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Araraquara 1877. O mundo novo de um jovem sonhador.

Com trechos extraídos do seu livro “Senhores dos Verdes Campos”, publicado em 2018, o jornalista Ivan Roberto Peroni narra a trajetória de um jovem araraquarense chamado Abílio Augusto Corrêa que só e com apenas 21 anos deixou a família e saiu em direção aos lados de Boa Esperança do Sul para conquistar um vasto império em terras e construir sua Fazenda Jangada Brava.

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Cada um imagina a seu modo no vasto campo, o que será o amanhã nas terras descobertas pelo desbravador Abílio Augusto Corrêa

A Fazenda Jangada Brava era um pedaço de chão no meio das matas e às margens do Rio Jacaré. Abílio se encantou com o cheiro da terra úmida, perfume inigualável que bandeava pelos lados de uma flor a cada passo dado por ele no cair da tarde. Era prenúncio da Ave Maria santificada no bolso da camisa em algodão crú e pontuada pela conversa solitária no mundo invisível que acabara de descobrir.

Para trás, ficavam os rastros apontando que mais adiante haveria de fincar raízes  em meio a natureza plantada no adocicado anoitecer. Cada pássaro que ouvia o tilintar do facão abrindo brecha no capim viçoso, soltava um canto de boas vindas ao menino audacioso.

Abílio agora parado diante da estrela guia que o mergulhara na noite, rabisca em sonho na terra avermelhada os pontos cardeais que lhe darão acesso ao destino de sempre estar numa Jangada Brava.

Ardentes aspirações no mundo dos negócios tomavam conta de Abílio, a partir de 1877

A HISTÓRIA DE ABÍLIO

Era 5 de outubro de 1877, uma sexta-feira, a lua pularia de quarto minguante para nova; naquele dia o sol nem bem aparecera e um jovem que acabara de completar 21 anos, agora emancipado, apanha um embornal, espécie de sacola confeccionada em tecido grosso, com alças laterais, usada à tira-colo, e parte quase sem rumo em direção a São Sebastião da Boa Esperança, atualmente Boa Esperança do Sul.

Sozinho percorreu cerca de 30 a 40 km aproximadamente, abrindo picadas, superando obstáculos, inclusive o desconhecido Rio Jacaré-Guassú, até chegar uma semana depois, 12 de outubro, num lugar que ele chamou de “Jangada Brava”, pela existência em grande quantidade dessa espécie de árvore nativa, demonstrando que aquela terra era padrão de qualidade.

Abílio Augusto Corrêa levava na bagagem algumas das características que ficaram marcadas em uma vida de 77 anos, o tempo que ele durou: irriquieto, corajoso, novidadeiro, audacioso, dinâmico, imaginoso, incansável, independente e inquebrantável, definições que lhe foram dadas pelo escritor Orôncio Vaz de Arruda Filho, em 1973, quando foi feito um relato da trajetória da família.

O carro puxado por 10 juntas de bois, medindo cerca de 35 metros, era utilizado para o transporte do café até Araraquara em 1885

Há quem diga ainda que o nome “Jangada Brava” surgiu logo depois dele retornar de Pirassununga para Araraquara, onde cursava Humanidades no Colégio Meirelles. No caminho teria visto a inscrição de Jangada Brava na porteira de uma fazenda, o que lhe deu motivo para inspiração, história que ele viria a contar mais tarde.

Continuando os estudos, seus pais Rafael Corrêa da Silva e Maria Carolina de Sampaio Corrêa, o encaminharam ao professor Antônio Pio de Camargo Bittencourt, para aulas particulares. O próprio Abílio confidenciaria mais tarde que partir em busca do seu El Dorado era um sonho, pois não poderia ficar atrelado ao trabalho compartilhado pelos irmãos Antônio Pádua Corrêa, Cornélio Corrêa da Silva, Pedro Paulo Corrêa e Carlos Augusto Corrêa, e, dirigido pelo pai Rafael.

Dois ou três dias depois estava Abílio em meio às matas próximas ao Rio Jacaré-Guassú a lembrar com que sonhara: novas terras, velhas matas, nascentes, horizontes, longe, bem distante, muito, muito adiante, talvez, que importa, nos “Quintos dos Infernos”, que era o termo usado no meio daqueles quiçaças.

O COMEÇO DA JANGADA BRAVA

A casa na Fazenda Jangada Brava e ao lado os barracões que para os padrões da época eram considerados silos para armazenamento dos grãos recolhidos, bem como, a guarda dos insumos e implementos agrícolas

Definido o local de ocupação de acordo com a autorização de posse da terra, como uma pessoa bem organizada, tomou todas as providências para iniciar os trabalhos destinados a sua instalação e ao início da colonização de sua propriedade.

Abílio não tinha pensamento escravagista, como nunca manteve em suas terras o trabalho escravo; para iniciar a sua exploração na época contratou imigrantes portugueses com especialidades em colonização, os quais acabaram se fixando como colonos na fazenda. Assim, foi iniciado o trabalho de abertura da área de formação do cafezal, como derrubada, aração rudimentar, formação do viveiro de mudas e o plantio final, o que demandou um período de tempo, enfrentado por Abílio e seus contratados.

Neste momento então estavam todos nos “Quintos dos Infernos”, região assim conhecida pelos parentes e amigos tímidos ou menos aventureiros. Não era a distância que apavorava tanta gente, mas o isolamento ocasionado pelos meios de comunicações, cujo trânsito, só era permitido a cavaleiros. Estes mesmos eram impedidos no período das enchentes, estação que não falhava a inundação do Rio Jacaré, que não raro levava as pontes de arrasto.

A primitiva casa de Abílio Augusto Corrêa e o curral logo à frente

A esta altura, Abílio mergulhara apenas nas terras adquiridas da sesmaria de José Manoel Ferraz, contando com o apoio financeiro do seu pai Rafael.

Distante de Araraquara e da futura esposa Cândida Deometildes de Sampaio Corrêa, ele vinha as vezes para Araraquara contar o que havia feito na Jangada Brava aos seus pais Carolina e Rafael, e, também ao sogro Joaquim de Sampaio Peixoto.

O plantio de sete mil pés de café (o maior número entre os parentes, mesmo os abastados) enchia os olhos de Abílio que agora com 26 anos até pensava formar uma família com Cândida; e foi isso que realmente aconteceu. A casa na Jangada Brava em 1882 estava construída com ajuda dos primos Joaquim Mateus e Andrelino. Curiosamente, naquela época os pais de Cândida, tinham um casal que participava do cotidiano da família; em razão da sua mudança para “o quinto dos infernos”, eles acabaram acompanhando os jovens casados para levar experiência e garantia a comodidade. Como Abílio era primo de Cândida e já freqüentava sua residência, conhecia bem o casal que passou a fazer parte deste relacionamento e daria segurança familiar aos jovens, auxiliando até mesmo no nascimento dos filhos do casal.

Por volta de 1882 a Fazenda Jangada Brava já possuía uma estrutura invejável; eram mais de 10 mil pés de café e o que se via era uma abundância do produto dentro do mercado e consequentemente uma crise da lavoura cafeeira. A superprodução mundial de café e a extinção do braço escravo (1888), foram as causas determinantes da falada crise até que o advento da república em 1889 e paralelamente as modificações cambiais, entrada do braço livre com a imigração aberta, poderoso influxo tomou a lavoura cafeeira.

Após seu casamento e com os recursos que possuía, obtidos das “colheitas de safra” que auxiliavam em sua manutenção e produziam alguns rendimentos, além das criações que mantinha, houve por bem produzir sua primeira colheita de café entre 1884/1885. Tempos depois já eram 10 mil pés de café só possível de serem cuidados com a ida do casal de trabalhadores, sendo a empreitada coroada de completo êxito, pois o pai de Abílio, Rafael Corrêa, rico negociante e investidor, garantia os recursos necessários para desenvolver e concretizar o projeto.

A CHEGADA DA ESTRADA DE FERRO

Em 05/10/1884, a Companhia Paulista de Estradas de Ferro chegava a São Carlos e em 18/01/1885 era inaugurado o prolongamento até Araraquara. Esses dois acontecimentos deram grande impulso ao desenvolvimento da cultura cafeeira graças a liderança de Antonio Carlos de Arruda Botelho, o Conde do Pinhal, nascido na cidade de Piracicaba, em agosto de 1827. A partir desse período é incrementado na região o processo de “exportação” fazendo parte do histórico ciclo econômico do café, transportado da Fazenda Jangada Brava em carro de boi, composto de dez juntas de bois da raça Caracú, segundo seu bisneto Américo Borges.

Porém, os primeiros anos da colheita desse café vão coincidir com a crise econômica provocada pela abundância do produto, extinção da escravatura, queda da Monarquia. Consolidada a República e restauradas suas finanças, advém um período de prosperidade levando Abílio a almejar possuir 100 mil pés de café e acaba conseguindo pois comprando lavouras vizinhas chega na verdade ao total de 140 mil.

Antônio Sampaio com a filha Zilda e Cornélio Augusto Corrêa na Jangada Brava em 1910: convivência com a natureza e o despreendimento em tratar filhotes de jacaré às margens do rio que cortava a propriedade

Os ventos fortes e as chuvas que atingiram a nossa monocultura, conta o escritor Orôncio Vaz de Arruda Filho, não pegaram desprevenido o empreendedor fazendeiro, já então se dedicando com sucesso a outras atividades agrícolas e pastoris. Atravessou a crise sem receios, se atualizando com as notícias em revistas que traziam informações da agricultura, pecuária, avicultura e demais culturas e o jornal O Estado de São Paulo.

Nessa época já existia uma Bolsa de Café “informal”, funcionando legalmente, o que motivou em 1891 o Conde do Pinhal a fundar o primeiro estabelecimento bancário da região com a denominação de Banco União de São Carlos, motivado pelo investimento feito na criação da Casa Comissária Arruda Botelho, em Santos em 1887.

As casas comissárias, nesse momento, recebiam comissões por comercializarem produtos agrícolas nacionais no exterior – nesse período principalmente o café – fornecendo aos fazendeiros tanto créditos em dinheiro, quanto bens de consumo e instrumentos a serem aplicados nas lavouras, tendo como garantia o produto enviado ou a ser enviado no futuro por esses mesmos fazendeiros.

O Banco de Araraquara surgiu em 1º de outubro de 1911, com o capital de Rs. 1.000:000$000, para efetuar toda a espécie de transações bancárias na cidade. Situava-se no Largo Municipal. Eram seus correspondentes, em São Paulo, o London & Brazilian Bank e o Banco Comércio e Indústria. Sua diretoria era composta pelo Major Antonio Joaquim de Carvalho Filho, presidente; João Rodrigues Machado Pedroso, secretário e Bento de Abreu Sampaio Vidal, diretor.

Além desses grandes investimentos, Antonio Carlos fundou também três bancos. Em 1889 ele fundou na cidade de São Paulo o Banco de São Paulo (banco emissor). Já os outros dois foram fundados no interior do Estado, ambos em 1891: o Banco União de São Carlos e o Banco de Piracicaba.

No Banco União de São Carlos, Abílio passou a movimentar o seu capital, por dois motivos: sua mãe Maria Carolina Sampaio, era prima irmã do Conde do Pinhal e seu primo Bento de Abreu Sampaio Vidal fora nomeado gerente da Contabilidade.

Quando o Conde do Pinhal fundou em 1891 o Banco União de São Carlos ele estava com 64 anos, nessa época o correntista Abílio tinha completado 35 anos e entre os primos, Bento era o mais novo.

Também foi neste período, maio de 1894, que foi entregue o ramal ferroviário ligando São Carlos a Ribeirão Bonito, pela Companhia Paulista de Estrada de Ferro, em bitola de um metro. Ainda assim, a produção da Jangada Brava, continuava a ser exportada , utilizando a cidade de Araraquara como ponto de entrega da mercadoria a ser enviada ao Porto de Santos, uma vez que a distância a percorrer entre a fazenda e Ribeirão Bonito era maior que da Jangada até Araraquara. Havia outra questão: o trecho a transitar era desconhecido ao passo que o caminho para Araraquara apesar das dificuldades, se considerava como trajeto de rotina.

Em pé: Cornélio, Horácio, Diva, Ciro Corrêa, Ávia, Jacintho Sampaio e Francisco Miranda; Hermínia (Abílio Neto no colo), Elvira, Cândida, Abílio, Lidya e Silvia. Abaixo os netos: Armando (primeiro presidente do Sindicato Rural de Araraquara), Geny, Guaraciaba, Iracema e Lupércio

Uma das suas preocupações, conta  o bisneto Américo Corrêa Borges (residindo em um condomínio em Araraquara), que ainda hoje guarda a referida balança francesa, era o enorme cuidado com o trabalho de “derriça”  (derrubada dos grãos). Para isso colocava embaixo do pé de café lonas que recebiam os grãos, mantendo-os isolados da umidade do solo e das impurezas que poderiam afetar o produto durante a colheita. A balança, comenta Américo, tornou-se um símbolo familiar e no seu todo representa a perseverança do bisavô desde o seu acesso pelas matas que circundavam o Rio Jacaré ainda na metade do século 19.

Na fiscalização matinal Abílio estava atento para o crescimento do mato: no início a carpa feita utilizava a mão de obra própria, mas com o aumento da área de plantio, ele percebeu que iria aumentar em muito o custo; analisando essa situação importou alguns carneiros, e paralelamente a formação de novos cafezais, ampliou o seu rebanho, que tinha um pastor responsável pelo manejo de roçar os matos; ao mesmo tempo que fornecia carne para a família quando necessário. Essa era uma questão que ele considerava econômica e ao mesmo tempo acelerava a produção.

As irmãs Carlota, Cândida Deometildes, Maria Leopoldina e Francisca Miquelina (de pé); Maria Elisa Sampaio, Ana Josefa e Amélia (sentadas)

Já era 1900. Onze anos antes, 7 de agosto de 1899, a Companhia Douradense iniciou a construção do um ramal ferroviário que ligaria Ribeirão Bonito a Bocaina, passando pelas estações de Sampaio Vidal, Trabiju, Major Novaes, Pedro Alexandrino e Bocaina. Com esse ramal e a inauguração da estação Sampaio Vidal distante uns 11 km de Ribeirão Bonito, em 1904, Abílio passou a utilizar o entreposto criado para exportar a produção, pois a distância a percorrer era  igual até a Araraquara; só que o deslocamento seria mais funcional e rápido.

Em 2 de outubro de 1905, acontece a fundação do Banco de Custeio Rural de Ribeirão Bonito que passa atender os exportadores concentrados nessa região e a movimentação financeira motivada pela produção cafeeira é tão forte que em 1907, Rafael Corrêa, pai de Abílio, após fixar residência em Araraquara, cria a Casa Bancária Corrêa, onde Abílio começa a realizar suas operações.

O ciclo do café se torna tão forte que em 21 de junho de 1910, Abílio passa a ser acionista do Banco de Custeio Rural de Ribeirão Bonito, subscrevendo uma parcela desse capital. Sua imagem de grande exportador de café se alia a fama de pecuarista por possuir rebanho de elite da raça “Caracu”, chamando a atenção do pesquisador Eduardo Contrim, que procurou Abílio para fazer parte do livro “Fazenda Moderna”, publicado em 1913, obra de rara beleza e compêndio analisado e considerado até hoje.

A proximidade com o pesquisador também o tornou um visionário no agronegócio aumentando sua área de plantio do café, ampliando o terreiro e importando uma máquina a vapor para secar grãos. Junto com o seu filho Cornélio assinava presença em várias exposições de animais e aves, incluindo o Parque da Água Branca em São Paulo. Seu relacionamento com produtores brasileiros ganhou enormes proporções e passou a fazer parte de um grupo produtor para abastecer o mundo o mundo e alimentar os aliados durante a primeira guerra mundial.

Casarão da Fazenda São Lourenço, propriedade formada em 1840 por Joaquim Lourenço Corrêa, atrás da Fazenda Salto Grande; a sede passou por alguns processos de reforma, porém, mantém seus traços originais

Em 1913, a circulação da moeda era tão forte que o governo do Estado de São Paulo, criou a Bolsa de Café de Santos para regulamentar o comércio de exportação, com o objetivo de frear a atividade especulativa.

Em 1922, nas comemorações do 1° Centenário de Independência, Abílio recebeu convite com camarote reservado no Teatro Municipal de São Paulo para participar com sua família de todas as festividades relacionadas ao evento. Com essa gramática, mais a prática, aliadas ao empirismo motivado por rara intuição, foi fazendeiro originalíssimo, adiantado de muitos anos aos seus contemporâneos. Mais preocupado em escrever claro que bonito, esquecido e não querendo se lembrar das regras gramaticais, usava em vasta correspondência uma ortografia simplificada. A história diz que Abílio aboliu por conta própria as consoantes dobradas e demais letras que ele mesmo considerava desnecessárias. Escrevia Ana com apenas um n e dizia ser impossível ler diferentemente. Abreviava a palavra que usando somente a letra q e desafiava quem a lesse qüe, e assim por diante. Tais particularidades pareciam ser somente do seu conhecimento.

Cândida não tinha um Abílio apenas comandante cheio de manias. Na hora do lazer era agradável, brincalhão, espirituoso. É verdade que transformava, às vezes, diversão em obrigação. Dançava frequentemente em casa – no inverno, diante da lareira – para fazer exercício. O pitoresco é que dançava as coisas do seu tempo, principalmente polca, shottische e lanceiros, tipo de um fandango vindo do sul do Brasil.

Certo dia perguntaram a ele como aprendera tão bem essas danças. Ele confessou: levava um espelhinho para a roça. Quando ninguém me via, exercitava os pés observando-os no espelho.

O casal valorizava a cultura que não tinha. Mandaram os três filhos para o Colégio São Luis, de Itú, duas filhas para o Colégio Assunção, de Piracicaba e três para o Salesiano, de Araras.

Abílio ao longo da vida viveu exclusivamente para a família e a Jangada Brava, acrescida pelas propriedades Pechincha, Ararivá, Indaiussú, Jatobá, Sertão e Jerivá – totalizando 1.200 alqueires.

Neste momento, a economia abarcava os setores agrário, comercial e financeiro, podendo-se falar em capital cafeeiro urbano-rural, porque este possibilitava o desenvolvimento das funções urbanas. O Banco de Araraquara, por exemplo, era organizado por uma sociedade anônima, tendo por acionistas grandes coronéis da região. Era costume corrente os investimentos em casas bancárias. Todavia, torna-se necessário observar que estes capitais não foram investidos somente em sua área de origem, mas em outras regiões do Estado. Bento de Abreu, por exemplo, possuía propriedades que envolviam negócios diversos em Pirajuí, Guariba, e Marília, conta Cláudia Regina Vargas, na dissertação apresentada à Faculdade de História, Direito e Serviço Social da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de Franca, para a obtenção do título de Mestre em História (Área de Concentração: História e Cultura), em 2000.

Em outra dissertação, feita bem antes, 1967, a historiadora Anna Maria Martinez Corrêa, da USP, cita que: “Compreendendo a importância dos financiamentos bancários aos lavradores tratou o vereador Carlos Batista Magalhães de fundar um banco para servir à região de Araraquara, Rio Preto e Barretos. Com esse objetivo conseguiu a adesão de 41 capitalistas subscrevendo 783 ações. A criação do banco representava a possibilidade da oferta de auxílio financeiro aos lavradores quando estes se encontrassem em situação difícil”.

Cornélio, o quarto filho de Abílio, preparando o animal para montaria em dia de visita à Fazenda Jangada Brava

Era este o mundo em que Abílio estaria envolvido a partir de 1910 até 1920. Familiar pelo apego à Cândida Deometildes de Sampaio Corrêa, com quem se casara em 1882; financeiro pelo envolvimento cada vez maior ao agronegócio e político por conta do irmão Antônio de Pádua Corrêa, eleito vereador em Araraquara.

Apesar de desfrutar desta conceituada posição na cidade ele saía o menos possível do paraíso campestre que soube criar. Mesmo a casa da cidade, que a família frequentava bastante, ele pouco ia e excepcionalmente pernoitou na fazenda. Nas suas vindas para Araraquara, era sempre convencido a entrar para a política motivado pelas amizades que possuia no Partido Republicano.

A Jangada Brava e as outras propriedades impediam essa assiduidade aos movimentos políticos. Prova está que por necessidade de escoar com rapidez a sua safra, em 1927 adquiriu o primeiro caminhão Chevrolet da região para transportar a sua produção. Foi quando fez um acordo com a Prefeitura de Araraquara e Ribeirão Bonito que ficaria a seu cargo a conservação da estrada a qual ele desbravou e manteve em conservação até sua morte em 1933. Após essa data a conservação da estrada continuou sendo feita por seu filho Cornélio Augusto Corrêa até 1937, quando Araraquara e Ribeirão Bonito assumiram de vez a conservação.

Iracema Oliva Corrêa, na direção; Guaraciaba Sampaio, filha de Jacintho Sampaio, sentada. Era 1927 e o Fordinho foi um dos primeiros a ser comprado em Graciano R. Affonso

 COMO TUDO COMEÇOU

Francisca Miquelina Corrêa de Moraes nasceu em Porto Feliz onde se casou com o Comendador Joaquim Lourenço Corrêa, natural da mesma cidade (10/08/1811). Ele residiu em Araraquara na Fazenda São Lourenço (cana) e Fazenda Lageado (pecuária), se transformando em prestigioso político no tempo do império. Era filho do major José Joaquim Corrêa da Rocha e sua filha Ana Josefa Corrêa da Rocha, acabou se casando com o capitão Joaquim de Sampaio Peixoto, vereador na Câmara Municipal de Araraquara  e membro proeminente do partido conservador no período imperial.

Ana Josefa e o capitão Joaquim de Sampaio Peixoto tiveram cinco filhas casadas com cinco irmãos-primos, filhos de Rafael Corrêa  da Silva e Maria Carolina de Sampaio:

Ana Josefa de Sampaio Corrêa casada  Antônio de Pádua Corrêa, vereador à Câmara Municipal no período de 1910 a 1920; Cândida Deometildes de Sampaio Corrêa, casada em 1882 com Abílio Augusto Corrêa; Maria Leopoldina de Sampaio Corrêa casada com Cornélio Corrêa da Silva; Carlota de Sampaio Corrêa (nasceu em Araraquara) casada com Pedro Paulo Corrêa; Maria Elisa de Sampaio Corrêa casada em 1898 com Carlos Augusto Corrêa.

Casa construída por Cornélio em 1927, na Fazenda Jerivá, doada para os oito filhos devido a crise mundial do café. Ele com receio de perder a Jangada Brava já se precavia para ter nova moradia.

Em 1877, Abílio com a ajuda do pai Rafael adquiriu terras que deram origem à Jangada Brava, num total de 1.200 alqueires, as margens do Rio Jacaré. Abílio e Cândida, casados em 1882, tiveram os filhos: Elvira casada com o farmacêutico Lupércio Siqueira (filhos Armando Corrêa Siqueira e Lupércio Corrêa Siqueira); Horácio Corrêa; Lydia Corrêa Sampaio; Cornélio Augusto Corrêa, casado com Hermínia Oliva Corrêa; Ciro Corrêa; Silvia Corrêa; Avia Corrêa e Diva Corrêa

Cornélio Augusto Corrêa, assumiu a Fazenda Jangada Brava quando Abílio faleceu. Quinze dias depois era sepultado o filho Horácio e um ano depois Cândida. Em 1937, ocorreu o falecimento de Cornélio, iniciando-se o inventário da propriedade que foi colocada à venda já em 1940. Casado com Hermínia Olivia Corrêa, Cornélio teve os filhos: Iracema Corrêa, casada com Júlio Teixeira Borges; Geni Corrêa casada com Geraldo Antenor Moreira e Abílio Augusto Corrêa Neto.

PARTE DA JANGADA BRAVA FICOU COMO FAZENDA JERIVÁ

Fazenda Jerivá hoje de propriedade dos herdeiros da Família Corrêa Borges: Antonio Roberto (o Fíico, faleceu recentemente), Sônia Maria, Júlio Antonio, casal Iracema e Júlio, José Cláudio, Maria Cândida e Américo

De todo o conjunto de terras (1.200 alqueires), ficou para testemunhar o trabalho de Abílio, apenas a Fazenda Jerivá com 240 alqueires.

Na divisão entre os filhos de Hermínia e Cornélio estava Iracema casada com Júlio Teixeira Borges, a quem coube 35 alqueires, além de outros 35 alqueires que já haviam sido adquiridos.

Com o falecimento do casal, os filhos Américo, José Cláudio, Maria Cândida, Sônia Maria, Antonio Roberto e Júlio Antônio têm o controle da única propriedade criada por Abílio Augusto Corrêa em 1877.