Mesmo com estrutura e entidades sérias para tentar retirar das ruas pessoas nessa situação, faltam projetos sociais para inseri-los de volta a sociedade, sem contar que muitos não desejam sair das ruas
Foi-se o tempo onde às crianças brincavam nas praças, ou mesmo casais namoravam tranquilamente, nos espaços públicos. Poucos araraquarenses conseguem se utilizar desses locais, sem ser enxotados por moradores em situação de rua ou usuários de drogas.
As reclamações são diárias e muitos se lembram da época em que o ex-prefeito Valdemar de Santi, cuidava desses espaços como se fosse o quintal de sua casa.
Hoje as praças foram tomadas, segundo um grupo da terceira idade, que anteriormente se utilizava da Praça da Independência e hoje sequer podem transitar por lá. Outra que está na mesma situação é Praça do Carmo, onde muitas senhoras deixaram até mesmo de frequentar a missa em certos horários, devido às investidas desses moradores. A Praça do São José, não vive situação diferente, pode-se perceber no local colchões e roupas penduradas nas árvores, que foram transformadas em armários. Brigas acontecendo diariamente devido ao corrente uso de drogas, onde comerciantes do entorno, se sentem ameaçados quando alguns deles entram em seus estabelecimentos para importunar clientes.
A Praça Scalamandré Sobrinho, embora conte com quiosques para receber as famílias também enfrentam problemas como roubos, uso indiscriminado de drogas e prostituição, como já denunciado em nosso portal.
A Pedro de Toledo há muito é palco de diversas denúncias onde menores consomem álcool e drogas em meio a badernas generalizadas.
Na Santa Cruz, muitos passam o dia bebendo e pedindo dinheiro nos semáforos centrais, local concorrido entre os moradores de rua, tido como um dos melhores pontos da cidade para se arrumar dinheiro fácil, desde que tenham autorização de quem manda no “pedaço”.
Para atendimentos sociais, Araraquara conta com a Casa Transitória, Centro Pop (Serviços especializados para pessoas em situação de rua e especializado em abordagem social) e CAPS-AD (Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas) entre outras entidades que atendem moradores em situação de rua e tentam de certa forma dar dignidade e um novo rumo às suas vidas, mas o problema ainda é complexo e onde muitos deles estão nas ruas por opção.
Para Magda Regina Leite que comanda a Casa e a Associação São Pio há cerca de 13 anos, o morador de rua é aquele que desvinculou da família, que não quer responsabilidade, prefere viver em situação de liberdade, não aceitam regras, e 99% deles fazem uso de álcool e drogas.
Ainda segundo a presidente da associação, quando ela acolhe um morador que na maioria das vezes não tem documento, a entidade procura a família, para avisar sobre a internação, mas a família já não quer saber, muitos dizem que o interno já roubou tudo da casa, batia na mãe, deixou filhos para que os avós cuidem, esgotou o vinculo com a família, sem contar que tem mães que tem três filhos ou mais nessa mesma situação, resumindo não querem saber. Em muitos casos ainda, Magda diz que a família é desestruturada tanto quanto o adicto.
A reportagem vêm conversando com diversos moradores em situação de rua há cerca de um ano, muitos estão nessa vida há mais de vinte anos e não pretendem sair dela. Nas ruas, Magda é o nome mais respeitado entre eles, alguns a chamam de mãe, pois, já deu a eles oportunidades de tratamento e acolhimento, por várias vezes.
Magda sente que é necessário um programa mais forte em relação a essas pessoas, pois a maioria quando se sente um pouco melhor, saem da clinica e voltam para as ruas, caindo novamente no vício que os consome, “falta também um programa de inserção social, um trabalho, para que eles tenham para onde voltar”- diz ela.
Ela acredita que uma boa maneira seria um programa de interdição, não somente internação compulsória, já que 99% deles precisam de ajuda e tratamento. Segundo Magda, hoje as famílias tem que ir ao Caps AD, participar de reuniões, encontrar um psiquiatra, arrumar atestado médico, tem que levar o morador de rua até a entidade, “onde muitos não querem ir”, para somente, após três ou quatro meses conseguir uma internação compulsória, “é muito demorado, nesse meio tempo, alguns morrem ou continuam dando trabalho, ou ainda vão preso, o processo é muito lento e burocrático”.
Para ela o governo deveria ter um programa, onde a pessoa que está morando na praça, que perdeu o vinculo fosse interditado e internado compulsoriamente por um ano ao menos, para que pudesse fazer um tratamento, “Nas praças eles se batem, se matam por causa de drogas”. Diz ainda que o problema das drogas tem aumentado muito, e quem está nas ruas tem tudo ao seu dispor, “eles tem comida, bebida, roupas, dinheiro, todo mundo tem dó e oferece ajuda, então porque ele aceitaria um tratamento, é necessário que essas pessoas sintam a dificuldade para assim procurar entidades que efetivamente possam tira-las do mundo do vício”.
Diz ainda que eles sabem que só a família pode interditá-los, e acabam ameaçando que se caso o fizerem, se matam, é onde a família fica com medo e abandona.
A Casa São Pio tem hoje internados em uma chácara 38 pessoas, mais 46 em clinicas de tratamento, por conta da associação. Na casa feminina estão hospedadas 6 mulheres e mais 14 internadas em tratamento. Geralmente os acolhidos ficam na casa por cerca de dois meses antes de irem para o tratamento nas comunidades terapêuticas. A associação recebe de um projeto do governo federal uma ajuda de R$ 6 mil mensais, que é gasto em sua totalidade no supermercado. A casa conta também com a ajuda da comunidade que pode ser feita através de doações. Magda ressalta ainda que nos quase 13 anos de funcionamento da São Pio, mais de 200 pessoas conseguiram se curar, para ela um percentual baixo, já que por ano passam pela entidade cerca de 1.200 pessoas.
Magda afirma que ultimamente está “minando gente nas ruas”, são muitos que mesmo ela acostumada a essa população não os conhece, e que é necessário urgência no combate ao tráfico de drogas.
A presidente da Associação encerra sua entrevista dizendo que : “o nosso trabalho é árduo e sofrido, aqui não são números, são almas que resgatamos, cada qual tem suas particularidades e histórias tristes, hoje tenho trabalhando comigo na casa oito recuperados, além dos que já estão trabalhando fora e voltaram para o convívio da família, minha recompensa é poder dizer, você está pronto para voltar a vida, isso é uma doença e deve ser curada, e sem programas sérios não conseguimos salvar vidas”.
Entre as muitas entrevistas que o Portal RCIARARAQUARA, fez com os moradores de rua, alguns disseram a reportagem que existe uma mata no Jardim das Hortênsias, que as vezes chega a juntar mais de 100 pessoas para passar a noite fazendo uso de drogas. Além de contar quem são os moradores de rua que passam as drogas, que dominam áreas, chegando inclusive a escravizar mulheres. Muitos deles vendem os marmitex que ganham de entidades de ajuda, para comprar drogas.
Para Sandra Tochio presidente do Grupo Viva – Voluntários Interdependentes Vivendo Amor, que entrega cerca de 30 marmitex diariamente, em pontos específicos, a seu ver, hoje moradores em situação de rua vêm diminuindo, diferente dos que se utilizam das praças para se drogar ou pedir esmolas. Desde Novembro de 2018 a prefeitura autorizou a Casa Transitória a receber esses moradores para o jantar, banho e pernoite, podendo também voltar para pernoitar caso necessite, com a ideia de que algumas pessoas que conseguem trabalho tenham onde ficar, até que conquistem um lugar para viver. No Centro POP eles são atendidos para almoçar e tomar um banho durante o dia.
O grupo a qual Sandra preside, além de alimentação oferece também eventos três vezes ao ano, onde são oferecidas palestras, cortes de cabelos, curam as feridas, tentando assim, devolver um pouco da dignidade perdida e convencê-los de que a família ainda é o melhor lugar, mesmo sentido que a família já os abandonou. “Muitos brigam com a família pois, não aceitam regras da sociedade e os familiares não aceitam o alcoolismo e o uso de drogas”.
Para Sandra eles não devem ser internados compulsoriamente, “cada caso é um caso e fica difícil julgar, pois acabam não ficando nas clinicas de recuperação e fogem, então, são tempo e dinheiro despendido inutilmente, o melhor é acolher e convencer a fazer o tratamento, respeitando o tempo deles, paralelo a isso, um programa que os empregasse, após o tratamento, para que eles tenham para onde voltar”.