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Funcionário do Daae denuncia furtos e má gestão

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Há quase dez anos trabalhando no Departamento Autônomo de Água e Esgoto, funcionário que prefere não se identificar por receio de represálias, entrou em contato com o Portal RCIA, para denunciar furtos e má gestão que acontecem dentro e fora do departamento, pois segundo ele o que tem visto nos últimos anos fere seus princípios.

Ele explica que muitas coisas que acontecem na autarquia são maquiadas, a população não sabe o que realmente ocorre, e que caso funcionários não sejam condizentes com o que a diretoria exige, são perseguidos. Diz ainda que já ouviram da superintendência que existe um núcleo dentro do Daae que joga contra o prefeito quando não cumprem exatamente as ordens, mesmo os funcionários sabendo que a ordem acarretará prejuízo para a autarquia.

“Não é possível uma empresa que está sozinha no mercado de água, chegar ao ponto que chegou, esse é meu grito de socorro antes que todos nós percamos o emprego devido à má gestão”.

DENÚNCIAS

Quando começaram as obras na lagoa de tratamento de esgoto na ETE há quatro anos, foram trocados aeradores e cabos. Esses cabos de cobre foram catalogados, etiquetados e acomodados em uma sala, para posteriormente ir a leilão. Há dois anos, houve uma decisão de se retirar esses cabos de onde estavam guardados e os colocaram na área externa. Segundo o denunciante, os funcionários sabiam que o furto seria óbvio, e em três meses aos poucos, os dois quilômetros de cabos de cobre desapareceram do pátio.

Vale ressaltar que os cabos retirados não possuíam o valor real devido a depreciação e seriam vendidos como sucata. No montante havia cabos PP 3 vias de 25mm que custa R$43,00 o metro e 35mm que custa R$53,11. Assim chegamos nesses valores: 600m de cabo PP 3x25mm = R$25.800,00 e 1,4km ou 1400m de cabo PP 3x35mm = R$74.354,00 – totalizando R$ 100.154,00 de prejuízo.

Cabos furtados na Elevatória de Esgoto Bandeirantes

Ainda segundo denúncia, a diretoria da autarquia tinha pleno conhecimento de que os cabos de cobre estavam sumindo e nenhuma atitude foi tomada. “Foi aberta uma sindicância interna, mas não houve prosseguimento, pois a ordem para a retirada dos cabos teria partido de um funcionário de confiança, segundo conversas de bastidores nem apurado foi” – afirma ele.

No início de 2019, novamente começou a sumir pedaços de cabos, afirma o denunciante, retiravam às vezes três ou seis metros, novamente retirando aos poucos. Constatado pela diretoria o sumiço, foram colocadas câmeras escondidas para flagrar o possível gatuno. Dois funcionários foram afastados diante das imagens capturadas.

O funcionário da autarquia explica que muitos poços são furtados, pois não possuem câmeras e nem vigias, apenas os poços vitais tem segurança, visto que se pararem não haverá fornecimento de água na cidade. Segundo ele, o sistema de câmeras foi desativado no inicio da gestão Edinho Silva.

Cabos furtados no Posto do Santana no ultimo dia 28 de junho

Sem segurança o poço do Santana, por exemplo, foi roubado no dia 28 de junho, de onde retiraram 60m de cabo PP 3x150mm (3 vias de 150 milímetros), que custa R$ 230 por metro, totalizando R$13.800.

Na denúncia também constam vídeos e fotos de esgoto que são jogados diretamente no rio do Ouro nos casos de roubo de fios na Elevatória de Esgoto Bandeirantes. Segundo ele só este ano o local foi furtado por cinco vezes, e nem sempre os cabos subtraídos são recolocados de imediato, ou seja, dias e dias o esgoto jorrando direto no córrego. Quando uma elevatória está parada, ela transborda e o esgoto procura o córrego mais próximo.

Esgoto que corre a céu aberto após furto dos cabos na Elevatória Bandeirantes

A relação de cabos usados na Elevatória de esgoto furtados por cinco vezes somam R$ 8.890,65, na maior parte dos roubos foi efetuado o boletim de ocorrência.

Outra denúncia chega em torno da retirada do lodo acumulado nas lagoas de sedimentação da Estação de Tratamento de Esgotos (ETE), que foi anunciada pela autarquia na semana passada. Segundo nota do Daae a alternativa adotada para a remoção desses resíduos das lagoas de sedimentação será feita por sucção de dragagem.

Segundo denunciante é quase impossível dragar o lodo sedimentado na lagoa da ETE

O funcionário afirma que o método é paliativo e seria quase impossível dragar todo o volume de sedimentos, pois cada lagoa tem seis metros de profundidade e o serviço não será concluído com dragas por menos de quatro anos.

“O ideal seria desviar todo o esgoto para um dos conjuntos de lagoas e tirar o lodo de sedimentação por carregadeira e caminhões. Arrumar ainda, um local adequado para tratamento aos poucos e com muito critério. Com um conjunto de lagoas limpas, faria no outro conjunto, pois o que pretendem fazer já foi feito e não deu conta, mesmo trabalhando 24 horas por dia e com equipe contratada. Vai demandar muito dinheiro e só vão perder tempo” – afirmou ele.

Segundo o Daae a ETE apresentou índices de remoção de DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio) superiores a 80%. Ao longo dos 20 anos de funcionamento, o acúmulo do lodo comprometeu a eficiência do tratamento que, atualmente, está removendo, cerca de 70% de DBO. Segundo o funcionário estes dados estão mascarados “dos 70% de DBO que eles afirmam, não chega sequer a 25%, sem contar que os aeradores vão acabar queimando devido ao serviço mal feito”.

Segundo denuncia a represa das Cruzes continua assoreada, mesmo após a empresa ter investido R$ 700 mil

De acordo com o funcionário o Daae pretende fazer na ETE o mesmo tipo de serviço que fez quando afirmam que o Ribeirão das Cruzes foi desassoriado. “Fizeram o serviço com uma draga flutuante e na realidade teria que ser feito com uma retro escavadeira para que o problema fosse resolvido, caso alguém queira conferir, é só entrar na represa, o máximo que vão molhar é o joelho”- finalizou ele.

O denunciante disse ainda, que estes são apenas alguns dos problemas, e que tem em mãos uma relação que passará aos poucos para que a população tome conhecimento da real situação que se encontra a empresa.

O QUE DIZ O DAAE

O Daae esclarece que foi registrado Boletim de Ocorrência do furto dos cabos (sucata) e aberto processo de sindicância (em andamento) para apuração dos fatos.

O Daae possui contrato com empresa especializada em vigilância presencial, além de sistema de segurança com alarme e câmeras nos principais pontos sob sua responsabilidade. A sede administrativa conta com vigilante 24 horas e 15 câmeras em funcionamento. A autarquia, em conjunto com a Secretaria Municipal de Cooperação dos Assuntos de Segurança Pública, está desenvolvendo um projeto que visa a implantação de sistema de monitoramento 24 horas em todos os seus próprios.

No caso da Estação Elevatória de Esgoto da Bandeirantes, foi instalado sistema de alarme, monitoramento por câmeras e cerca elétrica, o que tem, até a presente data, inibido novas ocorrências. Quanto ao esgoto, sempre que há paralisação do sistema de bombeamento, independente do motivo, é realizada a limpeza dos tanques com caminhão de sucção. É importante ressaltar que cada tanque é dimensionado para acumular certa quantidade de esgoto, justamente para que não ocorra transbordamento.

A reposição de cabos e fiação é uma ação contínua e rotineira do Daae, visto que, constantemente, ocorre a depreciação dos mesmos, que perdem sua capacidade isolante ao longo do tempo. Esses cabos custam em média R$ 400,00 por metro.

Em todas as ocorrências de furtos e indisciplina/dissidia são registrados boletins junto à polícia, além de instaurado processo de sindicância ou PAD (Processo Administrativo Disciplinar), para que os responsáveis respondam por seus atos, respeitando as disposições legais em cada caso. Desde 2015, por meio de PADs, a autarquia demitiu dois servidores, advertiu um, suspendeu seis e afastou outros três.