A Organização das Nações Unidas (ONU) e a Rede Internacional de Prevenção à Violência à Pessoa Idosa elegeram o dia 15 de junho como o Dia Mundial de Conscientização da Violência Contra a Pessoa Idosa. É uma data simbólica que objetiva conscientizar a sociedade de que os idosos têm direitos e que todo ato de violência deve ser repudiado, denunciado e punido.
O envelhecimento é uma das maiores conquistas da humanidade no século XX. De acordo com a ONU, a população idosa com mais de 65 anos já superou o número de crianças com menos de 5 anos, e em 2050 uma em cada seis pessoas terá mais de 65 anos, cerca de 16% da população total. Em 2019 o Brasil atingiu de 29 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, o que correspondendo a 13,8% da população total, com tendência de aumento expressivo para as próximas décadas, segundo estimativas do IBGE.
O envelhecimento populacional tem sido possível graças a conjunção de diversos fatores que ampliaram a expectativa de vida das pessoas e hoje ganha destaque nas agendas acadêmicas e de políticas públicas. Mas infelizmente o preconceito e discriminação por idade também emergiram como temas importantes.
No Brasil é evidente a discriminação e estereótipos em relação aos idosos. Abandono, abuso, omissão, negligência, maus-tratos, desprezo, preconceito e violência dos mais diferentes tipos (física, psicológica, social, verbal, financeira, sexual) são expressões de um fenômeno complexo e multifacetado de difícil controle e que expressa um grande atraso da sociedade no trato das pessoas idosas. A International Network for the Prevention of Elder Abuse (INPEA) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) definem a violência contra a pessoa idosa como “qualquer ato, único ou repetitivo, ou omissão, que ocorra em qualquer relação supostamente de confiança, que cause dano ou incômodo à pessoa idosa.”
O ageismo ou idadismo são expressões que representam este processo discriminatório que cria estereótipos e alimenta o preconceito contra a pessoa idosa. Ele está enraizado em comportamentos e na mentalidade dos indivíduos, e explicam os altos índices de violência sofrida por esta parcela da população.
A face mais terrível desse fenômeno é o fato de que a maioria dos agressores são membros da própria família, tendo em vista que quase 80% da violência contra idosos acontecem no ambiente doméstico. A questão se agrava na medida em que o laço emocional familiar, o medo e as dificuldades de acesso aos canais de denúncia, faz com que ocorra uma subnotificação desse crime bárbaro.
Os dados mais recentes do Disque 100 informam que em 2018 foram registradas no Brasil 37.454 denúncias de violações contra a pessoa idosa, um aumento de 13% em relação ao ano anterior. Já os dados do DATASUS revelam que no mesmo ano 2.307 idosos vieram a óbito em decorrência de agressões, 239 só no Estado de São Paulo, enquanto Araraquara registrou 4 óbitos por agressões, 3 por lesões autoprovocadas intencionalmente, 2 por fatos indeterminados e 15 por quedas.
Infelizmente, a rotina imposta pela pandemia da Covid-19 tem ampliado a violência contra as pessoas idosas. O fato de fazerem parte do grupo mais vulnerável à Covid-19, que pode levá-los a morte, já provoca uma sensação de medo, insegurança e solidão. Este sentimento tende a ser agravado com o crescimento do preconceito que tem se manifestado na forma de memes, tuites e áudios preconceituosos que circulam nas redes sociais. Ainda que possa ser inconsciente, essa prática tem um custo emocional elevado e gera mais preconceitos e constrangimentos.
Acolher e cuidar com respeito e empatia a pessoa idosa é um dever da família, da sociedade e do Estado, conforme declara a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto do Idoso. É preciso cobrar do Estado o compromisso do cuidado com o idoso, garantindo o acesso a uma rede integral de serviços de acordo com as suas distintas necessidades e que promova ações e políticas planejadas para resguardar seus direitos sociais. Mas, é preciso ajudar a sociedade a superar seu olhar preconceituoso sobre a velhice, pois a indiferença, o silêncio e a omissão causam vítimas e cerceiam direitos.
A conscientização pode começar com ações no campo educativo, do ensino fundamental à universidade, com o objetivo de criar em todas as idades a conscientização sobre o problema da violência e uma ampliação da valorização do envelhecer. É necessário criar um ambiente de inteligência intergeracional em que o envelhecer seja aceito como um ciclo natural da vida e onde atitudes antienvelhecimento sejam abolidas.
Envelhecer já é uma oportunidade para a maioria, mas envelhecer dignamente ainda é um privilégio de poucos e negado a muitos pela supressão de direitos, pelo silêncio e a omissão.
Matéria escrita por:
Departamento de Economia/UNESP/Araraquara
Tutora do PET Economia e Coordenadora do Projeto de Extensão “ENVELHECER EM ARARAQUARA: os desafios da política pública para a efetivação da cidadania na terceira idade”
Graduando do Curso de Ciência Econômicas da UNESP/Araraquara
Membro do grupo PET Economia