A chegada do mês de abril, neste também esquisito 2021, traz consigo uma marca peculiar: o centenário da dama do teatro brasileiro: Cacilda Becker Iaconis, ou apenas Cacilda Becker, que veio ao mundo no dia 06 do citado mês, em 1921.
Vítima de um derrame aos 48 anos idade, a primeira atriz profissional do Brasil, natural de Pirassununga/SP e com estudos e carreira na capital carioca, deixou um legado imensurável para a cena cultural brasileira, com aproximadamente 70 espetáculos no currículo.
A vida de Cacilca Becker já foi assunto no cinema e televisão, como na minisérie “Um Só Coração” (2004) e no filme “Brasília 18%” (2006). Também invadiu o teatro, com o espetáculo Cacilda!, escrito pelo diretor e dramaturgo araraquarense Zé Celso Martinez Corrêa.
Dividido em quarto capítulos, o primeiro deles foi em 1998 e o segundo em 2009. Neles, Cacilda foi interpretada por Bete Coelho e Leona Cavalli, respectivamente. Em 2013, a peça ganhou a sua parte 3: Cacilda!!! Glória no TBC. Na ocasião, a protagonista foi interpretada pelas atrizes Camila Mota e Sylvia Prado.
No mesmo ano, a montagem fez uma pequena turnê pelo interior, aterrisando em Araraquara nos dias 3 e 4 de agosto, com sessões de cerca de 5 horas no Ginásio do Sesc da cidade, dentro da programação do extinto Festival de Inverno. Os ingressos esgotaram-se em dias.
PROMESSAS E REALIZAÇÕES
À época, em entrevista exclusiva ao jornalista Matheus Vieira na coxia do espetáculo, Zé Celso disse que a ideia de refazer a montagem vai ao encontro de uma promessa feita no fim da década de 90. Doente, o artista pensou que estava com o vírus da AIDS e que morreria em virtude dele, visto que, àquela época, a doença ainda considerada terminal.
O diagnóstico foi outro: erisipela, uma infeccção cutânea causada por uma bactéria. Logo, passou a pensar no desenvolvimento do projeto. Das quatro peças projetadas, três saíram do papel.
A trama de Cacilda!!! Glória no TBC se passa na década de 1950, época em que São Paulo recebia sua primeira infraestrutura cultural contemporânea, com a Bienal, o MASP, o MAM, o Jockey Club e o Parque do Ibirapuera. Neste contexto, surge o Teatro Brasileiro de Comédia – TBC, assim como o Nick Bar e a Vera Cruz, nos anos áureos que consagraram Cacilda Becker.
“Estreamos em São José dos Campos/SP. E, com o tempo, a peça ganha em ritmo. Ela não cansou nada naquela cidade. As pessoas atuaram conosco na pista quase o tempo todo e acompanharam tudo com um interesse obssessivo. No fim ninguém queria ir embora. O tempo no teatro é muito relativo; às vezes uma peça de uma hora pode parecer durar séculos e uma de cinco passa voando”, relatou Zé Celso.
O artista também relatou que a peça contou com ensaios abertos ao público, num processo de investigação e experimentação. Essa peça está nos dando uma força enorme. Em duas semanas, o Brasil mudou. Tudo mudou, e tudo tem que mudar Iremos levar uma coisa muito nova para o interior e, depois, aqui para São Paulo. Eu estou muito feliz”, finalizou.
(Por Matheus Vieira)