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Denúncia de engenheiros ao Promotor Público em 2004 dizia: teto do Gigantão vai desabar

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O RCIARARAQUARA teve acesso com exclusividade à denúncia feita pelos engenheiros Wilson Léo e Renato Monteiro de Almeida – 15 anos atrás ao Ministério Público. Goteiras, alagamento da quadra, queda de uma parte da aba lateral ao longo do tempo e agora novas rachaduras e infiltrações, acenderam o alerta para a decisão da Promotoria de Justiça do Meio Ambiente, Habitação e Urbanismo

Leo 121Engenheiro Wilson Léo, denunciou ao Ministério Público o risco do teto do Gigantão desabar por conta da degradação do ferro e cimento, ocasionada pelas infiltrações

A denúncia para o Ministério Público interditar nesta segunda-feira (7) o Ginásio de Esportes Castelo Branco, o Gigantão, vem sendo discutida há vários anos. Segundo os engenheiros Wilson Léo e Renato Monteiro de Almeida, o alerta já havia sido dado ao prefeito Edinho Silva, ainda em seu primeiro mandato, por conta das goteiras existentes no local, principalmente na quadra.

De forma paliativa a Prefeitura Municipal decidiu investir na impermeabilização do teto do Gigantão, construído no período de 1967 a 1969, quando foi inaugurado com a realização dos Jogos Abertos do Interior. Os reparos realizados pelo município terminaram em 21 de novembro de 2004 com a entrega do prédio para competições esportivas e shows.

Indagado sobre a razão que os levou a denunciar riscos de desabamento do Gigantão, ambos afirmaram em documento encaminhado à Prefeitura Municipal e ao Ministério Público que foi graças à notícia publicada pela imprensa local de que – há décadas era constante o alagamento da quadra pela infiltração de águas das chuvas. “Se há décadas estava ocorrendo a infiltração, presumimos que isso acontecia há mais de dez anos e um dia, com o vazamento atravessando a estrutura e a ferragem”.

Tecnicamente, assegura Wilson Léo, isso leva o concreto a sua origem, que é o carbonato de cálcio; e leva a ferragem a sua origem, que é o sulfato de ferro, quer dizer, isso provoca mais rompimento na estrutura. “Naturalmente isso acontece com toda estrutura, quando ela começa a ruir”, explica o profissional.

Para ele “não deu outra, eles acharam que nós éramos dois loucos, o promotor na época não quis acatar o que havíamos dito e dois anos depois a estrutura veio a ruir”. O secretário de Obras, Valter Rozatto, chegou a explicar que toda camada impermeabilizante do ginásio havia sido retirada e substituída por uma nova, de forma quase artesanal.

Em uma outra denúncia protocolada na Promotoria de Justiça de Araraquara, Léo e Monteiro salientam que “na época ninguém se pautou por tomar qualquer medida no sentido de impedir a nova inauguração feita pelo prefeito Edinho Silva” (21/11/2004), após a impermeabilização.

Porém, o pior estava por vir: no dia 29 de outubro de 2010, por volta das 19h30, desabou uma parte da aba lateral do Gigantão, a entrada para a Fundesport, confirmando o que os dois engenheiros tinham previsto em 2004. Para ambos a situação tornou-se ainda mais grave e chegam a apontar ao Ministério Público que “tendo em vista que os riscos continuam implantados e que em 2004 não se fez a devida A.R.T. – Anotação de Responsabilidade Técnica dos engenheiros envolvidos, o que aconteceu é que o desabamento ficou vazio, ou seja, não teve responsável técnico que pudesse arcar com os danos ocorridos, ficando desta forma os custos financeiros para o município. Neste caso, eles evidenciam a má aplicação dos recursos públicos.

Nesta denúncia feita oito anos atrás à Promotoria de Justiça, Léo e Monteiro, após o secretário de Obras Valter Rozatto e o engenheiro Roberto Massafera falar na imprensa que o “Gigantão é forte e seguro”, passaram a pedir que “com base em tais declarações, sendo ambos engenheiros, é necessário que os mesmos apresentem as suas competentes ARTs de tais afirmações e também de todos os envolvidos no laudo, no escoramento e na nova recuperação estrutural que pretendem fazer”.

Ambos tornam-se incisivos junto ao Ministério Público solicitando que por segurança da população eles deveriam fornecer uma responsabilidade vintenária (por 20 anos) registrada em cartório local.

Após a segunda denúncia os dois engenheiros foram chamados pela promotoria. Léo conta que houve o reconhecimento de que a eles não foram dados ouvidos e que estavam sendo taxados de loucos. Renato, diz Léo, respondeu “podemos ser loucos, mas burros não. Burro é o pessoal que está lá na Prefeitura e não está vendo a estrutura ruindo”.

A partir daí, diz Wilson Léo, a pedido do promotor, os serviços realizados tanto pela Prefeitura quanto pelo IPT (Instituto de Pesquisa Tecnológica) de São Paulo passaram a ser acompanhados por eles: “Contestamos inclusive todos os laudos do IPT, denunciando a maneira falha com que o instituto estava trabalhando. Todo mundo dizia que estava tudo bom, só que ninguém queria se responsabilizar”, conta.

O engenheiro lembra que “diziam que a estrutura do Gigantão seria aproveitável” e com orientação técnica, o promotor passou a pedir um laudo de vistoria com a responsabilidade de alguém; parece que nesta primeira vez ninguém quis assinar o laudo de vistoria e a gente exigia que fosse pelo menos de 20 anos, pois nenhuma estrutura pode ser de acordo com a ART do CRÉA de apenas 5 anos. Léo afirma que o IPT também se negou a assinar embora tivesse quatro profissionais envolvidos; não sei se forçado ou não, o Laxixa (Valter Rozatto) acabou assinando.

Ao dar o seu aval neste documento, Valter Rozatto, praticamente atendeu o apelo feito pelos denunciantes: “Requeremos desse Ministério Público a organização de tarefas e responsabilidades em um termo oficial para que no futuro se consiga responsabilizar os profissionais envolvidos quer na esfera civil como na criminal”.  

Embora passado certo tempo, o engenheiro Wilson Léo ainda recorda que a pedido do Promotor em Araraquara, vieram profissionais que dão assistência à Promotoria em São Paulo para acompanhar o caso, deixando no entanto, os dois engenheiros araraquarenses encarregados de prestarem tecnicamente uma espécie de assessoria  e suporte ao promotor.

Da última vez que os dois engenheiros estiveram reunidos com os profissionais de São Paulo, houve a apresentação de um relatório com novas orientações técnicas e fotografias evidenciando a continuidade do processo de infiltração e rachaduras, principalmente na parte de baixo da estrutura, garante Wilson Léo.

Só que nesta segunda-feira, começo da noite, ambos confirmaram a denúncia de 2011, levando muita gente à reflexão: “De nossa parte afirmamos que o teto do Gigantão irá desabar tendo em vista sua fragilidade estrutural e que nada mais pode ser feito em termos técnicos, a não ser a demolição completa do teto e a reconstrução do mesmo”.

O Ministério Público de Araraquara confirmou, na tarde desta segunda-feira, o pedido de interdição do Gigantão, devido a problemas estruturais e na cobertura do local.

Foram feitos três pareceres técnicos, constando que poderia causar problemas e um novo desabamento. De acordo com o MP, o ginásio estava sem manutenções pelo poder público a cerca de oito anos, coincidindo com a data do desabamento e apresentação de uma nova denúncia dos engenheiros. Caso a interdição não seja acatada, a multa diária será de R$10 mil.

Ainda de acordo com o órgão, as obras contra a deterioração do espaço deverão ser concluídas em até 180 dias.

PREFEITURA DIZ QUE NÃO HÁ RISCO

Uma nota divulgada pela Prefeitura Municipal no final da tarde desta segunda-feira (7) esclarece que ela está surpresa com a decisão do Ministério Público interditando o Gigantão e salienta também que não há risco à utilização pública no local. Como complemento da informação destaca que o município está contratando uma empresa para a manutenção questionada pela Promotoria de Justiça do Meio Ambiente, Habitação e Urbanismo.

Engenheiros alertaram autoridades para infiltrações em 2004 e seis anos depois essa aba caiu; agora surgem novas rachaduras, segundo Wilson Léo