Se doando à solidariedade, professor de karatê arrebanha adeptos para um projeto que nasceu em sua garagem
Assim como Ulisses que teve a idéia de construir o cavalo de Tróia, colocando fim a guerra com a Grécia que durou 10 anos, temos aqui um novo personagem, que não é rei na ilha de Ítaca, mas também tem alma nobre.
Ulisses Luiz da Silva que é analista de sistema durante o dia na empresa Nigro, a noite se veste de solidariedade e aos poucos tenta acabar com a falta de acesso das crianças do seu bairro às escolinhas de esportes.
No início o professor de Karatê do estilo Wadô Ryu, começou a ensinar seus filhos na garagem de sua casa; aos poucos eles trouxeram os amigos e quando Ulisses se deu conta, já não havia mais espaço, então resolveu fazer as aulas na Praça Maria Valéria Galvão Medina, no Cecap.
O projeto encabeçado por ele e pelos pais deu tão certo que todos os dias aparecem crianças até mesmo de outros bairros querendo participar das aulas, que já conta com vinte alunos fixos. Hoje a praça é tomada por crianças três vezes por semana para aprender a arte e também pelos pais, os maiores entusiastas do projeto. Vale ressaltar que Ulisses também ensina vôlei voluntariamente aos sábados na Escola Estadual Professora Angelina Lia Rolfsen, no mesmo bairro, sem a cooperação do poder público.
Os kimonos para as aulas, Ulisses procura parceiros e doações, assim consegue que todos fiquem uniformizados. “Eu me sinto realizado em poder fazer o bem, assim tiro essas crianças das ruas, da frente de um computador e celular e principalmente, desvio eles dos caminhos das drogas, isso é o mais importante, o meu pagamento é o sorriso de cada um”.
Os alunos do professor Ulisses participaram pela primeira vez de um torneio na cidade de Américo Brasiliense e trouxeram medalhas e troféus “a alegria deles é meu pagamento”, repete.
Natalia de 35 anos, mãe de Ana Julia de Freitas Costa, 7 anos, diz que depois que a filha começou a fazer as aulas, tudo mudou, “está mais obediente, educada e tem mais respeito, também está mais focada na escola. O karatê ensinou a ela o que é disciplina”. Ana Julia, embora pequenina e delicada, disse que gosta do esporte, pois já aprendeu a se defender da violência.
Matheus Henrique Soares de Oliveira de 12 anos, que pratica há sete meses, diz que começou para aprender por auto-defesa, mas, pretende seguir os passos do mestre e também ensinar a arte à outras crianças que não têm condições de pagar pelas aulas.
Bruna, mãe de Matheus, disse que as aulas têm ajudado muito ao filho, onde ele já entendeu que não pode mais brigar na escola, interferindo até mesmo no comportamento de outros, deixando o ambiente mais calmo e responsável. “Ele era uma criança que não saia de casa e o esporte o tirou do celular e computador, hoje ele é muito disciplinado”.
Com boa vontade, cidadania e solidariedade, Ulisses faz com que crianças tenham uma nova oportunidade, uma janela para um futuro melhor. Evidente que ele não cessará com a eterna guerra de Tróia que persiste nas ruas, mas afasta das crianças combates que poderiam levá-las a caminhos sombrios; sendo assim, vai colorindo a praça com sorrisos e provando que doar um pouco de seu tempo em prol do próximo o coloca no pódio como campeão na vida. Osss!