Em 1901 os imigrantes italianos Domingos Rogante e Joanina Anzelota chegaram ao Brasil e se instalaram em Santa Lúcia, onde foram trabalhar em uma fazenda de café de propriedade de Luís Pinto Ferraz.
O casal fincou raízes, montando então sua família com o nascimento de dez filhos, entre eles Fiorinda Rogante de Godoy, em 26 de junho de 1913. Que completaria em junho – 111 anos.
Após um longo período de trabalho árduo, a família mudou-se para Dobrada, onde a jovem Fiorinda, carinhosamente chamada de Flor, conheceu seu único e verdadeiro amor, Paulo de Godoy.
Não tardou para que os enamorados casassem em 23 de setembro de 1933. Dois anos depois, em 1935 nasceu Aparecida de Godoy, primeira e única filha do casal.
Mas como toda história de amor, Flor sofreu uma abrupta perda, a morte de seu companheiro, amigo e marido, em 1939, com apenas seis anos de felicidade. Anos esses, que fizeram com que Fiorinda tomasse a decisão de nunca mais casar-se.
Com apenas 26 anos e uma filha de três para criar, Flor não se abateu diante do infortúnio, mesmo sem estudo, seguiu sua vida trabalhando como empregada doméstica e lavando roupas para fora, dedicando todo o seu tempo na criação da filha.
Mãe e filha mudaram-se então para Potirendaba, data que Flor não sabia precisar; lá foi contratada para trabalhar como empregada doméstica na fazenda da Família Malveze, até que sua filha já estivesse mocinha.
Com a ajuda de sua família mudou-se para Araraquara, onde logo sua filha Aparecida foi trabalhar na antiga Telesp. Já empregada, Flor e a filha montaram sua casa onde viveram juntas até que em 1959, Aparecida se casou com Arlindo Perruci, conhecido na cidade como “Tabatinga”, sendo ele motorista do ônibus da Ferroviária.
Como a relação mãe e filha sempre foi de muito apego, Flor então passou a morar com casal, onde ajudou a criar os netos Paulo Antonio Perruci e Vera Lúcia Perruci. Enquanto o casal trabalhava a Vó Fiorinda cuidava da casa e dos netos.
Mas não pensem que Flor gostava de dependência, muito pelo contrário, prendada, fazia em crochê toalhas e tapetes para vender e assim ganhar seu dinheiro. Contudo, o tempo é implacável com a idade, e com a perda da visão ela aposentou de certo modo as agulhas.
Em 1989 mãe e filha sofrem novamente uma perda, a morte de Arlindo. Aparecida que nesta época já estava aposentada e com seus filhos casados, seguiu sua vida como sempre foi, ao lado da mãe.
Diante do longo caminho que Flor traçou em sua vida, uma nova etapa dolorida abria-se a sua frente, em 27 de junho de 2017, dia seguinte de seu aniversário, a notícia que ela jamais espera ouvir chegou, sua filha Aparecida, já não seria sua companheira de trajeto, tinha chegado ao final de sua estação.
Embora abalada e muito triste com a morte da filha, acompanhou tudo de perto, mostrando assim a força que a manteve em pé durante todos esses anos.
Desde então, a neta Vera Lúcia a quem a vó cuidou na infância com tanto zelo e carinho, retribui o amor, levando Fiorinda para viver com ela e o marido Airton Roque, além de possibilitar a convivência e carinho dos bisnetos a quem ela tanto amava, recebendo todos os cuidados necessários.
Fiorinda tinha três bisnetos, Gustavo Felício Perruci (filho do Paulo Antonio Perruci e Neide Aparecida Felicio Perruci), e também, André Vitor Roque e Daniela Cristina Roque (filhos de Vera Lucia Perruci Roque e Airton Roque).
E no vigor dos 107 anos, a bela Flor tinha saúde perfeita, lúcida e não tomava nenhum medicamento de controle, às vezes um remedinho para insônia, pois ninguém é de ferro.
Como boa italiana não dispensava uma taça de vinho e um brinde à saúde de todos. De acordo com sua neta, ela alimentava-se muito bem e adorava água de coco, tomava suplementos naturais e vitaminas para manter a boa conservação da saúde física e mental. Para a alma, rezava diariamente, católica fervorosa recebia comunhão em sua casa semanalmente.
Embora Fiorinda tivesse apenas uma filha, a família é grande e em 2015 os sobrinhos Antonio Rosa e José Bonavina, se empenharam para reunir a família Rogante que aqui aportou em 1901. E no Salão de Festas da Nossa Senhora das Graças estiveram presentes quase 200 pessoas para uma missa e um almoço como forma de homenagem a Flor mais antiga da família.
No aniversário de 106 anos em 2019, esta grande festa foi repetida no sítio de um de seus sobrinhos em Pindorama, onde Fiorinda recebeu o carinho de mais de 150 pessoas.
No dia 26 de junho, Flor completaria 111 anos de idade, com muita história para contar. O peso contudo forçou sua despedida nesta segunda-feira (20) e quem pode conviver com ela – Fiorinda (do italiano florida) sabe como ela foi fantástica, carregando as alegrias de uma vida nascida em 1913. Do outro lado da vida, sua chegada será certamente ainda mais bela.
O velório acontecerá das 6h30 às 9h30h na Funerária Micelli e o sepultamento às 10h, no Cemitério da Ressurreição. Aos familiares e amigos os sentimentos do RCIA.
Da redação: matéria orinalmente escrita quando Fiorinda completou 107 anos