Engana-se quem pensa que a internet matou a venda de CDs e LPs. Claro que plataformas online mudaram a maneira de muita gente ouvir música, porém a parcela que não abre mão de uma mídia física ainda existe. E cada vez mais mostra sua força. Ao menos é o que indica recente relatório da Associação da Indústria de Gravação da América (Recording Industry Association of America), órgão que contabiliza as produções musicais do continente.
Segundo o levantamento, os downloads digitais despencaram 25% (faturaram 1,3 bilhão de dólares) em relação ao ano anterior. A receita de produtos físicos, como Lps e CDs, por outro lado, caiu apenas 4% (1,5 bilhão). Logo, o documento aponta que as vendas de produtos físicos superaram então os virtuais, fato que não ocorria desde 2011. Além disso, a indústria da música cresceu pelo segundo ano consecutivo, alcançando 8,7 bilhões de dólares em receita total, melhor resultado desde 2008.
Em Araraquara o assunto repercute, no mundo daqueles que amam a música e a arte, de maneira geral.
Fomos às ruas para ouvir a opinião de dois proprietários de sebos da cidade, afinal, espaços do tipo são as principais vias de consumo para aqueles que cultivam o hábito de comprar CDs e LPs. Para Celso Monari Paiva, do Uraricoera, a venda de discos de vinil segue em constante crescimento, com novas fábricas surgindo no mundo todo. Uma prova disso é que cada vez mais artistas contemporâneos lançam seus trabalhos em LP e inúmeros relançamentos são anunciados todo mês.
“Esse mercado ainda deve crescer nos próximos anos, uma vez que somente em 2016, começaram a reaparecer fabricantes de equipamento para produção de discos. Até então, todas as fábricas de discos de vinil em atividade no mundo atuavam com o escasso maquinário do século passado, muitas vezes recuperado da condição de sucata.
Este entrave para o surgimento de novas fábricas acabou, o que deve ampliar a oferta de discos para um mercado que tem absorvido bem sua produção atual”, analisa Celso.
E sobre a eterna discussão sobre a qualidade de cada meio de reprodução, no caso CD e LP, o empresário pontua que existe um público para cada um deles, ou ainda quem quer desfrutar de todos eles. Para ele, mesmo o CD, que segue uma tendência de baixa, deve encontrar um ponto de estabilidade, pois muita gente continua não abrindo mão de uma boa mídia física.
“Um álbum de música é quase sempre um projeto complexo, que vai da criação e escolha do repertório ao trabalho gráfico e sua distribuição. Ouvir músicas aleatoriamente no celular distancia um pouco os ouvintes desse universo de criação. Já a mídia física representa a síntese de todo esse processo, sua materialização. Acabam de sair duas pessoas aqui da loja levando discos para presentear: um Beatles (‘Sgt. pepper’s Lonely Hearts Club Band’) e um Queen (The Game). Imagine se ao invés desses presentes, o felizardo ganhasse uma assinatura do Spotify? Duvido que a sensação seria a mesma”, finaliza.
Para Ricardo Sother Sciubba, da Ricks Records, o público que ainda procura CD´s e LP´s vai ao encontro de fãs de estilos como jazz, rock e MPB. Para ele, que viaja o Brasil em feiras do tipo, amantes dessa arte ganham força em eventos relacionados, que apresentam muita coisa antiga, o que desperta ainda mais a vontade de colecionar.
“A BBC divulgou uma pesquisa que atesta como até mesmo o streaming de música digital, tem impulsionado a venda dos bons e velhos bolachões nos últimos anos, no que parece ser uma convivência cada vez mais azeitada entre os diferentes formatos”, diz Sciubba.
Para a fotógrafa e guitarrista/vocalista da banda La Burca, de Araraquara, Amanda Rocha, comprar discos de vinil é um hábito de mais de anos, que ela adquiriu junto aos pais.
Quanto a CDs, hoje, ela não compra com frequência, mas aceita como presente. Para ela, a mídia física nunca morrerá, afinal, com a solidão e frieza que uma música online pode passar, é superada pela aproximação com o artista através do encarte, com letras e textos específicos. “Tem que caçar, mas dá para achar coisa boa, com certeza”, revela.