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Avenida Santo Antônio de todos os tempos, segundo Osvaldo Zaniolo

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Santo Antonio 1

ARTIGO

Meu filho André entregou-me a mensagem; no visor de seu celular estava escrito: “André: o João agora é de Deus!”. Seus olhos marejavam e dois bobos descendentes de italianos choravam.

Naquele dia resolvi descer a pé pela Avenida São Paulo, hoje Santo Antônio, o caminho de todos os que moram na gloriosa Vila. Vi a casa do meu avô (onde nasci), restaurada por fora e “revitalizada” por dentro, como insiste em dizer o meu primo Rodrigo, o arquiteto autor do projeto. Passei pela antiga Farmácia do “seo” Moacyr Berverth, pelo velho armazém do Andrelino Alves Pinto, o seu Nenê, na Rua 13 de maio em frente ao antigo Bar do Zenith e do posto de gasolina que foi do “seo” João e do Guilhermino Pestana; passei também pela Padaria Santo Antonio dos Flório e o “It Salão”.

Parei com reverência defronte a casa do “seu” João Rodrigues; pensei nele… no João que agora é de Deus e na D. Nina, que juntos tiveram muitas experiências e dentre elas uma emocionante história de amor durante setenta anos. Lembrei-me da Lava-quara e das gazozas “Aluá”. Agora, nesta idade, devo me lembrar também das puríssimas cachaças, coisa de amigo mesmo, que o Maurão me dera um dia. Confesso que até gostaria, mas nunca fui bom conhecedor ou bebedor de cachaça, mas aquelas do “seo” João eram mais gostosas do que qualquer whisky. “Seo” João levou com ele uma parte da história da Vila e prova disso foi seu velório; lá estava a fina flor dos moradores da Vila.

“- Aquele não é o Ginato, Osvaldo?”, perguntava o Marcus Pestana; “E aquele outro não é o Geraldinho Cataneu?”; “Olha lá o Everaldo: esse jogava bola, heim?”; “Falando de bola olha lá o De-sastre; nossa, esse cara… jogava prá car,…!”. E tantos e tantos outros com tantos e tantos comentários.

Continuei a andar; na esquina de baixo o armazém do Sígoli, do mesmo jeito, também uma forte resistência da Vila à modernidade, e no meio de toda aquela mercadoria onde se procurasse até acharia o FQF Da Valle, o Salomão traçando mais alguns planos para o “Manifesto Popular”. Passei pela casa dos Guerra, e não poderia deixar de pensar: “Será que o Peru está na “Providência?”

Passei pela Igreja de Santo Antonio; várias pessoas que foram ou são muito queridas por mim trabalharam ou trabalham ainda muito por aquela Igreja: minha tia Alzira, o Angelo Pessota, a Iracy o Deodato. Meu  avô e meu pai foram festeiros e os da minha casa cuidavam da barraca do coelhinho, inclusive eu e a minha irmã Wilma.

Retornando, passei pela Loja da Lilah e confesso que tentei não olhar, pois não queria ver o lugar vazio; mas, arriscando, fiquei esperançoso, pois além da Loja estar aberta, lá estava o “Seo” Casemiro Celante, Deus levara sua “pedra preciosa”, como sempre distingüira a companheira. A Lilah também está com Deus, mas a loja permaneceu.

O Bar Ponto Chic, com o letreiro ‘BO-CCIE” (confesso que nunca soube o que queria dizer “boccie”), a “Loja do Barulho”, a “Casa Meia Lua”, a Família Jorge, o Jydallo, o Farid, o Tuffy o Dr. Nemr e a Astir.

Vencido pela saudade deixei o corpo e naveguei. Lá do alto, pude ver uma Arara-quara repleta de nobres vivendas, quatro universidades, uma oriunda daqui mesmo, duas oficiais, outra particular também de abrangência estadual, e pelo que soube, mais duas chegando; haja alunos, e o que é pior, emprego para todos eles. Uma cidade de três shoppings, de centros comerciais, lojas de griffe pertencentes aos grandes conglomerados, onde você é apenas um talão de cheques ou um cartão de crédito sujeito a estar no Serasa ou SPC.

Vão se acabando os “Empórios Populares”, o “Armazém do Sígoli”, a “Lavaquara”, os “Aluá”, a “Loja da Lilah”, a “Loja do Barulho”, a “Casa Meia Lua”. Até o letreiro “BOCCIE”,  foi retirado do Ponto Chic, como diz o Ivo,  um comércio de fidelidade onde os filhos compram porque os pais compravam; onde expressões como:  “- marca aí na caderneta que amanhã meu pai passa e paga”, valem muito mais do que um contrato representado, por um cartão de plástico.

Na verdade, os tempos são outros, “seo” Osvaldo! E são mesmo! E, como são outros os tempos, acho melhor eu voltar a mim e correr para pagar a conta de luz, a do telefone e o empréstimo bancário, senão estes trogloditas mandam, (se já não mandaram!!!), o meu nome para o SPC,… 

* Osvaldo Romio Zaniolo é advogado em Araraquara e autor do texto