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Raízen assina acordo para comprar usinas da Biosev

A Canasol – Araraquara mostra preocupação em relação a crescente concentração de empresas no setor sucroenergético e ressalta a importância dos produtores estarem filiados a uma entidade de classe para que seus interesses ganhem força

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O lucro acumulado da temporada ficou 820,1% acima do registrado em 2019/20

A Raízen, líder mundial em açúcar e etanol decana-de-açúcar, assinou nesta segunda-feira (8) acordo para comprar a Biosev, uma das maiores empresas do setor, em uma transação que envolverá pagamento de 3,6 bilhões de reais e ações, informaram as empresas em fatos relevantes.

Com a integração, a Raízen, uma joint venture da  Cosan (CSAN3) e da Shell, passará a contar com um total de 35 unidades produtoras, totalizando uma capacidade instalada de 105 milhões de toneladas de cana.

Pelo acordo, Cosan e a Shell deverão ficar no futuro com fatias de 48,25% da Raízen, enquanto os acionistas da Biosev, subsidiária da Louis Dreyfus, com os 3,5% restantes.

Segundo a Raízen, o negócio envolve nove unidades da Biosev, com capacidade total de moagem de 32 milhões de toneladas de cana, localizadas em São Paulo (seis), Mato Grosso do Sul (duas) e Minas Gerais (uma), que virão sem qualquer dívida, além de 280 mil hectares de cana.

Com o negócio, a Louis Dreyfus tem a chance de equacionar uma dívida de cerca de 7,6 bilhões de reais (de acordo com suas demonstrações financeiras ao final de 2020 ), que no passado foi causa de vários prejuízos líquidos.

De acordo com pessoas ligadas ao setor, Raízen, uma joint-venture entre a Royal Dutch Shell e a Cosan (CSAN3), está planejando usar um novo empréstimo mais barato e de longo prazo para financiar o pagamento da dívida da Biosev. Tanto a Raízen como a Biosev não quiseram comentar o assunto.

Mais recentemente, com grandes receitas geradas pelos preços do açúcar, a Biosev registrou seu primeiro ganho semestral em sua história, com forte desempenho operacional mais do que compensando as perdas geradas pelo endividamento.

Uma vez concluída a transação, a Biosev vai se tornar uma subsidiária da Raízen e os atuais acionistas da empresa adquirida migrarão para uma holding que receberá uma participação minoritária na companhia sem direito a voto.

Em um primeiro momento, a nova holding que abrigará os acionistas da Biosev, chamada Hédera, terá uma fatia de 4,99% na empresa, sendo que uma parcela de 3,5% é de ações preferenciais e outra de chamadas ações resgatáveis que terão um valor simbólico –definidas apenas para título de pagamento de dividendos por um período, ou até que haja um chamado “evento de liquidez”, como um eventual IPO da Raízen, por exemplo.

Segundo o fato relevante, as ações preferenciais estarão sujeitas a determinadas opções de compra e venda.

Após seis meses contados do sexto, sétimo, oitavo e nono aniversários da data de fechamento do acordo, a Raízen terá uma opção de compra para adquirir as ações preferenciais pelo seu valor de mercado.

Após seis meses contados do nono aniversário da data de fechamento (e após o prazo para o exercício da opção de compra pela companhia no mesmo período), a Hédera terá uma opção de vender sua participação à Raízen, com um desconto de 20% sobre o seu valor de mercado.

Mas, ressaltou o comunicado, todas as opções de compra e venda serão canceladas caso ocorra uma oferta inicial de ações em bolsa de valores.

Já as ações resgatáveis (temporárias) estão sujeitas a determinados critérios estabelecidos no acordo de acionistas e serão obrigatoriamente resgatadas por um valor nominal simbólico.

Isso aconteceria, por exemplo, caso ocorra um evento de liquidez da companhia (como IPO), ou caso a Raízen exerça a opção de compra das ações preferenciais, ou após décimo aniversário da data de fechamento do negócio.

O presidente da Canasol, Luís Henrique Scabello de Oliveira

O Portal RCIA, conversou com o presidente da Associação do Fornecedores de Cana de Araraquara (Canasol), Luís Henrique Scabello de Oliveira, que mostrou preocupação em relação a crescente concentração de empresas no setor sucroenergético.

 “A concentração em grandes grupos de usinas estabelece uma relação desigual no relacionamento com os produtores de cana, especialmente com os pequenos e médios, podendo resultar em práticas oligopolistas. Por outro lado, a fusão em grandes grupos pode resultar em sinergias no processo produtivo e comercial, bem como, solidez econômica e liquidez através do mercado de capitais (ações em bolsa)”, disse.

Luis Henrique ressalta ainda que é muito importante que os produtores estejam filiados a uma entidade de classe para que seus interesses ganhem força ao serem representados coletivamente.

“Felizmente, a representação dos produtores de cana é muito bem organizada através de associações regionais, como a Canasol, a Orplana – que congrega entidades da região centro-sul do Brasil e a Feplana – que é a Federação nacional dos produtores de cana. Através dessa grande estrutura conseguimos manter um diálogo constante e de alto nível com as indústrias, seja localmente, seja nacionalmente”, finaliza o presidente da Canasol.