Em julho de 2015, a Secom negava a saída de Manoel de Araújo Sobrinho após sua citação em depoimento do dono da construtora UTC; homem de confiança de Edinho, Sobrinho havia chegado ao Planalto em abril
Araraquara acordou nesta sexta-feira (09) com agentes da Polícia Federal e Receita Federal entrando na casa de Manoel Araújo Sobrinho que foi chefe de gabinete do então ministro da Secretaria da Comunicação (Secom) em 2015. Naquela época Edinho era ministro de Dilma Roussef e levou Manoel para ser o seu chefe de gabinete; bem antes Manoel havia sido chefe de gabinete de Edinho Silva, quando prefeito de Araraquara.
A trajetória de Manoel Araújo Sobrinho dentro do Partido dos Trabalhadores foi mais além, sempre contando com o braço amigo de Edinho Silva que o mantém hoje na sua administração como responsável pela Morada do Sol Eventos, uma empresa que cuida de eventos, estendendo sua ação de cobertura até a Arena da Fonte.
A ligação entre ambos, além da profunda amizade também avançou pelo campo político e profissional, crescendo ainda mais com a ida de Edinho para presidir o PT em nosso Estado; depois Edinho seguiu para o comando financeiro da campanha de Dilma e o papel de tesoureiro o conduziu algum tempo depois a assumir o cargo de ministro da Secretaria de Comunicação, um dos órgãos mais fortes do governo, tendo inclusive entre suas atribuições distribuir verbas do governo para veículos de comunicação. Foi para a Sescom que Edinho abriu as portas a Manoel, tornando-o chefe de gabinete com salários de quase 12 mil reais mensais.
Três ou quatro meses depois de assumir a chefia de gabinete, Manoel começou a encontrar problemas para se manter no cargo. Isso aconteceu após ser citado em delação do dono da construtora UTC, Ricardo Pessoa, como sendo Manoel responsável por acertar doações de R$ 7,5 milhões para a campanha da presidente Dilma Rousseff, em 2014. Pessoa disse que a empreiteira teria sido pressionada a fazer a doação para que pudesse continuar a ter contratos com a Petrobrás.
Em meados de outubro de 2015, Manoel Sobrinho prestou depoimento à Polícia Federal sobre o assunto. O Planalto negava que a sua saída da Secom tivesse qualquer relação com o depoimento de Pessoa. De acordo com os assessores, a EBC estava passando por várias alterações e por isso Manoel estaria deixando a chefia de gabinete.
Em julho (três meses antes), matéria do Estado já mostrava que a saíde de Manoel estava acertada, o que foi negado à época.
A MANIFESTAÇÃO DE RODRIGO JANOT
Em junho de 2016, quase um ano depois da Sescon negar que Manoel não deixaria o Governo, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou em manifestação enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF) que pagamentos de propina ao PT eram feitos muitas vezes sob ameaça contra empresários. Segundo o procurador-geral, o ex-ministro Edinho Silva, da Secretaria de Comunicação Social, intimidava empresas a doarem para o partido sob pena de interrupção de contratos com o governo federal. Edinho foi tesoureiro da campanha de Dilma à reeleição, em 2014. Ele nega as acusações.
Ao pedir a transferência do inquérito do ex-ministro para a Justiça Federal em Curitiba, Janot afirmou que as irregularidades envolvendo o petista não se restringiam à Petrobras. “Em verdade, o pedido de pagamento para auxílio financeiro ao Partido dos Trabalhadores, notadamente para o custeio oficial e não oficial (caixa 2) das campanhas eleitorais, muitas vezes mediante ameaças de cessação das facilidades proporcionadas ao núcleo econômico pelos núcleos político e administrativo da organização criminosa, revelam-se como medida habitual, institucionalizada e centralizada, em parte, na pessoa de Edson Antônio Edinho da Silva, consoante se depreende dos indícios apresentados acima. Tais facilidades proporcionadas ao núcleo econômico ocorriam inclusive em contratos com a Petrobras — embora não se limitassem a estes”, escreveu.
O ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo, determinou o envio dos autos para o juiz Sérgio Moro porque Edinho Silva perdeu a prerrogativa de ser julgado na mais alta corte do país desde que deixou o ministério.
De acordo com o delator Ricardo Pessoa, ex-presidente da UTC Engenharia, o ex-tesoureiro da campanha de Dilma lhe cobrou R$ 20 milhões para a reeleição da presidente afastada em troca da manutenção de “facilidades contratuais” com o governo. Após negociação, o valor foi reduzido a R$ 5 milhões, afirmou. O nome de Edinho também aparece em mensagens apreendidas nos celulares do dono da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e do ex-presidente da OAS Léo Pinheiro.
“Cumpre ainda destacar que Edinho Silva, em mensagem encaminhada para Leo Pinheiro em 08/08/2014, encaminha, ao que tudo indica, cronograma de pagamentos a cargo da OAS para custar campanhas eleitorais”, escreveu Janot.
Em nota, na época, o ex-ministro e ex-tesoureiro negou envolvimento em irregularidades. “Sou favorável à apuração de todos os fatos com relação à minha atuação na campanha de Dilma Rousseff em 2014. Sempre agi de maneira ética, correta e dentro da legalidade. Criou-se uma tese de que todas as doações à campanha de Dilma são ilegais, enquanto que as doações feitas pelos mesmos doadores aos demais candidatos são legais. Jamais pressionei ou ameacei empresários. Todas as contribuições realizadas à campanha de Dilma em 2014 foram declaradas ao Tribunal Superior Eleitoral. As contas foram todas aprovadas por unanimidade pelos ministros do TSE”, rebateu.
EDINHO NAS REDES SOCIAIS
Logo após a visita feita por agentes da Polícia Federal e Receita Federal à residência de Manoel Araújo Sobrinho, o prefeito Edinho Silva publicou um vídeo em sua página no facebook.