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Precisamos sim de uma feira para exposição e divulgação das riquezas da nossa terra

Por Ivan Roberto Peroni

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Por mais simples que seja, qualquer cidade tem uma festa como característica e o entendimento de ser ela o seu carro promocional. Além do aspecto econômico, as manifestações culturais são expressas através de gestos e atos que representam a identidade social de cada cidade, mostrando hábitos e particularidades dos festejos que ficaram registrados na sua cultura, seja através dos costumes, das religiosidades, músicas ou danças. Esses costumes se espalham e acabam criando festas e feiras, tornando alegres os movimentos. A Facira se enquadra neste perfil.

Dizer que a Facira é um evento excepcional e que causa enorme impacto dentro da nossa economia, não seria a expressão da verdade. Longe de a compararmos aos eventos tradicionais em vários pontos do nosso Estado, cada um deles direcionado na maioria das vezes às suas pontencialidades econômicas, a Facira tem uma característica própria, de juntar várias tendências – comércio, indústria, serviços, artes, lazer e entrenimento – sem contudo definir o que realmente quer mostrar. Não segue os padrões de uma Festa do Morango, Festa do Vinho Agrishow, mas aquilo que a Facira está se propondo a fazer tem procurado realizar da melhor maneira possível.

Sem foco ela faz o que na linguagem popular seria um “prato sortido”, tipo de mistura que agrada, mas longe de ser uma exposição ou feira tipicamente comercial. Poderia ser uma cidade destinada a organizar a Festa da Laranja ou da Cana que são suas duas culturas de ponta e pilares da economia. No entanto, em uma delas, Festa da Cana – a cidade acabou perdendo o bonde da história, já que feita uma única vez em 1970 no Gigantão, sucumbiu diante da ausência do comércio e da indústria diversificada, excluídos da festa destinada somente à cana e derivados. Com a chegada do etanol tempos depois e a evolução dos insumos, produtos e implementos agrícolas agregados a tecnologia, poderia ser hoje o nosso carro-chefe promocional.

Município que se preza tem que mostrar suas riquezas, aliadas a tradição das festas populares. Se não dá para ser Frank Sinatra que sejamos Waldik Soriano, mas que sejamos acima de tudo idealistas, pois há que se dar espaço em um único lugar a exposição dos valores da terra. Neste particular o prefeito Edinho, auxiliado pelo seu vice Damiano tem méritos indiscutíveis pois resgatam o que havia sido sepultado na administração anterior. Mas, não será novidade se um próximo prefeito – sepulte novamente a Facira, ou tenha outro entendimento e mude o perfil, tornando-a – exposição de um segmento só, fixando a imagem econômica como razão de tanto investimento.

Da primeira feira em 1970 a 2019 são quase 50 anos e o resgate do evento em meio ao desastre econômico que vivemos merece elogios pois alguns costumes vivenciados no passado estão desaparecendo por causa da urbanização, como as festas de antigamente que eram realizadas com frequência nas fazendas, nas praças, com fogueiras e elevação dos Santos. Tudo foi se desmanchando com o tempo, deixando de ser algo natural, espontâneo, para se tornar algo institucional e comercial.

Araraquara que agora quer recriar a Facira precisa saber que também aprendeu a promover o desmanche das suas tradições. O próprio coreto na Praça Pedro de Toledo – local das Serestas a Caminho do Sol, no aniversário da cidade, acabou se transformando em “Minha Casa Minha Vida”, abrigando moradores de rua.

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