Home Geral

Para Estelinha ser mãe de Zilda Mayo é muito chique

762

Um sorriso anfitrião se ilumina em seu rosto quando se chega perto desta bela mulher.  E seu nome se traduz nesse sorrir que Stella quer dizer estrela

Zilda Mayo 146Maria Stella e o saudoso marido Francisco

As irmãs Romilda, Marisa e atriz Zilda Mayo se reúnem para falar um pouco sobre a mãe, Maria Stella Scalsone Sedenho, e fazem uma deliciosa viagem no tempo.

Embora tenham vivido momentos de tristeza com a perda de entes queridos, prevalece a alegria e a gratidão de terem uma mãe que sempre foi carinhosa com os filhos, que nunca precisou mandar, pois sabiam o que era obediência. E elas contam orgulhosas do baú de memórias da mãe, onde tem tesouros emocionais guardados, como as preces e pedidos para que os filhos arranjassem emprego, que tivessem saúde e que ela tivesse forças para guiá-los na vida.

Marisa se recorda que bebê, a mãe a deixava num caixotinho, mas ela era muito chorona, então Stella a aconchegava no colo para que não chorasse e com o outro braço livre ia fazendo o trabalho da casa.

Romilda lembra que aos dez anos levantava bem cedinho e para ajudar a mãe acendia o fogão à lenha para que assim que acordasse a água estivesse fervendo para que coasse o café.

Stella ri ao contar que os filhos Elcio e Renato mamaram durante muitos anos. “O Élcio chegava e falava ‘senta ai mãe’, puxava o seio e mamava, às vezes, dava uma chupadinha e  saia correndo. Cada um mamou durante uns cinco anos”.

Marisa, Romilda e Zilda com a mãe Maria Stella

Outra passagem é que certa vez, ainda quando moravam no sitio caiu uma tempestade assustadora e de tanto medo que algo pudesse acontecer com sua família, Maria Stella reuniu a filharada e se deitou na cama com todos eles. Acabou pegando no sono. Conta que sonhou com Nossa Senhora do Perpetuo Socorro e pediu que os protegesse. Ela pediu os brincos em troca. “Dei”. Depois esses brincos foram colocados em um quadro como relíquia.

As filhas relembram que a mãe contava que aos oito anos andava pelo sitio pegando gravetos e fazendo feixes de lenha. “Sonhava nada. Era verdade”, diz Maria Stella, carinhosamente chamada de Estelinha. O marido, além de sanfoneiro, era um grande contador de piadas. Faleceu aos 69 anos. “Na família tem muitos sanfoneiros, muitos ainda tocam”, diz Zilda.

A grande descoberta foi que depois dos 80 anos, Estelinha começou a pintar. São pássaros, flores, muitas coisas da natureza.

Estelinha com os filhos

Os filhos a chamam de Rainha. Para ela o papel de mãe sempre lhe caiu muito bem. “Ser mãe é tão bom. É uma alegria. Sempre rezei para que não faltasse trabalho, segurança. Sempre rezando muito por eles para terem saúde e proteção”,

UM POUCO DE MARIA STELLA

Leonina nascida no dia 28 de julho de 1924, Maria Stella Scalsone Sedenho, chamada carinhosamente de Estelinha tem muita história para contar, na maioria delas sempre se aprende algo e se tem certeza que a simplicidade é um luxo.

Filha de Francisco e Carmela e irmã de Margarida, Adelina, Vitório e Otávio nasceu em Santa Lúcia. Vivia com a família na cidade onde nasceu em um sítio e conta que começou a trabalhar com oito anos. “A vida lá era boa”, diz sorrindo. “Ainda criança, eu abanava café, limpava o tronco. Lembro com saudade do meu irmão Otávio que voltava para casa com o rosto cheio de poeira e nunca se queixava. Aquele foi para o céu. Verdade”. Outra coisa é que enquanto trabalhava na roça, Stella cantava o dia inteiro.

Questionada sobre um fato que a marcou quando ainda morava no sítio ela fala que quando se casou seu pai chorou. Tinha 19 anos. Conheceu o marido Francisco enquanto brincava numa chácara e ele disse para alguém: estava vendo aquela morena lá eu vou conquistar ela. “Ai, ai, ai, ai”, diz ela gargalhando. “Conquistou né?”.

Zilda com os pais (esquerda) e a mãe (direita)

Mas antes de se casarem, Stella que sempre gostou muito de dançar anunciou ao seu pretendente que queria ir ao baile e ele não quis. “Eu disse que iria passear sem ele e iria com as minhas amigas e fui. Mas na verdade, ele não queira ir, pois naquele dia iria pedir a minha mão para meu pai e eu deveria estar presente. Assim quando cheguei em casa lá estava ele realizando o pedido”. O casamento foi realizado no dia 7 de abril na igreja Matriz de São Bento, em Araraquara. “O dia do casamento foi bonito. Foi gostoso”.

Depois de casada foi morar com os sogros Rosa e Salvador, no Brejo Grande. Depois no São Geraldo e novamente no sitio. “Não era muito bom, eu queria a minha casa. Quando mudamos moramos perto dos sogros, mas era a minha casa”.

Dessa união nasceram Toninho (falecido), Hilda, Romilda, Zilda, Lúcia(falecida), Élcio, Marisa e o Renato. “Criar essa filharada foi muito gostoso. Brincavam o dia inteiro. Faziam bolo de terra e depois enchiam de florezinhas. Não me deram trabalho”, diz acrescentando que tem sete netos e oito bisnetos.

Para Estelinha cada filho é importante. Quem saiu primeiro de casa foi a Zilda ainda Sedenho. Quando decidiu ir para São Paulo era menor. Nunca tinha viajado para a capital. Não sabia como era a cidade. Por dentro chorava pelo fato de ter que ir embora, por deixar a mãe, a família, mas não queria demonstrar, mas queria ir para poder ajudá-los como fez a vida inteira. “Para chegar à estação de trem eu e a amiga que me acompanhava fomos à pé. Morava no Santa Angelina. “Estava com uma malinha na mão, uma calça boca de  sino laranja. Quando comecei a trabalhar ajudava a família e vinha frequentemente para Araraquara”.

Zilda Mayo fez grande sucesso principalmente nos anos 1970 e 1980, atuando em pornochanchadas e em filmes da chamada Boca do Lixo. Brevemente um livro sobre sua vida intitulado ‘Zilda Mayo  para os íntimos’ será lançado em Araraquara. Stelinha conta que quando a Zilda começou a fazer sucesso era muito bom. “Ser da mãe da Zilda Mayo era e é muito chique”.

APRENDI COM MINHA MÃE

Marisa que é artista plástica revela que sua mãe é o maior exemplo da sua vida. “Da nossa vida, eu falo que ela é a nossa rainha. De uma fortaleza que eu desconheço. Tenho ela como o pilar que sustenta toda a nossa família, por tudo que ela é e por tudo que ela sempre foi, por tudo que passou na vida e que ultrapassou e o que ela mantém vivo dentro dela até hoje: esse sorriso, essa alegria, essa postura de dignidade extrema. Tenho um profundo amor, uma devoção por ela, uma gratidão enorme e esse sentimento de ter ela como um grande exemplo para  nós todos”.

Já Romilda, a Romi,  conta que para ela sua mãe representa uma fortaleza. “Minha mãe sempre foi muito forte, sempre me deu muita força e me passou muito isso e acho que tenho muito dela. Em tudo. Eu a amo muito. Demais. “diz acrescentando que quando ficava doente e tinha que tomar injeção gostava de ficar encostadinha nas costas dela. “Ela me passava  forças, tirava meus medos. Ai ela sempre ia dormir no quarto da gente para ficar encostadinha nas minhas costas. Eu me lembro sempre disso”, conta emocionada.

As meninas têm passagens incríveis da mãe que costumava procurava ver onde os filhos estavam. Certa vez encontrou a Romilda dormindo na palha onde ficava o cavalo e o animal estava lá. “Cada susto que passava”, conta Romilda.

Zilda relata que sempre foi muito família. “Isso é de nascença. Cada um é de um jeito, mas eu queria e quero as pessoas fossem como eu, preocupada com a  família, ser só família, chorar pela família, ser todo mundo igual, mas não é. Sempre lutei pela união. Eu tenho uma coisa com a minha mãe desde pequenininha. Sempre tive uma preocupação muito grande com minha mãe. Sempre tive medo de perdê-la. Sonhava sempre com isso. Nunca me esqueço de quando ela teve uma ferida na perna, eu era pequena, e orava tanto, pedia tanto para Deus para ela ser curada. Nessa época a gente morava em um sitio muito longe. E ela foi curada. E ela tem a marca até hoje e sempre diz que a ferida foi curada por causa das minhas orações e acho que Deus me atendeu porque eu era pequena e pedi com muita certeza e fé que ela iria se curar”, mas também se recorda que escapava de casa e ia para a igreja no São Geraldo. “Minha mãe ia atrás de mim na igreja. Eu corria em cima dos bancos e ela corria atrás para tentar me pegar. Passava a maior vergonha”, ri ao contar.

A atriz diz que tem pela mãe um sentimento até hoje e em todos os sentidos: um amor de filha pra mãe.

Estelinha começou a pintar depois dos 80 anos

“Tive uma descoberta muito grande com minha mãe, pois fui para São Paulo muito nova, era menor de idade. Fiquei muitos anos longe dela no sentido de convivência, mas vinha vê-la quase todo fim de semana. Eu, na verdade, descobri quem era minha mãe só mesmo depois dos 40 anos, como ela era, do jeito que ela era, como ela foi, como ela agia depois que passei a conviver com ela. Acredito que aprendi muito com ela e vice versa. Ensinei para ela muitas coisas de sentimento que ela desconhecia e isso provocou nela uma mudança radical e aumentou ainda mais a minha admiração pela força dela. Uma mulher que não parava de trabalhar da hora que acordava até a hora de ir dormir. E ela sempre foi muito orante. Sempre acompanhando as novenas, como as do Padre Robson e sempre rezou de dois a três terços por dia. Então, quando você corre com as pessoas no sentido de assistir, eu principalmente eu que olhei a minha irmãzinha Lúcia, não tem muito tempo de elogiar, mas depois quando passa o tempo e você se acalma você vai tempo a percepção da importância que é, a sabedoria que tem”.

E questionada sobre o que achou da resposta de sua mãe do que era ser mãe da Zilda Mayo, a triz diz que se surpreendeu. Quando todo mundo pergunta como é ser mãe da Zilda Mayo eu pensei que ela responderia ‘tenho orgulho’, ´’bom’, mas pensar que ela fosse responder que ser mãe da Zilda Mayo é chique. Fiquei surpreendentemente emocionada. Adorei”.