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Dia da Mulher – “É preconceito desde o nome da banda até detalhes mais técnicos”, afirma vocalista local de heavy metal

À reportagem do portal RCIA, Kelly Hipólito, líder da Blixten, relata as dificuldades e provações que, normalmente, as mulheres precisam enfrentar para consolidar seus nomes dentro do meio

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Kelly em ação com a Blixten (Foto: Vitor Sanches)

Por Matheus Vieira

“Certeza que dormiu com alguém para chegar aí”. Essa frase dita pela araraquarense Kelly Hipólito, de 27 anos, à nossa reportagem é só mais um daqueles jargões machistas que permeiam o universo feminino nas mais diferentes esferas há muito, mas muito tempo.

Especificamente, no nicho em que Kelly atua (e sonha atuar durante a vida toda), o heavy metal, às barreiras do preconceito também não foram superadas. Vocalista da banda local Blixten, projeto que ela montou aos 13 anos, a pequena grande guerreira, emponderada, de voz forte, tatuagens e roupas de couro, se diz cansada de, como ela mesma adjetiva, “chatices do tipo”.

Com uma pequena fã, no palco. (Foto: Arquivo Pessoal)

“Eu não sei se é algum tipo de medo das meninas ficarem mais famosas que a banda de garagem do cara. Ou se é inveja, talvez. Muitos já falaram pelas minhas costas e, no dia seguinte, passaram a me seguir em todas as redes sociais. Muitas vezes, o preconceito é por você simplesmente não conhecer”, analisa.

Mas, para ela, a vontade de vencer tem que ser, sempre, maior do que qualquer situação negativa. “A gente não pode se abater com gente assim. Esse tipo de discurso sempre vai existir, provavelmente, em menor quantidade, mas sempre vai ter. E a verdade é que sempre vamos calar quem fala demais e não faz nada”, afirma Kelly.

E ela completa. “Se você ficar cinco minutos em uma página de metal e ler os comentários dos caras sobre determinada banda, você se espanta. É preconceito desde o nome da banda até detalhes técnicos, como setup da guitarrista, por exemplo”.

CONTEXTO

Considerando que, por muitas vezes, a mulher precisa provar sua qualidade com mais ênfase que os homens, Kelly se espelha em diversas artistas que venceram todas às críticas, escrevendo sua história na música e influenciando gerações. No meio do rock e heavy metal, podemos citar Lita Ford, Doro Pesch, Joan Jett, Tarja Turunen, Cristina Scabbia, além das bandas nacionais Nervosa e Crypta, entre outras.

“Certa vez, em um show em uma outra cidade, desci cansada do palco e uma menina veio até a mim falando que me achou incrível, que amou o show e que queria fazer a mesma coisa que eu. Aquilo me encheu de alegria e de uma satisfação imensa”, lembra.

A frente de três homens na Blixten, Kelly Hipólito figura, em Araraquara, como uma importante líder para meninas que querem ter uma banda. Em sua avaliação, algumas estão tímidas, tanto dentro, quanto fora do palco, de instrumentistas a redatoras, fotógrafas, entre outras áreas que, de alguma maneira, estão ligadas à música.

“Tem muitas garotas maravilhosas quietas, estudando e que, com certeza, farão muito sucesso. Espero que, esse ano, ou no próximo, eu tenha mais companhia na cena do rock e metal de Araraquara”, vislumbra.

PRODUZINDO

Destaque no Araraquara Rock 2017, a Blixten surgiu quatro anos antes. Lançou o EP Stay Heavy e prepara novo material, consolidando cada vez mais sua proposta musical que mistura o hard rock com o heavy metal sempre com diversos elementos oitentistas.

Deste novo registro, já foi liberada a faixa Powerflow (para ouvir a música, clique aqui). A produção do material é feita pela própria banda. A gravação começaria, efetivamente, em fevereiro, mas, por conta dos cuidados da pandemia, foi adiada.

“Quando tudo ficar mais tranqüilo, iremos nos juntar, novamente, e terminar o que começamos. Ainda faltam mais três ou quatro músicas pra fechar a composição do disco. E Powerflow entrará nessa. Estamos ansiosos”, finaliza Kelly Hipólito que, ao seu lado, conta com JP (bateria), Miguel Arruda (guitarra) e Aron Marmorato (baixo).

Atual formação da Blixten: Aron Marmorato, JP, Miguel Arruda e Kelly Hipólito. (Foto: Jhonatan Ferraz)