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Tardes bem ensolaradas e lembranças inesquecíveis de Nicola Salerno com sua lambreta

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Por Benedito Salvador Carlos (Benê) / Pesquisa: Deives Meciano

Esta matéria é uma memória de um acontecimento que se acabou com um tempo muito engraçado. Elevo também o piloto Manolo, que fez história correndo de Lambreta, da geração dos anos 60 e que inspirou muitos dos nossos pilotos de motocicletas.

Bene 73Nicola Salerno (pai de Evaldo Salerno), demonstrando sua habilidade

Num domingo à tarde, estávamos todos estacionados um pouco à frente do balão do meio da Fonte Luminosa (Balão do Soldado), ali era nosso ponto de encontro. Zé, Diogo e Baiano Faito, Salerno, Dinho Dall’ Acqua, Olympio Bernardes Ferreira Neto, Eduardo Luzia, Pinho, Toninho Assumpção, Luiz Antonio Candido, José da Penha Moreira, Adolfo e José Roberto Tedeschi, dentre outros.

O encontro não era só dos motociclistas, era de uma galera muito grande: a geração dos anos 70 que se reunia naquele lugar para bater papo. Compareciam os proprietários de carrões que também eram amantes da velocidade. Camilinho Dinucci tinha uma Corvete, Romeu Baptistini e Valdir Freire com seus Mustangs. Dario Pires, Antonio Carlos Selvino e Paulinho Ciborg com suas Alfas Romeu. Nivaldo Papini com um Dodge Dart vinho, Paulinho Ferramenta um Karmann Ghia, Elias Abi Rached com um Galaxie verde de rodas raiadas, Zinho Cefali com um Opala 250 S. No mesmo instante, Zeca e Pirola com seus Fuscas. Um verdadeiro desfile também de Gordines, Sincas e DKWs.

Eduardo Luzia realizando uma volta de demonstração em Araraquara

Os motociclistas por sua vez, eram arredios. Estacionavam e andavam, às vezes aceleravam um pouquinho mais. Entre nós nesse dia estava naquele gramado sentado Manolo (Emanoel Toledo de Lima) com sua Ducati Diana 250 cc e em dado momento, apareceu Adolpho Segnini Neto com uma Yamaha 200 cc, dois cilindros, azul, zero Km, pertencente à revenda Satis que era localizada na Avenida Presidente Vargas, de cuja empresa ele era o gerente de vendas. Sua chegada ouriçou a todos em ver a nova máquina.

Papo vai, papo vem e Manolo foi convencido a experimentá-la, sob a condição que estipulou, de que Adolphinho fosse junto pilotando sua Ducati. Subiram e desceram a Fonte Luminosa, fizeram outra vez o percurso e foram se animando até que as gentilezas se acabaram e o “pau comeu solto”. Subiram do primeiro ao segundo balão (Troleibus) já abrindo o acelerador, o respeito ao passeio tinha acabado. Contornaram o segundo balão e “ferraram um pau de volta”, briga de cachorro grande. Segnini se transformava, não tinha medo de nada, fazia parte do time de pilotos que chamávamos de “loucos”. Já Manolo tinha um passado recente de grande vencedor, era naquele instante o melhor representante de Araraquara na categoria lambretas especiais, além de seu estilo arrojado de pilotar, também era um malabarista em cima das duas rodas, como nunca eu havia visto outro igual.

Tudo vinha muito bem, até que o imponderável aconteceu: Na frente de ambos, rodava bem devagar, em seu passeio dominical, um fusca branco 1.200 cc, com um casal, uma criança e a vovó. Adolpho, no limite, vinha pela direita e Manolo igualmente pela esquerda. Sem pestanejar tentaram a ultrapassagem.

Olympio Bernardes Ferreira Neto realizando uma volta de demonstração em Araraquara

O motorista assustado com o barulho da Ducati, puxou para esquerda fechando involuntariamente Manolo, que mesmo freando firme e com destreza acabou batendo no carro,  raspando na sarjeta e caindo, tendo pequenos esfolados pelo corpo. Adolpho transtornado, desceu de sua motocicleta e avançou sobre o pobre motorista, como se fosse ele o culpado de andar tão devagar naquela hora.

Por muito tempo demos muitas risadas pelo acontecido, coitado do motorista, não tinha nada com isso, passeava tranquilo com a família e ainda levou uns empurrões.

Confusão terminada, Segnini recolheu a motocicleta que exibia, levando de volta para a revenda. Quanto a Manolo, além de seus compromissos profissionais com a Estrada de Ferro e Waldemar Zago do Moto Veslam, seguiram suas trajetórias de grandes pilotos.

Para meu privilégio pessoal, tive a oportunidade de corrermos pelo menos uma única vez no mesmo dia, ainda que em categorias diferentes, na cidade de Jaú. Naquele dia era para ele não correr, pois recuperava-se de um acidente de rua que comprometera o movimento de sua perna direita, a do freio. Perto do início da prova, por ironia do destino, alguém desistiu e acabou sobrando uma lambreta. A ordem era: Ele não pode correr.

Com todo o jeitinho e prestígio que possuía, acabou convencendo a direção de prova em deixá-lo largar, sob a condição de sair em último e só passear para matar a vontade. Combinar é uma coisa, agora pedir para um piloto de ponta “maneirar” é absoluta perda de tempo.

Manolo largando em corrida de Lambreta

Com todo o cuidado, somente usando o freio dianteiro, passo a passo foi ultrapassando quem estava na sua frente terminando a corrida na terceira posição, reclamando ainda que a prova tinha terminado muito cedo. Ao término da prova, ainda me lembro do suor correndo pelo seu rosto, os poucos cabelos despenteados e ainda do brilho dos seus olhos ao descer da lambreta.

Muitos abraços por ele ter recebido a bandeira quadriculada e o alívio da equipe do Moto Clube Araraquara pelo mesmo ter completado o percurso sem nenhum arranhão.

Velhos Tempos, Belos Dias.