Home Cidade

Poetas e seresteiros calados no adeus a João Gossaín, o João Turco do bar na Humaitá com 15 de Novembro 

A tristeza bateu forte no Bar do João Turco, que parte nesta segunda, carregando na bagagem o adeus dos clientes que por 60 anos fizeram da esquina da Rua 9 com Avenida 15, o point de uma geração pautada pela qualidade da música e comprometida com o respeito. João Gossain é o personagem na emergente cidade dos anos 60. Ele morreu nesta terça.

142
João Gossaín, o João Turco, símbolo de uma geração

“No começo era uma venda, onde os sitiantes faziam compras na caderneta, com o tempo, a esquina virou um empório e bar, mas até hoje João Turco vendia na caderneta para os mais chegados, e seu arquivo eram fichas caseiras em uma caixa de sapato”.

É desta forma que os amigos definem o comportamento empreendedor de João Gosaín, simplesmente João Turco, personagem do lendário bairro do Carmo, que morreu nesta madrugada de terça-feira (02), contrastando o silêncio da madrugada com a agitação das sextas e sábados, quando os amigos constantes da bebedeira chegavam para recordarem os tempos românticos da cidade.

Vítima de um câncer que o consumiu rapidamente, João Turco – contam as amizades mais chegadas – veio ainda na barriga da mãe do Líbano para o Brasil, tendo os cuidados do avô que se transformou no pai adorado: essa era uma marca que ele carregou por toda a vida, demonstrando a todo instante a gratidão ao avô que já estava no Brasil com sua venda na Rua Humaitá esquina com a Avenida 15 de Novembro.

João Turco no vão da porta parece perguntar para Alfredinho Cefaly e Edson Casault: “Vocês vieram aqui prá beber ou prá conversar”…

Em 1965, com a morte do avô – Joãozinho assumiu o controle do estabelecimento onde fez sua vida e construiu uma família que padronizou o sobrenome “João Turco”; tamanho era o orgulho pelo pai-avô, que ao assumir o bar manteve os traços da arquitetura em gratidão a quem lhe ensinou a andar pela vida: balcão e pisos são os mesmos de quase 90 anos atrás, nunca foram mudados.

“Ah, João! Que triste notícia recebo de longe! Você fez parte da minha infância, quanto sorvete, bala e salgadinhos vc anotou no caderninho!”, exclamou logo cedo Thais Prince Souza, cliente nos tempos de criança, quando soube da morte do João. Isso vale dizer que João foi filho, pai, avô de uma geração que virou adultos para poder brincar: “Seu celular a gente dizia, brincava, que só funcionava à base de querosene”, lembrou o amigo Eduardo Soranzo.

João e a esposa Célia em uma homenagem que lhe foi feita no Sindicato dos Hotéis, Bares e Restaurantes

Amigo que a gente vai carregar no fundo do peito, publicou Alfredinho Cefaly, dono de uma das vozes nas cantigas que às vezes roubava a melancolia do Carmo. “Não basta agora uma antiga televisão na parede mostrando grandes jogos do futebol brasileiro; tal como a música de Jacob do Bandolim – naquela mesa tá faltando ele”.

O prefeito Lapena teve que tomar uma dose de coragem ao receber a informação sobre a morte do João: “Muito triste. João Turco é um ícone, inserido na história de Araraquara. Que Deus o receba de braços abertos. Vai deixar muita saudade.”

Avesso a fotografias e entrevista, João Turco as vezes se escondia da própria sombra, autêntico e matreiro, a ele surgiam frases que o caracterizavam como homem sério e predestinado ao respeito: “João era o anfitrião dos amigos, João tratava a todos como amigo com sua seriedade, mas não se enganem, se precisasse “o coice era a serventia da casa”.

Em abril de 2023, o SinHoRes (Sindicato de Hotéis Restaurantes Bares e Similares de Araraquara) comemorou neste mês de março, 41 anos de fundação e o presidente em exercício na época, Wiliam Molina e o diretor e ex presidente José Carlos Paschoal Cardozo, reuniram alguns associados para festejar a data.

Na oportunidade, o destaque ficou para o casal, Célia e João Gossain do Bar do Turco, o bar mais antigo da cidade, que juntamente com Vicente Michetti e Aparício Dahab (in memoriam) e, mais 70 empresários do setor, fundaram o SinHoRes. Hoje um dos Sindicatos Patronais de maior representatividade do interior do estado de São Paulo BR.

Imagem é o retrato de uma despedida que Araraquara faz ao João, pelos amigos que deixa

Nestes últimos dias em que João Turco adoeceu, o filho Fabinho estava à frente do bar; o outro filho em forma de agradecimento à comunidade agradeceu pelo carinho que todos tinham com o seu pai:

Aos amigos irmãos

Não há o que reclamar: João Turco viveu uma vida sensacional de quase noventa anos, e partiu sem sofrer. Missão cumprida pelo velho João. A Família é grata demais pela amizade de todos vocês, vocês ditaram nossas vidas. Obrigado.

E como todos gostam de música, segue uma frase do compositor Candeia, que resume João Turco: “Pra minha mulher deixo amor e sentimento, para os meus filhos deixo bom exemplo, deixo como herança força de vontade, pois quem semeia amor deixa sempre saudades. Pros meus amigos deixo o meu sorriso, honrei os meus pais e amei meus irmãos. E a lembrança de vcs me faz imortal”. Obrigado de coração a vcs nossos eternos amigos.

E a mensagem de vida que João Turco repetia aos nossos ouvidos, que sirva a todos. “Quando estiver passando pelo Inferno, Não Pare!!!”

Descanse em paz velho guerreiro João Turco. Lutou o bom combate, vendeu caro a derrota, caiu atirando e com honra.”

O velório do “seu João” será nesta quarta-feira (03) Casa Funerária Micelli, das 07h00 às 09h45. O sepultamento dar-se-á no Cemitério São Bento, às 10h00.