Na noite da quarta-feira (15), a Câmara inaugurou o ciclo de palestras sobre o “Centenário Paulo Freire”. A atividade online foi conduzida pela vereadora Fabi Virgílio (PT), presidenta da Frente Parlamentar em Defesa da Cultura e da Educação, e contou com a participação da Secretária de Educação – Clélia Mara dos Santos, da Coordenadora Técnica da Educação de Jovens e Adultos – Helena Silva de Oliveira, da Coordenadora do Projeto de Extensão “Tecnologias na Educação de Jovens e Adultos: sentidos e caminhos” da Universidade Federal de São Carlos (UfSCar) – Jarina Rodrigues Fernandes, e de especialistas da educação.
Quem foi Paulo Freire?
Nasceu na cidade de Recife, em Pernambuco, no dia 19 de setembro de 1921. Foi um educador e filósofo brasileiro. É considerado um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado pedagogia crítica. Sua prática didática fundamentava-se na crença de que o educando assimilaria o objeto de estudo fazendo uso de uma prática dialética com a realidade, em contraposição à por ele denominada educação bancária, tecnicista e alienante: o educando criaria sua própria educação, fazendo ele próprio o caminho, e não seguindo um já previamente construído; libertando-se de chavões alienantes, o educando seguiria e criaria o rumo do seu aprendizado. Destacou-se por seu trabalho na área da educação popular, voltada, tanto para a escolarização, como para a formação da consciência política. Foi o brasileiro mais homenageado da história, com pelo menos 35 títulos de Doutor Honoris Causa de universidades da Europa e América; e recebeu diversos galardões como o prêmio da UNESCO de Educação para a Paz em 1986. Em 13 de abril de 2012, foi sancionada a Lei nº 12.612, que declara o educador Paulo Freire Patrono da Educação Brasileira.
Educação popular
A morte precoce do pai fez com que Paulo Freire abandonasse os estudos na infância e, apenas com 14 anos, retornasse à escola. Na vida adulta, ele foi um educador de jovens e adultos. Em uma experiência na cidade de Angicos, no Rio Grande do Norte, em 1963, alfabetizou 300 trabalhadores e, a partir desse contato, pôde pensar em uma pedagogia da comunicação. Nesta, há a prática do diálogo sobre problemas sociais, como a moradia e a fome. Freire entende que a leitura do mundo precede a leitura da palavra e ensina as palavras de modo a permitir que o trabalhador tenha consciência do sistema social e econômico em que vive. “O camponês também tem saberes e, por isso, a importância do diálogo entre professor e aluno. A educação bancária, que apenas deposita conteúdos, não ajuda na formação crítica e na prática da liberdade”, explicou Jarina.
Nesse sentido, Helena apresentou dados sobre a Educação de Jovens e Adultos (EJA) em Araraquara. Ela destacou que as diretrizes do EJA são pautadas na formação continuada, na perspectiva de uma educação democrática, por meio do desenvolvimento de práticas pedagógicas que apresentem os direitos humanos, o respeito às diferenças, o reconhecimento da diversidade, além da prática da cidadania com as contribuições de Freire.
A coordenadora ainda reforçou as melhorias executadas, em 2017, no novo prédio de funcionamento do NEJA, com salas de aula, amplo refeitório, biblioteca, sala para direção e vice-direção e espaço livre para os alunos. “Quando a gente fala de Paulo Freire, falamos de valorização e respeito à educação. Eu não posso oferecer nada pela metade. O aluno tem o direito à escolarização, a uma escola de qualidade. Ele não se forma apenas pelo diploma, mas também para exercer seu direito enquanto cidadão”, enfatizou Helena.
Centenário
De acordo com Clélia, os cem anos do educador nos ensinam sobre a importância da educação de jovens e adultos. “O direito à educação é recente na realidade brasileira, mas nós devemos insistir. Esse é um direito inalienável. O universo da educação e da cultura devem estar efetivamente acessíveis de forma equânime. Sem isso dificilmente promoveremos um país solidário, justo, para todos e cada um”, frisou a secretária.
Fabi ainda trouxe reflexões sobre o verbo esperançar à luz do pensamento de Freire. “É preciso ter esperança, do verbo esperançar. Esperançar é construir. Esperançar é não desistir, é levar adiante, é juntar-se com os outros para fazer de outro modo. E é isso que a educação e a cultura fazem na vida das pessoas. Por isso, seguimos na luta e na defesa de uma educação para todos”, ressaltou a vereadora.
Ciclo de debates
O evento é uma parceria da Câmara com a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) campus de Araraquara e com a Universidade Paulista (UNIP) campus de Araraquara, e teve o apoio da Escola do Legislativo da Câmara Municipal de Araraquara, que emitiu certificado para os participantes. Nesta quinta-feira (17), a Câmara realiza nova atividade sobre o centenário de Paulo Freire.
Confira os convidados:
- Teresa Telarolli: graduada em Ciências Sociais pela UNESP, é historiadora e escritora, tendo vários livros publicados. Foi coordenadora de Patrimônio Histórico de Araraquara entre 2005 e 2008. Foi coordenadora da Chácara Sapucaia, que pertence à UNESP de Araraquara, onde foi escrito “Macunaíma”, por Mário de Andrade. Foi presidente da Fundart entre 2019 e 2020, e desde 2017 é secretária municipal de Cultura.
- Roseane Aparecida Araújo: graduada em Pedagogia pela UNESP e mestre em Educação pela UFSCar. Atuou como Gerente da Educação de Jovens e Adultos (EJA) de 2017 a 2020. Atualmente é diretora de escola do município de Araraquara e professora de ensino superior da UNIP – Campus de Araraquara.
- Francisco José Carvalho Mazzeu: graduado em Pedagogia pela UFSCar, mestre em Metodologia do Ensino (1992), doutor em Fundamentos da Educação (1999) e livre-docência em Fundamentos da Alfabetização pela UNESP (2019). É professor adjunto no Departamento de Educação e docente no Programa de Pós-graduação em Educação Escolar da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP – Campus de Araraquara. Tem experiência na área de Educação de Jovens e Adultos, com ênfase na relação entre Trabalho e Educação.
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