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Araraquara dá adeus à sua Flor nesta terça-feira, a mulher mais velha da cidade – 111 anos de vida

Por sinal uma vida inteira de trabalho, amor à família e muita fé, eram características marcantes de Fiorinda Rogante de Godoy que guardava dentro de si as lembranças de um tempo de desafios e principalmente de respeito e amor ao próximo, um dia contadas ao RCIA.

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Fiorinda, atravessou o tempo, pontuando sua alegria de viver

Em 1901 os imigrantes italianos Domingos Rogante e Joanina Anzelota chegaram ao Brasil e se instalaram em Santa Lúcia, onde foram trabalhar em uma fazenda de café de propriedade de Luís Pinto Ferraz.

O casal fincou raízes, montando então sua família com o nascimento de dez filhos, entre eles Fiorinda Rogante de Godoy, em 26 de junho de 1913. Que completaria em junho – 111 anos.

Casamento da filha Aparecida de Godoy com Arlindo Perruci, que foi motorista do ônibus da Ferroviária nos áureos tempos da locomotiva, em 26 de dezembro de 1959

Após um longo período de trabalho árduo, a família mudou-se para Dobrada, onde a jovem Fiorinda, carinhosamente chamada de Flor, conheceu seu único e verdadeiro amor, Paulo de Godoy.

Não tardou para que os enamorados casassem em 23 de setembro de 1933. Dois anos depois, em 1935 nasceu Aparecida de Godoy, primeira e única filha do casal.

Mas como toda história de amor, Flor sofreu uma abrupta perda, a morte de seu companheiro, amigo e marido, em 1939, com apenas seis anos de felicidade. Anos esses, que fizeram com que Fiorinda tomasse a decisão de nunca mais casar-se.

Com apenas 26 anos e uma filha de três para criar, Flor não se abateu diante do infortúnio, mesmo sem estudo, seguiu sua vida trabalhando como empregada doméstica e lavando roupas para fora, dedicando todo o seu tempo na criação da filha.

Esquerda: a filha, o neto com a esposa Neide Felício Perruci e Fiorinda no aniversário de 103 anos. Direita: Fiorinda com seu bisneto Gustavo Felício Perruci

Mãe e filha mudaram-se então para Potirendaba, data que Flor não sabia precisar; lá foi contratada para trabalhar como empregada doméstica na fazenda da Família Malveze, até que sua filha já estivesse mocinha.

Com a ajuda de sua família mudou-se para Araraquara, onde logo sua filha Aparecida foi trabalhar na antiga Telesp. Já empregada, Flor e a filha montaram sua casa onde viveram juntas até que em 1959, Aparecida se casou com Arlindo Perruci, conhecido na cidade como “Tabatinga”, sendo ele motorista do ônibus da Ferroviária.

Pela ordem: a filha e o sobrinho Antonio Rosa; a neta Vera Lucia e seu marido Airton Roque, com quem Fiorinda morava; Dia das Mães e a preocupação da família em manter o uso obrigatório das máscaras, durante a pandemia; sobrinhos Nenê e Estela Bombarda

Como a relação mãe e filha sempre foi de muito apego, Flor então passou a morar com casal, onde ajudou a criar os netos Paulo Antonio Perruci e Vera Lúcia Perruci. Enquanto o casal trabalhava a Vó Fiorinda cuidava da casa e dos netos.

Mas não pensem que Flor gostava de dependência, muito pelo contrário, prendada, fazia em crochê toalhas e tapetes para vender e assim ganhar seu dinheiro. Contudo, o tempo é implacável com a idade, e com a perda da visão ela aposentou de certo modo as agulhas.

Da esquerda para a direita: a filha, netos e bisnetos; Missa em ação de graças pela família Rogante e comemoração dos 106 anos de Fiorinda em Pindorama 2019; seus sobrinhos Zézinho Bonavina, Maria e Ninim Bonavina; Sobrinhos representando todo carinho que Fiorinda recebeu durante a festa dos seus 106 anos

Em 1989 mãe e filha sofrem novamente uma perda, a morte de Arlindo. Aparecida que nesta época já estava aposentada e com seus filhos casados, seguiu sua vida como sempre foi, ao lado da mãe.

Diante do longo caminho que Flor traçou em sua vida, uma nova etapa dolorida abria-se a sua frente, em 27 de junho de 2017, dia seguinte de seu aniversário, a notícia que ela jamais espera ouvir chegou, sua filha Aparecida, já não seria sua companheira de trajeto, tinha chegado ao final de sua estação.

Fiorinda com seus bisnetos André Vítor Roque e Daniela Cristina Roque; Fiorinda e seus netos Paulo Antonio Perruci e Vera Lucia Perruci Roque

Embora abalada e muito triste com a morte da filha, acompanhou tudo de perto, mostrando assim a força que a manteve em pé durante todos esses anos.

Desde então, a neta Vera Lúcia a quem a vó cuidou na infância com tanto zelo e carinho, retribui o amor, levando Fiorinda para viver com ela e o marido Airton Roque, além de possibilitar a convivência e carinho dos bisnetos a quem ela tanto amava, recebendo todos os cuidados necessários.

Fiorinda tinha três bisnetos, Gustavo Felício Perruci (filho do Paulo Antonio Perruci e Neide Aparecida Felicio Perruci), e também, André Vitor Roque e Daniela Cristina Roque (filhos de Vera Lucia Perruci Roque e Airton Roque).

Relembrando atividade que se dedicou durante muitos anos, o crochê; recebendo comunhão em casa com D. Normélia

E no vigor dos 107 anos, a bela Flor tinha saúde perfeita, lúcida e não tomava nenhum medicamento de controle, às vezes um remedinho para insônia, pois ninguém é de ferro.

Como boa italiana não dispensava uma taça de vinho e um brinde à saúde de todos. De acordo com sua neta, ela alimentava-se muito bem e adorava água de coco, tomava suplementos naturais e vitaminas para manter a boa conservação da saúde física e mental. Para a alma, rezava diariamente, católica fervorosa recebia comunhão em sua casa semanalmente.

Fiorinda e sua filha única Aparecida de Godoy Perruci. À direita, a aniversariante em foto que marcou 107 anos de idade.

Embora Fiorinda tivesse apenas uma filha, a família é grande e em 2015 os sobrinhos Antonio Rosa e José Bonavina, se empenharam para reunir a família Rogante que aqui aportou em 1901. E no Salão de Festas da Nossa Senhora das Graças estiveram presentes quase 200 pessoas para uma missa e um almoço como forma de homenagem a Flor mais antiga da família.

No aniversário de 106 anos em 2019, esta grande festa foi repetida no sítio de um de seus sobrinhos em Pindorama, onde Fiorinda recebeu o carinho de mais de 150 pessoas.

No dia 26 de junho, Flor completaria 111 anos de idade, com muita história para contar. O peso contudo forçou sua despedida nesta segunda-feira (20) e quem pode conviver com ela – Fiorinda (do italiano florida) sabe como ela foi fantástica, carregando as alegrias de uma vida nascida em 1913. Do outro lado da vida, sua chegada será certamente ainda mais bela.

O velório acontecerá das 6h30 às 9h30h na Funerária Micelli e o sepultamento às 10h, no Cemitério da Ressurreição. Aos familiares e amigos os sentimentos do RCIA.

Da redação: matéria orinalmente escrita quando Fiorinda completou 107 anos