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Tadashi Shimosaka: “Estou de volta ao meu paraíso”

Sempre determinado, Tadashi Shimosaka investiu em seus próprios sonhos, tornando-os realidade a partir do instante que viu perder no tempo sua terra natal. A luta no Brasil é motivo de exemplo para todos nós, diz a filha Emília Kassumi, muito orgulhosa.

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Tadashi Shimosaka em meio a uma plantação de chá em Kagoshima

Ao deixar sua terra natal, Iwaki, Estado de Fukushima no Japão, em 14 de dezembro de 1955, saindo pelo Porto de Kobe, Tadashi Shimosaka um jovem com 18 anos, na companhia do seu pai Togorô, sua mãe Yoshie e seus quatro irmãos Tsukasa, Tsuyoshi, Migaku e Manabo e seu primo Seiji, tinham a certeza de buscar prosperidade no Brasil.

O Japão vivia um período difícil de pós guerra, mas a obstinação pelos grandes sonhos conduziu Tadashi a aplicar seu primeiro investimento na mudança de vida, para muitos, o primeiro passo de um ato de coragem para viver um mundo novo, sem saber se o Brasil naquele momento era uma escolha de êxito.

Relação de amizade e negócios que ultrapassaram fronteiras (Brasil e Japão); Tadashi Shimosaka e Tadashi Sekine

Formado em técnico agrícola no Japão e compreendendo que no seu país havia pouca terra para se trabalhar, Tadashi queria mais, assim sua vinda para cá seria sozinho. Como sua mãe tinha vivido muito tempo distante do marido, militar e devido a segunda guerra mundial não se permitia a ter mais uma divisão na família, então unidos vieram todos para o Brasil, totalizando oito membros da família.

Visitando a cafeteria Daikokuya na cidade de Chino no estado de Nagano com Handa-San

Ao chegar ao Brasil pelo Porto de Santos, em 5 de fevereiro de 1956, Tadashi e seus familiares tinham como destino uma fazenda em Jales, final da Estrada de Ferro Araraquarense. Seria uma espécie de adaptação ao processo de aprendizado da cultura brasileira e do trabalho na lavoura.

Em pouco tempo a família arrendou um terreno de aproximadamente noventa hectares, começando a plantar café, amendoim e algodão. Havia também criação de aves e suínos para abate, dividindo as atividades entre todas as famílias, obtendo daquele espaço de chão a fonte de sobrevivência.

Encontro com a Família Handa e donos de cafeterias em Tóquio

Obstinados pela busca dos objetivos, surgiu uma grande oportunidade através do projeto da Expansão do Cerrado, que destinava recursos do capital japonês, direcionado para as famílias japonesas habitarem nos locais em fase inicial de desenvolvimento. Tadashi escolheu ir para a cidade de Carmo do Paranaíba, localizada no interior do Triângulo Mineiro.

Orgulho de saber que Sekine Tadashi (dono Brown Chip em Fukushima), foi um dos responsáveis pela reconstrução da cidade após o Tsunami em 2011

Carismático e com vontade de fazer dar certo seu projeto nesta nova etapa da vida, ele encontrou amigos brasileiros que foram fundamentais no seu caminho, fazendo questão de não esquecer daqueles que de alguma forma proporcionam algum tipo de ajuda, principalmente aqueles que ensinaram a entender a língua portuguesa.

Sua esposa Vitória Shimosaka foi fundamental para que o crescimento da família ocorresse de forma sustentável, e hoje o casal recebe o carinho e a considerável gratidão dos filhos; Flávio Massaro, Emília Kassumi e Osmar Yuitie.

A HISTÓRIA

Shimosaka Tadashi passou a receber os estagiários do Japão, um deles foi Handa Takiyuki que há 42 anos esteve como estagiário na fazenda de café e se encantou pelo trabalho e a cultura cafeeira brasileira. Após alguns anos, outro estagiário, Sekine Tadashi, visitou o Brasil e após passar um período na fazenda, recebeu de presente 20 Kg de café em grãos e a orientação para procurar Handa-San. Há 32 anos juntos fundaram a Cafeteria Brown Chip em Tóquio, e outra há 28 anos, filial em Iwaki (Fukushima) na cidade natal de Tadashi.

Tadashi Shimosaka e Emilia visitando a Cafeteria Brown Chip

Com 82 anos, ele se orgulha em ter sido também o incentivador para que o empreendimento da filha Emília Kassumi e de Cláudio Matsuda obtivessem êxito profissional objetivando sua permanência no Brasil. Esta decisão de incentivar a sua filha surgiu quando a jovem Emília formada em Nutrição e já atuando na área, conheceu Cláudio, engajado na profissão de engenheiro. Eles tinham a intenção de investirem em um negócio próprio.

Na época com um capital restrito para iniciar um empreendimento, eles decidem ir para o Japão. Durante uma conversa de pai para filha, surgiu o aconselhamento que transformaria sua vida. Emília ouviu dois questionamentos: “Filha eu vim do Japão como imigrante e você irá retornar para o meu país como imigrante para trabalhar? Não existe outra possibilidade para que vocês fiquem e empreendam no Brasil?”, ressaltou com orgulho. “Essa foi a terra que eu escolhi para morar e não gostaria que deixassem o Brasil”.

A oportunidade de montar uma perfumaria se fez presente em 1994, iniciando com outro nome durante o período de quatro anos. Emília e Claudio começaram a prosperar e fizeram a aquisição da Perfumaria Cristal, na Rua Nove de Julho. Era um espaço modesto com 3m de entrada e 14m de profundidade onde permaneceram ali por mais três anos. Emília relembra que fora uma fase difícil, pois naquele momento era o período que antecedeu a virada do cruzeiro real para a moeda do real, de uma inflação com alta de juros, pois os produtos mudavam seus preços mais de uma vez ao dia, demonstrando as oscilações e instabilidades do mercado financeiro.

Emília e Cláudio tinham o foco da disciplina de crescimento dos indicadores anualmente e foram batendo suas metas com sucesso, adquirindo o imóvel onde atualmente está instalada a conceituada empresa de cosméticos, a Perfumaria Emy, que completará 25 anos de existência no comércio de Araraquara, em 2019.

Fazendo parte da comemoração, Emília em companhia dos seus pais no mês de outubro, foram ao Japão para visitar os parentes e amigos em uma viagem com um roteiro especial, que foi reviver os passos dados pelos pais onde tudo começou.

Além de observar as novidades da cultura japonesa, visitaram lojas de café em vários locais no Japão, oportunidade de se reunir com os proprietários das cafeterias, unidos pelo amor ao café, mirante Mount Fugi, plantação de arroz, Daikokuria Café, Tókio, DouKyu Kai (encontro de amigos de escola do seu pai dos 7 aos 14 anos).

Sua mãe visitou a irmã Shinohara, fábrica de doces La Collina. Emília visitou seu irmão Flávio Massaro e a esposa, Centro de Imigração Kobe, Templo Nishi Honganji, Castelo de Nagoya, brasileiros que residem em Nagoya Daniela Sanches e Yumi Macedo, Templo Krishima, plantação de chá, lugares onde viveu como estagiária em 1990, Matcha casa de chá verde e no hotel em Fukushima vivenciaram o alerta da chegada de um Taifu (furacão). Na cidade natal de seu pai, visitaram o museu do Tsunami que guarda memórias do passado onde a cidade foi devastada. Visitou também na sua área de atuação uma rede de Salão de Beleza Mori Beauty.

O grande momento aconteceu entre seu pai e os estagiários que foram acolhidos por ele no Brasil, hoje proprietários da Brown Chip Café. Foi uma viagem emocionante e diferente das anteriores vividas pela família, diz Emília.