O Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares (SinHores) e a Associação Comercial e Industrial de Araraquara (ACIA) protocolaram no Ministério Público de Araraquara um oficio solicitando análise do decreto que restringe drasticamente o horário de funcionamento do setor de “alimentação fora do lar” e pedindo a emissão de parecer favorável à flexibilização de horário de funcionamento de restaurantes, bares, lanchonetes, sorveterias e similares, visando a preservação de empregos e trabalhos formais e informais que são fonte de renda de milhares de famílias de Araraquara que se encontram em situação de enorme vulnerabilidade financeira, social e humana. O documento foi entregue na tarde desta quinta-feira (28/1) e a reunião online com a promotoria foi marcada para a manhã desta sexta-feira (29/1), às 8h.
FECHANDO AS PORTAS
Com estabelecimentos fechados ou com restrição de horário há mais de dez meses, a maioria dos proprietários de bares e restaurantes de Araraquara se endividou e um grande número deles acabou fechando as portas. Segundo Fernando Pacchiarotti, presidente do SinHores de Araraquara, mais da metade dos restaurantes encerraram as atividades definitivamente.
“Você não vai conseguir esse número nos órgãos oficiais, porque muita gente encerrou de fato, mas não encerrou de direito. Ele permanece ativo na junta comercial e no escritório de contabilidade. Ele não deu baixa na papelada porque tem de estar em dia com tributos e dívidas trabalhistas”, disse em entrevista ao jornalista Ivan Roberto, no Portal RCIA.
Muitos empresários do setor estão com a situação financeira crítica, garante o presidente do SinHores. “Entregaram o ponto, venderam equipamentos, mandaram funcionários embora sem indenizar e pagar verba rescisória. Os que ainda estão abertos, sobrevivem à base de empréstimos, parcelamento, postergação de impostos e financiamento”, lamenta.
MAIS RESTRIÇÕES
A nova determinação do Plano São Paulo para a região, que limita o funcionamento de bares, lanchonetes e restaurante até as 20h durante a semana e impõe portas fechadas aos finais de semana foi mais um duro golpe para os empresários do setor. “A nossa categoria está extremamente endividada e especialmente prejudicada. Trabalhamos com produtos perecíveis, de curta e média duração. Até para guardar frutas, legumes e verduras, que duram uma semana, laticínios e embutidos, que duram de 15 a 20 dias, custa dinheiro”, acrescenta Pacchiarotti.
Ele explica que o setor, um dos mais efetivos em Araraquara, com empregos diretos e indiretos, é fundamental para a saúde econômica do município. “Para cada emprego formal temos dois informais, que são os músicos, garçons e seguranças freelances. Eles dependem desse serviço para sobreviver”, pontua.
MANIFESTAÇÕES
As manifestações que ocorreram em frente à Prefeitura no início da semana (25 e 26/1), reunindo empresários, garçons, músicos entre outros trabalhadores do setor, mostram claramente que “o caldeirão está em ebulição”. “Está batendo o desespero. Se o caldeirão ferver, ninguém segura”, avalia.
Ele destaca que, nesses 10 meses de pandemia, apenas o Governo Federal demonstrou algum apoio, postergando o recolhimento do FGTS e do Simples. “O Governo do Estado aumentou os tributos e o municipal não deu ajuda alguma”.
Sobre a reunião com o prefeito Edinho Silva na manhã de terça-feira, ele informa que não gerou resultado algum. “A reunião só ocorreu porque houve a manifestação. Mas a prefeitura disse que não podia fazer nada. Araraquara está em uma região com 27 cidades. Ela tem os números da Covid-19 controlados, mas outras não. O Ministério Público estadual diz não pode flexibilizar a não ser que tenha embasamento. Queremos sensibilizar o Ministério Público local para abrir um canal de diálogo com o Governo do Estado para resolver isso. Mostrar que em Araraquara pode ser menos restritivo”, pondera.
O presidente do SinHores diz que não vai descansar até resolver essa questão. “Vamos tentar formas legais para conseguir isso. Estamos pedindo para trabalhar. O trabalhador quer dignidade, quer trabalhar. A grande maioria é consciente, segue os protocolos da Vigilância Sanitária e da Anvisa e vem cumprido à risca as determinações”, enfatiza Pacchiarotti.
SITUAÇÃO DRAMÁTICA
De acordo com Percival Maricato, presidente da Abrasel-SP, associação que reúne as empresas do setor, sexta-feira à noite, sábado e domingo são dias que representam mais de 70% do faturamento da semana de bares e restaurantes. “Para o nosso setor, essa restrição de funcionamento é dramática. Estamos sendo sacrificados inutilmente. A proliferação do vírus não ocorre em restaurantes, mas, sim, em locais clandestinos que estão abrindo em garagens, fundos de lojas, na periferia”, diz ele.
De acordo com a Abrasel-SP, cerca de 70 mil restaurantes fecharam as portas no Estado de São Paulo desde o início da pandemia. Atualmente, de acordo com ele, cerca de 300 estabelecimentos estão fechando as portas diariamente no Estado de São Paulo. “Do jeito que a coisa está indo, em três meses, devem sobrar uns 20% do setor, formado hoje por aproximadamente 180 mil estabelecimentos”, diz o presidente da Abrasel- SP.