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Cultura conclui restauração de dois túmulos tombados do Cemitério São Bento

Sepulturas de Antônio Placco e Maria Arruda Ramalho portam valores importantes para a preservação do patrimônio cultural da cidade

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O trabalho foi efetuado pela Secretaria Municipal da Cultura. (Foto: Diego Berti Mansano)

O patrimônio tumular ganha visibilidade este mês com a conclusão da restauração de mais duas sepulturas tombadas do Cemitério São Bento: as de Antônio Placco e Maria Arruda Ramalho. O trabalho foi efetuado pela Secretaria Municipal da Cultura, por meio da Coordenadoria de Acervos e Patrimônio Histórico, sendo essas sepulturas indicadas como patrimônio cultural da cidade pelos seus valores histórico e artístico, arquitetônico e afetivo.

De acordo com dossiê do arquiteto Benedito Tadeu de Oliveira, as sepulturas do Cemitério São Bento de Araraquara portam valores que justificam a sua preservação como patrimônio cultural da cidade. A escolha da restauração dos túmulos de Antônio Placco e Maria Arruda Ramalho foi feita após  levantamentos de dados, pesquisas em arquivos e vistoria in loco no cemitério, tendo como base a relação de 11 sepulturas previamente identificadas pelo COMPHAARA (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Arquitetônico, Paleontológico, Etnográfico, Arquivístico, Bibliográfico, Artístico, Paisagístico, Cultural e Ambiental do Município de Araraquara), a partir de sugestões da Câmara Municipal de Vereadores e de personalidades da cidade preocupadas com a preservação da memória e do patrimônio cultural de Araraquara.

Para a secretária municipal da Cultura, Teresa Telarolli, “a entrega para a cidade de mais dois túmulos históricos,  recuperados e preservados, é o resultado de um esforço imenso da Sec. de Cultura, por meio da Coordenadoria de Acervos e Patrimônio,  no sentido de dar prevalência à memória de Araraquara, em suas mais diversas manifestações. “

Vale lembrar que, em 2019, foram restaurados os túmulos de: Antônio Joaquim de Carvalho e Paulo de Cruz; depois, em 2020, as restaurações foram interrompidas devido à pandemia. Agora, com a retomada das obras, os túmulos escolhidos foram os de Antônio Placco e Maria Arruda Ramalho.

O coordenador de Acervos e Patrimônio Histórico, Weber Fonseca, acredita que “o calendário de recuperação das sepulturas será cumprido apesar das turbulências geradas pelo período mais crítico da pandemia. Fica o convite para a população conhecer este patrimônio tumular que já publicamos em nosso Inventário Participativo”. Para conhecer todo este patrimônio, basta acessar o roteiro específico do Inventário Participativo AQA em: bit.ly/AQAroteiro .

Weber conta que os próximos túmulos a serem restaurados, em 2022, serão os de Maria Aparecida e João Gonçalves dos Santos. De acordo com o dossiê: “o neogótico, o ecletismo, o art nouveau e o art déco que se propagaram em diversas edificações de Araraquara a partir do final do século XIX e durante a primeira metade do século XX, estão também presentes em diversas sepulturas do Cemitério São Bento”.

 SEPULTURAS

As sepulturas de Antônio Placco e Maria Arruda Ramalho passaram por situações próximas de deterioração. Segundo o dossiê, as sepulturas sofreram com a sujidade e degradação que provoca a alteração cromática do mármore e presença de crosta negra, além de fissuras, danos, falhas, desgastes e ausências em diversas partes dos jazigos.

Para tanto, o trabalho foi realizado pelo restaurador Diego Berti Mansano, de São José do Rio Pardo, com os serviços da Marmoraria Catita. O trabalho implicou: limpeza e proteção dos materiais de construção, restauração de mármore, recuperação de decorações e inscrições, retirada de pichações, fixação de peças, refazimento de rejuntamentos, reintegração de fissuras e lacunas do mármore, confecção e instalação de pináculos – entre outros.

No jazigo de Antônio Placco também se encontra sua esposa Catharina e, de acordo com os registros do Cemitério São Bento, foram sepultados em 1970. Trata-se de um jazigo de família de imigrantes italianos que teve um papel importante no desenvolvimento de Araraquara.

A sepultura é a de número 9 e está localizada na quadra 3 B, linha 1 da Rua 3, com acesso pela antiga porta principal do cemitério. “O jazigo representa a primeira geração de jazigos do Cemitério São Bento e se destaca pela sua articulação entre volumes horizontal e vertical e tem para a cidade, valores históricos e arquitetônicos”, aponta o dossiê.

Já a sepultura de Maria Arruda Ramalho é identificada com o número 11 e está localizada na quadra 2 A, linha 1 da Avenida 1, com acesso pela antiga porta principal e pode ser considerada também uma das sepulturas mais antigas do cemitério. De acordo com os registros do São Bento, foi sepultada também neste jazigo Elza Dalan.

“Esta sepultura tem técnica construtiva bem elaborada e boa qualidade do material de construção; próprias dos jazigos do século XIX sendo, portanto, um exemplar de sepultura oitocentista do Cemitério São Bento”, detalha o dossiê. O jazigo de Maria Arruda Ramalho tem, na parte superior, decorações e inscrições hoje ilegíveis. Também, possui uma escultura com uma âncora na mão esquerda representando a Virtude Teologal da Esperança. “(…) trata-se de um jazigo que pertence à primeira geração de sepulturas do Cemitério São Bento e, portanto, é um jazigo que tem para a cidade de Araraquara, além do valor histórico; valores artísticos e arquitetônicos”.

 CEMITÉRIO

O dossiê também aponta algumas informações sobre o Cemitério São Bento – um dos oito cemitérios existentes na cidade. O São Bento está localizado na zona urbana, tem 25 quadras e abriga cerca de 11 mil sepulturas, onde foram sepultadas mais de 105 mil pessoas – o número corresponde a quase a metade da população atual de Araraquara.

“É um cemitério oitocentista – foi inaugurado por volta de 1880 – urge portanto preservar sepulturas que identifiquem e testemunhem sua origem e história”, mostra o dossiê.

As diferenças sociais entre pessoas também são observadas, bem como em cemitérios de outras cidades. Assim, “as pessoas de maior poder aquisitivo foram sepultadas no alinhamento das avenidas e ruas ou no entorno da capela, ou seja, a sociedade araraquarense de certa forma projetou no cemitério suas estruturas socioeconômicas”.

O dossiê revela que existe uma relação estreita entre a arquitetura e o urbanismo da cidade com aquelas adotadas no Cemitério de São Bento. “O cemitério foi concebido com um traçado ortogonal, conforme o traçado urbano que deu origem à cidade de Araraquara – cruzamento de vias longitudinais mais largas com ruas transversais mais estreitas formando quadras regulares. Foram utilizados pisos de pedras portuguesas, pedras de arenito rosa e ampla arborização para o seu embelezamento, tanto da cidade como do cemitério”.