A possível venda de mais de uma centena de caças Gripen novos para a Ucrânia levantou questões sobre a capacidade de produção atual da SAAB, que quer expandir seu complexo fabril, incluindo na parceria com a Embraer em São Paulo.
Um pré-acordo para venda de 100 a 150 unidades do JAS-39E/F Gripen NG foi assinado esta semana entre o primeiro-ministro da Suécia, Ulf Kristersson, e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. Caso a venda seja concluída, será a maior encomenda de toda a história da SAAB e um passo importante para o caça Gripen, que fará a linha de frente perante a maior ameaça atual à OTAN: a Rússia sob o comando de Putin.
A SAAB hoje tem duas fábricas que produzem caças Gripen: a de Linköping, onde também se encontra o centro de treinamento para aviadores do Gripen, e a de Gavião Peixoto, anexa à Embraer Defesa & Segurança, no interior do estado de São Paulo.
“Se a Ucrânia assinar o pedido agora, entregaremos o primeiro Gripen E em três anos”, afirmou Micael Johansson, CEO da SAAB, em entrevista à FlightGlobal durante o anúncio governamental entre ucranianos e suecos feito nas instalações da SAAB em Linköping.
Hoje o backlog (pedidos pendentes) do Gripen é de 83 aeronaves, contando os pedidos já assinados e em vigor tanto da Força Aérea Brasileira como da Sueca. Porém, essa lista irá aumentar, já que a Colômbia e a Tailândia já escolheram o JAS-39E/F como seu próximo caça, enquanto o Gripen NG também participa da concorrência no Peru.
“Se os políticos conseguirem o apoio para financiar o contrato da Ucrânia do Gripen E, expandir a produção será importante. Inicialmente, estamos conversando para ter parcerias com países que têm interesse no Gripen, o que significa que precisaremos de outro centro de produção“, afirmou Johansson.
O CEO da SAAB cita que aumentar a capacidade de produção em Linköping pode durar entre um e dois anos para ser concluído, mas que também quer um acréscimo na capacidade da fábrica em parceria com a Embraer no Brasil, citando nominalmente a unidade de Gavião Peixoto, que, por enquanto, apenas fabrica as unidades encomendadas pela FAB e, futuramente, da Colômbia.
Por outro lado, o Brasil tem adotado um tom de “neutralidade” com a Ucrânia, recusando-se a vender os blindados Guarani produzidos pela IVECO (agora Leonardo) em Sete Lagoas (MG) e também negando-se a vender a munição do blindado antiaéreo Gepard. Pelo lado russo, apesar da compra de petróleo e fertilizantes estar de vento em popa, Brasília negou-se a enviar os 12 helicópteros Mil Mi-35M Hind de volta para Moscou, mas também não os enviou para Kyiv, mantendo as aeronaves paradas após a repetida ineficiência russa em manter um suporte adequado ao cliente, no caso, a FAB.
Caso a venda para a Ucrânia avance, o Brasil terá uma grande oportunidade de desenvolver sua indústria de defesa e lucrar com isso, já que só o pedido dos ucranianos é três vezes maior que o da própria FAB, mas será necessário abandonar a aparente neutralidade para colher os frutos dessa parceria.