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Novo salário mínimo é ‘deprimente’, diz professor

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Edmundo Oliveira

Para Edmundo Oliveira, o valor estipulado por Michel Temer faz o brasileiro sub-existir; Para Edmundo Oliveira, o valor estipulado por Michel Temer faz o brasileiro sub-existir; segundo a doméstica Marlene Rocha, o brasileiro ‘precisa se virar para não morrer de fome’.

Assinado pelo presidente Michel Michel Temer (PMDB), o novo salário mínimo está em vigor desde o dia 1ºde janeiro deste ano. Fixado em R$954, o valor teve um aumento de R$ 17. Este é o menor reajuste em 24 anos.

A fórmula de correção leva emconta a variação do Índice Nacionalde Preços ao Consumidor (INPC) do ano anterior (calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE) e o resultadodo Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes.

Como o resultado do PIB de 2016 foi negativo, o reajuste do salário mínimo foi calculado apenas pelo INPC, estimado pelo governoem 1,81%. Esse mecanismo de cálculo foi criado em 2012, aindano governo da então presidente Dilma Rousseff (PT). Ele deve valer até 2019.

Para o araraquarense Edmundo Oliveira, Doutor em Sociologia, Professor da Graduação e Mestrado da Universidade de Araraquara (Uniara), esses números baixos eram esperados, afinal, economia aquecida, reajuste maior, economia fraca, reajuste menor. “Tudo isso é deprimente e tem um custo social enorme. As sequelas são várias, indo do individual, ou seja, o empobrecimento das pessoas que ganham um salário, até o coletivo, que envolve a dinâmica da economia: gente com menos dinheiro acaba se desanimando ainda mais a economia”, analisa.

Dentro desde cenário, o professor aponta uma vantagem, que ele adjetiva como efêmera. “Para o governo e empresários, há uma diminuição com os gastos, mas cria-se assim um círculo vicioso negativo. Injetar dinheiro na economia, aumentando o salário mínimo acima do previsto, pode ser a alavanca para melhorar e criar um círculo virtuoso (positivo)”, avalia.

Se antes com R$ 937 uma pessoa dificilmente sonharia com plano de saúde, viagens com a família, com R$ 17 a mais no orçamento, a situação fica menos complicada? Para Edmundo Oliveira não, pois o número anterior também é baixo.

“Com reajustes cada vez menores, as pessoas começaram a ter ainda mais problemas para sub-existir (escrito assim mesmo). Porém, o alento vem a seguinte questão: nada é para sempre. Em algum momento a economia se reverte. O Brasil vive assim há muito tempo, é o que chamamos de ‘voode galinha’. Sobe e depois desce e assim vai”, encerra o professor com certo humor, mas não deixando uma grande pitada de ironia.

DIA A DIA

Cerca de 45 milhões de pessoas no Brasil recebem o salário mínimo, entre aposentados e pensionistas,cujos benefícios são, ao menos em parte, pagos pelo governo federal. A doméstica araraquarense Marlene Rocha não autorizou uma foto sua para esta reportagem, mas suas mãos com rugas e seu rosto cansado não demonstram que ela tem quase 60 anos.

Semi-analfabeta, ela conseguiu criar, com muito custo, sua filha, Simone, hoje com 15 anos. Desde que a garota veio ao mundo, ela vive com pouco mais de um salário mínimo. “Tenho duas casas fixas que visito semanalmente, mas às vezes consigo alguma faxina para complementar”, revela.

Para ela, esse reajuste não é novidade. “Ninguém consegue acreditar que algum político vai ajudar o brasileiro. Precisamos nos esforçar por nós mesmos. Em casa, nunca faltou comida. Não há gastos extras e tenho sorte que minha filha vai muito bem na escola e vai fazer uma faculdade. Não temos outro jeito senão trabalhar. Se depender de político, morremos de fome”, conta.