Famílias como Bressan, Macieira, Malavolta, Baroni, André e Paschoal, que moravam logo após a Avenida 36, no sábado à noite, 19 de agosto de 1961, conversavam como seria o dia seguinte. Uma das preocupações era convencer as crianças a permanecerem no barranco que separava as ruas 4 e 5 (Padre Duarte e Voluntários), onde hoje é o Supermercado 14.
Dona Maria, mãe da Rosicler e do Rubeta (mais tarde goleiro da Academia São Geraldo), dizia pra todos: “Pode deixar que cuido dos meninos”. Alerta semelhante foi dado pelo padre Armando durante a missa das seis horas da manhã na Igreja de São Geraldo: “Cuidado com seus filhos, porque esse negócio de corrida de carro é um perigo”.
Ao mesmo tempo, o “seo” Delfino já havia aberto a Padaria 9 de Julho (onde funcionou até pouco tempo atrás a agência do Banco Itaú) e o Laitano ajeitava as caixas de cerveja em sua mercearia, bem em frente ao Jardim Primavera, ajudado pelo Lalo, técnico do time do Bangú, que fazia daquele ponto a sua sede. Ambos estavam convictos de um domingo com muitas vendas.
Do outro lado da praça, o Antero Rodrigues, um dos caciques políticos da cidade, escolhia os pontos para escrever com calma o nome de Mendonça Falcão, presidente da Federação Paulista de Futebol, então candidato a deputado estadual nas eleições previstas para 15 de novembro. Os espaços para propaganda eleitoral eram disputados palmo a palmo por Scamalandré Sobrinho, Queiróz Filho e Porfírio da Paz.
Pouco antes das 8h30, Saturno Gagliardi com o serviço de som na perua Chevrolet recém comprada, começou a correr o trajeto da corrida para anunciar o início da corrida em 30 minutos. Depois, Ennio Rodrigues Caraça também iniciava a transmissão pela Rádio A Voz da Araraquarense, anunciando que entre os participantes da bateria principal – os charutinhos – estariam nomes famosos do automobilismo brasileiro, como Wilson Fittipaldi Jr, Ludovino Perez, José Carlos Pace, Totó Porto, Chiquinho Lameirão, Anísio Campos, Rodolfo Olival Costa e Lian Duarte. Também estão inscritos, disse Ênnio Rodrigues, Luis Pereira Bueno, Luis Fernando Terra Smith, Bird Clemente, Carol Figueiredo, Marinho Camargo, Eduardo Scurachio, Jan Balder e Emerson Fittipaldi.]
Na primeira e segunda baterias participaram os carros de passeio como Belcar Rio (Wemag), Volkswagen, Gordini, Dhauphine, Interlagos e Sinca Chambord. Os circuitos aconteciam em várias cidades do interior para se apurar os campeões em cada categoria no final do ano.
Por mais dois anos, o Circuito Automobilístico de Araraquara foi organizado com grande sucesso, sendo acrescentadas provas de lambretas com corredores que ficaram famosos como Manolo, Gildo Scarpa, Luzia; o kart apareceu em seguida. Essa febre fez surgir em nossa cidade o Automóvel Clube de Araraquara, presidido pelo vereador Mário Ananias. A sede funcionava na chamada Boca do Lixo, proximidades do Terminal de passageiros, hoje Terminal de Integração: era um sobrado com frente para a Avenida São Paulo.
O apoio ao automobilismo continuou enquanto Benedito de Oliveira se manteve no cargo de prefeito. Por questões políticas, Rômulo Lupo deixou de apoiar o Automóvel Clube que aos poucos foi desaparecendo. Outra questão interessante é que após a duplicação da Washington Luís, a partir de 1964, a abertura de outro acesso à cidade pela 36, mudou totalmente o perfil da avenida, tornando-a um dos principais corredores comerciais da cidade.
Mário Ananias também deixou a presidência da entidade em 1964, sendo substituído por José Wellington Pinto e algum tempo depois, Omar de Souza e Silva, o Mazinho, não durando a ACA mais que 8 anos, após entrar em período de inatividade. “O seu fechamento foi muito triste para todos nós”, relembra o advogado Wellington Pinto.
Entre aqueles que acompanharam esse período de festas para a nossa cidade, permanece de forma indelével a lembrança dos grandes nomes do automobilismo brasileiro, como Ermerson Fittipaldi, bicampeão da Fórmula 1 em 1972 e 1974, campeão da CART (Fórmula Indy) em 1989 e bicampeão das 500 milhas de Indianápolis em 1989 e 1993.
Pessoas e fotos marcam de maneira romântica o acesso de Araraquara ao mundo das disputas automobilísticas e isso nos leva a cumprimentar os que contribuíram na construção deste período que haverá de ficar marcado para sempre em nossas memórias. Parabéns Mário Ananias.
GALERIA DE FOTOS QUE MARCARAM CIRCUITO DE RUA, 61 ANOS ATRÁS, ANIVERSÁRIO DE ARARAQUARA.