De braços abertos “Lampião e Maria Bonita” dão as boas-vindas a quem chega ao sítio Monte Verde no distrito de Guarapiranga – Ribeirão Bonito.
O Sítio Monte Verde é propriedade do artista plástico Lodier Lourenço Perussi, mais conhecido como Iêié, de 74 anos, que jura ainda que viverá mais 70. Em sua casa estão guardadas mais de 500 peças esculpidas por ele, e outras tantas espalhadas por onde ande na propriedade.
Usando apenas madeiras (tocos e raízes), que encontra pelos caminhos e com muita criatividade, faz brotar rostos e formas inimagináveis. Trata-se da Arte Naif, arte simples, produzida por artistas sem formação acadêmica.
Aos 8 anos, Iêié transformava madeira em cavaleiros, vacas mostrando a língua e que abanavam rabos, ordenhadores de leite e outros animais, cenário que conviveu na infância e o tempo em que acredita ter sido mais habilidoso. Hoje brinca ao dizer que “com o tempo se piora”.
Já na adolescência em 1971, o artista saiu do sítio de seus pais e partiu rumo a São Paulo, onde foi trabalhar na montagem de carros na General Motors. Mas a inspiração que sempre lhe foi peculiar, o acompanhou em meio à cidade grande, fazendo com que transformasse as espumas que eram usadas na fábrica também em arte, presenteando inclusive alguns diretores da empresa.
Em 1979 retornou ao sítio e após a morte do pai, se instalou definitivamente na propriedade para assim ajudar na “lida do campo” ao lado de sua mãe Dona Mariquinha, que hoje tem 92 anos e também tem mãos de artista quando se trata de pães e biscoitos.
Além das esculturas, Lodier e sua esposa Maria do Carmo também fazem queijos, doces e se utilizam da cana-de-açúcar que plantam na propriedade para fazer rapaduras e vender aos amigos, parentes e vizinhos.
O artista já teve suas obras expostas no Museu da Ciência em São Carlos, em Araraquara no Teatro Municipal, Câmara Municipal, Museu Voluntários da Pátria, Casa da Cultura e em diversas mostras na cidade.
O que difere Iêié de outros artistas, é que primeiro ele faz as esculturas, para depois então descobrir o que é, ou ainda, quem vê diz que é outra coisa, brinca o arteiro. Além de que, ele não vende suas obras, pois acredita que se vender não conseguirá produzir outra.
Maria do Carmo, com quem o arteiro é casado há mais de 40 anos, diz que se sente orgulhosa das habilidades e a sensibilidade do marido, mas acredita que ele deveria vender ao menos algumas obras, “muita gente o procura na tentativa de comprá-las, mas vai entender cabeça de artista” diz ela.
Entre elas estão esculturas como leões, dinossauros, cavaleiros, vasos, santos, algumas datando de quase 50 anos, que permanecem intactas diante do tempo e dos cuidados dispensados pelo artista que aprecia contemplar a beleza do que produz.
“Trabalhei tanto para fazer uma peça, não posso vender algo que eu gosto de ver”- diz ele.
Para ele, qualquer toco ou raiz serve; ao olhar a madeira em meio à natureza, sempre encontra uma forma e já diz que se parece com algo como um animal, personagem folclórico, e pessoas: “a natureza me entrega a matéria-prima pronta, com formas que mãos humanas não conseguiriam fazer com precisão, é só olhar que já sei o que será”. finaliza o arteiro.
Na simplicidade da roça, mas mãos calejadas da lida com a terra, a natureza presenteia a quem tem a sensibilidade aflorada no olhar, para que apenas uma raiz se transforme em um leão, deixando claro que o rei da selva, pode ser apenas um produtor rural, com amor à arte e à natureza.