam tentando normalizar fluxos e processos, com fortes oscilações nos preços das commodities. O agro teve de se adaptar a um cenário de arrefecimento da demanda doméstica, restrita pelo baixo poder aquisitivo da população, que foi atingido pela inflação de 2021 e 2022. E ainda enfrentou intempéries climáticas, com geada e seca.
Também ocorreram problemas econômicos internos, como a dificuldade de acesso ao crédito e custeio e investimento, com suspensão de linhas do BNDES, insuficiência de recursos para o programa de subvenção ao prêmio de seguro rural. O custo de produção subiu expressivamente em 2022, em algumas culturas acima de 70%, na esteira da inflação de combustíveis e fertilizantes.
O cenário base esperado pela FAESP é de que haverá turbulência nos mercados brasileiros até uma definição quanto aos rumos da política fiscal adotada pelo novo governo federal a partir de 2023.
Também preocupa, especificamente, a proposta de cisão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A FAESP enviou ao vice-presidente eleito e coordenador da Grupo de Transição (GT) do governo federal, Geraldo Alckmin, um ofício solicitando a reconsideração desta proposta.
Sob a ótica administrativa, entendemos que a unificação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e do Ministério do Desenvolvimento Agrário trouxe muitos ganhos para a construção das políticas voltadas à agropecuária brasileira.
A discussão em curso no GT da Agricultura prevê uma nova subdivisão do MAPA, com a criação do Ministério da Agricultura Familiar e Alimento Saudável e transferência de programas como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), e de órgãos como a ANATER (Agência Nacional de Assistência Técnica) e a CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) sendo fatores de preocupação no setor agropecuário.
Além da questão da eficiência administrativa, a criação de novos ministérios eleva as despesas do Governo e pode criar sobreposição de políticas públicas. A expansão dos gastos promove o desequilíbrio fiscal, com consequências nefastas para a economia brasileira, como a elevação das taxas de juros.
O agro também está atento a outros quesitos que dependem das políticas adotadas pelo próximo governo. Tememos a taxação das exportações e a adoção de uma postura protecionista, com menor busca por acordos comerciais e acesso a novos mercados.
Igualmente nos preocupa o aumento de conflitos e a intranquilidade no campo, cenários indesejados para todos os produtores brasileiros e paulistas.
*Fábio de Salles Meirelles é o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP).
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