“Se eles quiserem me ouvir é nestas condições, caso contrário vou ao Ministério Público e falo com o Raul, será mais produtivo” (Marcelo Roldan).
Como havia prometido, o sindicalista Marcelo dos Santos Roldan, integrante do Sindicato dos Servidores Municipais de Araraquara e Região (SISMAR), nesta segunda-feira (14), esteve na Controladoria Geral do Município para prestar esclarecimentos sobre – denúncias de corrupção que havia publicado nas redes sociais em dezembro. Ele estava acompanhado de Luciano Fagnani, companheiro e também diretor do sindicato.
Antes de contar o que sabe sobre a Fungota, Departamento Autônomo de Água e Esgoto e a própria Prefeitura, o sindicalista optou em reivindicar através de um termo a garantia de que as informações jamais poderão ser utilizadas contra ele, em processos administrativos ou sindicâncias.
FALANDO AO NOSSO PORTAL
Ousado nas suas declarações e confessando estar entristecido com situações que maculam o serviço público, Marcelo Roldan diz ter entregado a CGM, documento em que exige garantias a partir do momento que decidir contar o que sabe. “A Prefeitura tem histórico, não desta administração, mas de todas que eu conheci pelo menos, de que quem leva denúncias acaba sendo alvo de retaliações, perseguições. Eu já passei por isso”, comentou satirizando: “Cachorro mordido de cobra tem medo de lingüiça”.
Quando questionado sobre o tratamento que lhe foi dispensado na Controladoria, Roldan diz que “foi bem tranqüilo” e explicou que “este setor foi criado dentro da Prefeitura com dispositivos para estudar situações que envolvem o mal uso do dinheiro público, as fraudes, mas também com poder de elaborar protocolos e desenvolver métodos eficientes que visam minimizar ou impedir o desvio de recursos operacionalizados pelo próprio município”.
“Ali temos servidores, dois novos e outros mais antigos, formando uma controladoria que se depara pela primeira vez com um caso assim, para estudos e decisões”, comentou Roldan.
De fato a CGM ao ouvir Roldan, se isso acontecer, terá que entender por onde ele recebe denúncias e consegue filtrá-las: “Lá no sindicato passa muita informação e como acabei me transformando em uma referência por conta de denúncias feitas no passado; hoje muita gente me procura para falar coisas tristes com relação ao jeito que o dinheiro público vem sendo usado e isso não é de agora, é de longa data, envolvendo agentes públicos, independentemente de qual administração; envolve servidores de carreira e empresas, quer dizer muita gente que vai criando jeito de fazer com que seja normal a maneira como se gasta o dinheiro público. E tem gente que ouvindo isso do lado de fora da Prefeitura acaba comentando que é normal, que funciona deste jeito mesmo e que se não der não sei quanto não se contrata, a coisa não anda. Isso é muito triste. A gestão pública tem que ser mais profissional e menos pessoal”, comenta o sindicalista.
Quando indagado se houve alguma insistência para relatar algum caso, Roldan rebateu: “De forma alguma, são servidores de fato, profissionais, e como sindicalista e cidadão disse a eles que façam cursos de capacitação, que busquem aperfeiçoamento na atividade que exercem e que mantenham a postura correta dentro da administração, recebendo os fatos, investigando e propondo soluções para os problemas. O que estou fazendo não é uma caça às bruxas: a idéia é a gente criar dispositivos para que o município controle melhor as coisas”, esclareceu.
O próprio Roldan deu como exemplo, o que ele ouviu de que um carro foi para a manutenção e com ele se gastou R$ 5 mil, metade do que ele custa (R$ 10 mil). “Pior que voltou com o mesmo problema e não se faz nada”. Ele contesta também o procedimento das manutenções serem feitas em Ribeirão Preto e pergunta: “Será que não fica mais barato se fazer em Araraquara?
Temeroso em mostrar o que tem guardado, Roldan chegar a admitir que como servidor já viu muita coisa acontecer e ser perseguido: “Já me arrumaram uma situação que acabou me envolvendo com a Prefeitura e a Justiça; senti o peso que tem a mão do poder e quem tem costa quente, contatos… imagine o que eles podem fazer com a gente. Por isso então, agora, fui lá e pedi para me resguardar”, justifica.
Retrocedendo no tempo, Marcelo Roldan lembrou os perigos de uma denúncia feita sobre o aterro de uma nascente na Chácara Flora e que acabou em nada. “Considero ter sido mal feita, mal encaminhada para o Ministério Público, pela Polícia, por todos que se envolveram. Acabaram passando um pano, deixaram a coisa quieta”.
Por essa razão é que Marcelo Roldan agora propôs no termo levado a Controladoria para que se comprometam em não ocorra uma inversão e seja ele o prejudicado: “Que as informações não virem contra mim, para que depois, que não aleguem denúncia vazia, nem justifiquem com esses papinhos de jurisdiquês que o pessoal gosta de usar; se eles aceitarem as minhas condições assinando um termo garantindo que não haverá retaliação, tudo bem”.
Sobre o que escreveu nas redes sociais ele considera um desabafo após ouvir empresários e servidores; se não derem as garantias solicitadas vai levar as denúncias ao Ministério Público: “Vou lá e falo com o Raul, vai ser mais produtivo”. Algumas informações preparadas por Marcelo Roldan envolvem a Fungota, a Prefeitura e o DAAE. “Onde se imagina tem”, conclui.
NOTA DA PREFEITURA
Após a entrevista de Roldanao RCIARARAQUARA.COM a Prefeitura Municipal divulgou nesta quinta-feira (17), a seguinte nota:
“Com relação às denúncias do servidor público, Marcelo Roldan, atualmente licenciado junto ao Sindicato dos Servidores do Município de Araraquara e Região (Sismar), é importante enfatizar que foi a própria administração quem enviou ofícios à Procuradoria Geral do Município, à Controladoria Geral do Município, à Comissão de Ética Pública do Poder Executivo Municipal e ao Ministério Público do Estado de São Paulo solicitando apuração das graves denúncias feitas por ele em rede social a respeito de supostas irregularidades ocorridas tanto na Administração Municipal direta, quanto no Departamento Autônomo de Água e Esgotos, o Daae.
No documento, o prefeito Edinho solicita aos órgãos fiscalizadores que sejam tomadas medidas cabíveis, em nome Município, mediante os instrumentos administrativos cabíveis, para a apuração de infrações ao Código de Conduta do Servidor Público, a partir dos fatos narrados.
Para a administração, as afirmações feitas por Roldan em rede social apontam para condutas administrativa e penalmente relevantes cometidas, em tese, por agentes públicos municipais em diversas áreas, dentre as quais contratos administrativos e compras públicas. Por isso, devem ser investigadas.
As garantias do denunciante estão previstas em lei. O próprio Ministério Público, também acionado pela administração, é o fiscalizador dos interesses difusos.
Mas é também legal, exigido por lei, que ao acusador cabe a apresentação das provas”.