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Tantas são as vítimas que ela se transformou na Piscina da Morte

Ainda que seja quase impossível impedir o acesso de pessoas ao lago existente na Chácara Flora e onde já morreram dezenas de pessoas, torna-se imprescindível ver o que município tem reservado para o bairro formado por mais de 600 chácaras e a elas o que se destinará com a implantação de um projeto de desenvolvimento sustentável até o ano de 2050. A morte de um jovem de 17 anos por afogamento na represa, neste sábado, volta a colocar o assunto na pauta das discussões.

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Querido pelos amigos Vinicius é mais um que acaba sendo vítima da represa na Flora

Com a morte do jovem Vinicius Esteves Francelino da Silva, 17 anos, neste sábado (28) à tarde, as autoridades de Araraquara talvez venham refletir a partir de agora, qual é de fato importância da represa existente na Chácara Flora para o bairro, que é formado por pequenas propriedades de 2 e 4 mil m², além de outras maiores, por conta das suas agregações ao longo dos anos.

O corpo do jovem foi resgatado pela equipe de salva-vidas do Corpo de Bombeiros em uma operação que durou cerca de uma hora, havendo inicialmente a identificação do local onde ele se afundou. Os colegas do ainda adolescente, é que se prontificaram em auxiliar os bombeiros mostrando o lugar: cerca de três metros antes de se chegar na margem oposta de onde saíram para a travessia.

Além do Corpo de Bombeiros uma equipe do SAMU também foi chamada pelos amigos do jovem; localizado, o corpo já sem vida, foi levado para a UPA Central. E segundo consta residia no Jardim Pinheiros.

A represa que já vem da criação do loteamento no final dos anos 70

A “PISCINA DA MORTE”

A Chácara Flora em Araraquara, surgiu no final dos anos 70, a partir do Selmi Dei, que seria um bairro que poderia ser ocupado por funcionários da antiga Villares/Iesa então em franco desenvolvimento industrial.

Assim, o Selmi Dei, tanto quanto a Chácara Flora, faziam parte de um projeto de desenvolvimento urbano realizado pela Fazenda Três Irmãs, dando origem a vários outros bairros de Araraquara, praticamente toda a região norte. Estima-se que quase 30% de Araraquara ocupam terras que antes faziam parte da fazenda. Na época a cidade era administrada por Waldemar de Santi e o projeto de loteamento teve que passar por aprovação na Câmara Municipal.

De acordo com informações da antiga S.A. Melhoramentos Urbanos de Araraquara (Samua), as terras da fazenda deram origem a 7.726 lotes, em diversos loteamentos: Vila Harmonia 1 e 2, com 1.350 lotes; Jardim Roberto Selmi Dei 1, 2 e 3, com 3.299 lotes; Chácara Flora Araraquara, 605 lotes; Jardim Adalberto Roxo 1 e 2, 2.043 lotes; Jardim Uirapuru 1 e 2, 260 lotes; Jardim Gardênias, 183 lotes; Residencial da Fonte, 29 lotes; Jardim das Magnólias 1 e 2, 153 lotes; Jardim Bouganville, 101 lotes, e Jardim das Acácias, com 279 lotes.

A chegada dos Bombeiros e a busca pelo corpo do jovem neste sábado à tarde

A Samua também chegou a construir mais de 1,5 mil moradias. Somente no Selmi Dei foram 1.028; no Adalberto Roxo, 37; no Jardim Uirapuru, 108; no residencial Parque da Fonte foram 29; no Jardim Uirapuru foram 151; no Jardim Gardênias, 183; no Jardim Imperador, 28, e na Vila Harmonia, 80. Além disso, a Samua também construiu o Conjunto Residencial Parque da Fonte, com 96 apartamentos.

Já na Chácara Flora com mais de 600 lotes de 2 e 4 mil metros quadrados, nos anos 70 já existia a represa que tornou-se referência para a comercialização das áreas. Neste período a sociedade passava a ter uma conscientização mais ampla sobre as questões ambientais.

Passados quase 50 anos a represa se transformou ao longo do tempo em uma piscina frequentada principalmente por jovens que deixavam a cidade e aproveitavam os dias de calor. Notícias sobre pessoas que morriam afogadas eram constantemente manchetes nos jornais, envolvendo adultos e adolescentes, até mesmo crianças.

Cruzes em uma das margens mostram vidas que se foram; ao lado a placa de sinalização

No ano passado uma denúncia de que árvores nativas estariam sendo cortadas para que o asfalto pudesse passar pela Chácara Flora, levou o Portal RCIA até o local para conversar com os integrantes da associação de moradores chamada “Amar Flora”.

Na oportunidade a presidente da entidade Juliana Fernandes Gouveia que tem a sua chácara há 20 anos e atualmente reside nela,  Carmem Lígia Martins de Azevedo que mora há 12 anos e também o vice-presidente Eduardo Oliveira de Souza que mora há 9 anos, relataram que a luta por melhorias nas vias públicas tem sido constante.

Segundo consta, a Câmara Municipal estabeleceu diretrizes para o desenvolvimento sustentável da cidade até o ano de 2050 e a Chácara Flora estaria envolvida neste projeto sobre sua adequação tanto à idéia de sustentabilidade, como também à própria obrigação legal da preservação da biodiversidade de toda área.

Neste momento conter o acesso das pessoas ao lago e evitar mortes é quase impossível dada a extensão da área que cerca a represa. No entanto é importante que a sociedade, principalmente os moradores da Chácara Flora tenham ciência da objetividade do futuro projeto que está reservado ao bairro.

DESPEDIDA

Tantas eram as amizades do jovem Vinicius que as redes sociais receberam além dos sentimentos, as manifestações de carinho e frases de – um até breve amigo. Foi o que aconteceu com o colega Vitor Silva que escreveu: “Eu não tenho palavras para descrever a dor que eu estou sentindo, meu irmãozinho saiba que eu sempre te amei e eu sempre vou te amar. Obrigado por sempre me proteger e de cuidar de mim, e de sempre me dar conselhos quando eu precisava. Não sei como vou fazer sem você aqui pra me socorrer quando eu precisar, enfim maninho vou sentir mto saudade e saiba que você Sempre vai estar cmg guardado em meu peito te amo”.