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Sem radicalismos

Por Luís Carlos Bedran

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Mais um pouco e já entraremos em 2020, quando então realizar-se-ão as eleições municipais de outubro e que servirão de base para as presidenciais de 2022.

Em 2013 iniciou-se no País um movimento que tomou conta de grande parte da população, resultante de uma profunda insatisfação contra o establishment da época e cujas consequências repercutiram tanto, que resultou na aparentemente improvável eleição do presidente da República, pois ele conseguiu captar aquele descontentamento utilizando-se da rede social e da internet.

Não vem ao caso agora recordar as razões disso tudo, mesmo porque o passado não existe mais. A única vantagem que se possa ter em recordar o que já se passou, seria a tentativa de não se recair nos erros graves, dolosos ou não, que as administrações anteriores cometeram e que não foram poucos.

Porém o mais importante é que o País possa conseguir sair da estagnação, de forma que ele possa progredir nos mais vários aspectos — principalmente no econômico —, que nos leve à uma estabilidade aspirada por todos há muito tempo.

Por isso não deixa de ser triste quando se vê que muitos dos nossos talentosos e esperançosos jovens vão para o exterior, atraídos por melhores oportunidades que aqui não conseguem ter, na contramão daquilo que os imigrantes nos séculos passados sonharam e que conseguiram vencer e progredir com muito sacrifício. Um exemplo que deveria ser seguido: aqui ficar e aqui lutar.

Não é fácil conseguir esse intento, pelo menos nos próximos dois anos, pois um crédito de confiança da maioria ainda permanece. Há acertos, mas também há erros. Torcemos para que estes não subsistam, porque vivemos neste país que sempre foi considerado o do futuro, como disse certa vez o escritor Stefan Zweig em obra do mesmo nome, aquele austríaco que fugiu do nazismo e que acabou por se suicidar no Brasil.

Mas o mais preocupante que tem sido observado no panorama político, é um aumento perigoso de disputas ideológicas, exacerbadas pela rede social, a parecer que existem apenas um partido, mas dividido em dois: o da internet. Em que radicalmente ou se é contra ou a favor de uma ideologia e em que não há meio termo.

Pois é na internet que os ânimos se exaltam, onde amigos deixam de o ser, onde familiares não se entendem mais. Tudo por causa de um radicalismo deletério, cujas paixões podem levar a fazer com o país possa ficar ingovernável e a até mesmo ocorrer um cataclismo em que a nossa já tradicional democracia possa fenecer. E é aí que reside o perigo.

Mas, como evitá-lo? Ninguém discute que na democracia deixe de existir uma oposição atuante e combativa. Faz parte do sistema. Porque quem está no poder pode se aproveitar de seus eventuais erros para crescer e das críticas construtivas, porém dentro de saudável disputa. Entretanto, a melhor situação para o País seria encontrar um caminho em que as forças políticas que se enfrentarão em 2022 não partam para radicalismos, nem o da chamada esquerda, muito menos da direita, termos estes bastante discutíveis no mundo atual. O pior é que isso já está acontecendo.

O filósofo Aristóteles dizia que a virtude está no meio. Assim, precisaríamos encontrar forças partidárias que tenham em comum o que seria o melhor para um governo futuro, equilibrado, porque necessariamente precisamos de paz para progredir. Não é fácil, porém não impossível.

O ex-presidente e estadista Fernando Henrique Cardoso pergunta: “Será que estaremos condenados nas próximas eleições presidenciais a votar em polos agarrados a ideologias mofadas? Ou teremos capacidade para unir o centro democrático e progressista para retomar, com a vitória nas urnas, o rumo de grandeza que o País necessita e merece?”. (“Falta rumo”, artigo publicado em 6 de outubro no jornal “O Estado de São Paulo”).

Por isso é que as eleições municipais serão um teste para as presidenciais. Deveremos fazer com que aquelas reflitam o que a maioria queira para o País, mas tendo conhecimento que não é na rede social que a composição poderá ser encontrada, mesmo porque já se prevê não apenas as fakenews que serão a tônica constante, mas também serão muito disseminadas as campanhas de desinformação pela chamada “tropa virtual”.

Essa responsabilidade, essa ponderação, o do encontro de um equilíbrio, dependerá de todos nós, eleitores e eleitoras. Como conseguir isso é que é o problema. Devemos sempre desconfiar daquilo que as redes sociais nos informam. Tudo para que se evitem os radicalismos.

**Luís Carlos Bedran, é sociólogo e cronista da Revista Comércio,Indústria e Agronegócio de Araraquara

** As opiniões expressas em artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores e não coincidem,necessariamente, com as do RCIARARAQUARA.COM.BR