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Tive fome e me destes um fuzil!

Por Walter Miranda

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“Não vos deu Moisés a lei? Contudo, ninguém dentre vós a observa. Por que procurais matar-me? (João 7:19).

Tenho lido e relido a Bíblia e não vi o ensinamento: “Tive fome e me destes um fuzil!”. Vi, sim, “tive fome e me destes de comer” (Mateus 25:35). Bolsonaro disse: “Não compre feijão, compre fuzil!”. Cristão não pode concordar em trocar feijão por fuzil. Cristo não multiplicou armas, mas peixes, pão e vinho. Ele nunca apoiou guerras ou qualquer tipo de violência.

Moisés, um dos mais importantes profetas do judaísmo e do cristianismo, e também reconhecido pelo Islamismo, nos deixou 10 mandamentos. O 5º diz: “Não matarás!”. Está na Bíblia, no Torá e no Alcorão.

O presidente Bolsonaro diz frequentemente que é preciso “armar os homens de bem para se defender dos bandidos”. Quem é homem de bem na ideologia do presidente? Penso que homem de bem é aquele que respeita o próximo, é trabalhador, honesto, e não expropria o próximo. No sistema capitalista, quase sempre, consideram o homem de bem aquele que tem poder econômico, mesmo que seja corrupto ou corruptor, o que penso ser um equívoco.

Dias desses uma pessoa conhecida, defensor do Bolsonaro, disse: “Eu defendo armar os cidadãos que cumpram as exigências legais”. “Povo armado jamais será escravizado”, completou. No Brasil está cada vez mais difícil identificar quem cumpre as exigências legais, pois nos últimos anos temos visto centenas de ricos e poderosos envolvidos em corrupções.

A expressão “povo armado jamais será escravizado”, é uma falácia dita por alguém que não conhece a realidade social da maioria dos brasileiros. Por quase 400 anos os afrodescendentes foram escravizados por uma elite econômica burguesa, os senhores de escravos fortemente armados. Será que se os escravizados fossem fortemente armados se livrariam da escravidão?

Penso que essa condição continua. Uma boa parte da população presta serviço semelhante à escravidão dos pretos antes de 1888. Será que esses escravos modernos tem condições de comprar uma pistola nacional pelo preço em torno de R$ 7 mil, ou importada pelo preço de até R$ 18 mil, ou um fuzil que custa R$ 20 mil, para sair da escravidão social e econômica?

Na madrugada do dia 24 de novembro de 2020, por volta das 01:30hs da madrugada, a cidade de Araraquara entrou em pânico com a invasão de uma quadrilha fortemente armada. Durante três horas aproximadamente 30 pessoas assaltaram as principais agências do Banco do Brasil e Caixa Econômica, levando R$ 13 milhões em dinheiro, e R$ 4 milhões em joias.

No último dia 30 de agosto deste ano, assalto semelhante ocorreu na cidade de Araçatuba. No intenso tiroteio de fuzis AK47 e AR15. Não entendo como o presidente Bolsonaro, e seus seguidores, diante da violência que cresce cada vez mais no Brasil, parte em decorrência da miséria que se aprofunda no seu governo, continua desejando armar a população.

O Japão tem uma das menores taxas do mundo de crimes cometidos com armas de fogo. A tolerância zero às armas contribuiu para o Japão ser um dos países mais armados do mundo.

A Polícia Federal brasileira apreendeu mais de cinco mil armas de fogo e munições no ano de 2020, incluindo fuzis, pistolas e carregadores sem documentações legais. O Brasil faz fronteira com 11 países por onde entram as mercadorias. Os campeões são: Argentina, Paraguai, Bolívia, Colômbia, e a fronteira com o Suriname.

Não se compra um Fuzil AK47, ou uma boa Pistola importada na OLX. A maioria das compras são contrabandeadas, e boa parte vai para o crime organizado.

Não consigo entender como quem se diz cristão, e tem a obrigação de conhecer a palavra de Deus, insiste em municiar a população com armamentos violentos como Fuzis AR15 e AK47, este último capaz de derrubar um helicóptero.

Fazem tudo totalmente ao contrário do que Jesus Cristo nos ensinou, começando pelo principal ensinamento que é amar, e não armar, o próximo.

(*) Walter Miranda é presidente do Sindifisco-Nacional/Delegacia Sindical de Araraquara, direto do SINSPREV-Sindicato dos Trabalhadores nos Serviços Públicos de Saúde, Previdência e Assistência Social do Estado de São Paulo, e militante da CSP Conlutas – Central Sindical e Popular.

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