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Governo se desequilibra na corda, desidrata Ministério e enfraquece Marina Silva

Marina Silva diz que - falta de apoio ao Governo no congresso impede levantamento de voo do seu ministério que pode perder propostas atraentes ao meio ambiente. O jornalista e sociólogo José Maria Viana faz uma narrativa da situação.

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Marina e o presidente Lula

ANIMAL POLÍTICO
Dizem que o presidente Lula (tri-presidente), é uma raposa, ou seja, um animal político! Pois bem, não sei se está cansado, ou se não raciocina bem, ou se teve sorte nos 1 e 2, ou se faltou a ele um cara como José Dirceu, no 3. Está enrolado com o Congresso e não tem saída é refém! No 1, Dirceu montou a base com o Mensalão, no 2, com o Petrolão! Bolsonaro criou o Orçamento Secreto, bem pior e mais caro que os dois juntos. A culpa é do Presidencialismo de Coalizão? Então, como dizia o triste Ciro Gomes, o melhor não seria mudar o modelo político?

Já escrevi aqui, mas faço questão de relembrar aos incautos ou para quem não leu. No Lula 1, José Dirceu comprou 100 deputados por 1 milhão cada para cinco partidos da base. Na hora de votar, eles pediram um Mensalão! No 2, o Petrolão, quando foram devolvidos 6 bilhões! Em seguida veio o Ministério de Porteira Fechada, onde se fazia a arrecadação! Bolsonaro criou o Orçamento Secreto: rombo de mais de 50 bilhões. Que mude o modelo político e econômico!

POLÍTICA AMBIENTAL
A decisão da Comissão Mista do Congresso de modificar a Medida Provisória 1.154, retirando órgãos e atribuições especialmente dos Ministérios do Meio Ambiente e também dos Povos Originários, atinge em cheio a política ambiental e de apoio aos Povos Indígenas do Governo Lula e, de quebra, rasga a credibilidade do Brasil no trato das questões climáticas. Tais políticas foram exibidas ao mundo como provas de mudanças reais em relação ao Governo Bolsonaro.

DESIDRATANDO MARINA
A proposta que teria apoio de Lula e do Governo, retira do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, a Agência Nacional de Águas e o Cadastro Ambiental Rural. Desidrata o Ministério e enfraquece Marina Silva por um lado – exibida no início do Governo Lula 3 como um trunfo em face de sua credibilidade no trato das questões climáticas e ambientais – e por outro acena com mudanças de rumo e atinge a ministra no enfrentamento de suas lutas.

CENTRÃO E PETROBRÁS
A ministra ameniza o enfraquecimento de seu Ministério atribuindo os revezes à falta de maioria do Governo no Congresso, mas sabe que, no fundo, tem a ver com a sua luta contrária aos interesses que o Centrão abraça e, especialmente, com a queda de braço que trava contra a exploração de petróleo pela Petrobrás na bacia da foz do rio Amazonas. A negação da licença pelo Ibama contrariou interesses dos mais diversos: do Governo, da Petrobrás e de políticos.

CREDIBILIDADE
Contrariado com a ministra e se dizendo “traído”, pela negação da licença para a exploração de petróleo, Lula estaria incentivando políticos descontentes do Congresso, com a medida, e também a Petrobrás a insistirem na licença e em último caso, passarem por cima do Ibama e da própria ministra, encontrando meios de atingirem seus intentos. Mas Lula sabe o custo que seria uma eventual saída de Marina do Governo pela credibilidade que ela tem no mundo.

POVOS INDÍGENAS
A mesma Comissão piorou mais ainda para o Ministério dos Povos Originários, retirando-lhe a responsabilidade e o reconhecimento pela demarcação de terras indígenas, esvaziando-o. A atribuição dessa função passou para o Ministério da Justiça. O Governo que discutiu pelos seus líderes as mudanças com a Comissão, optou por aceitá-las, em vez de confrontar a Câmara dos Deputados, pois defende urgência na aprovação da MP, evitando assim a perda da validade.

DEMARCAÇÃO DE TERRAS
Nem bem esfriou a bomba lançada pela Comissão, o Centrão – que manda na Câmara mais o Arthur Lyra – anunciou através da bancada ruralista que vai apresentar um projeto de lei com medidas para impedir a demarcação de novas terras indígenas, se antecipando ao julgamento do STF sobre a questão. Pela Constituição, as terras ocupadas pelos povos originários seriam garantidas antes da formação do Estado brasileiro e não a partir da Constituição de 1988.

TUDO COMO DANTES?
Em tempo! Dada a repercussão negativa de todos os lados, essa semana, depois da reunião entre Lula, Marina Silva, Sônia Guajajara, Casa Civil e Articulação, as coisas foram minimizadas, o Governo pretende lutar junto à Câmara para manter o texto original da MP que reorganizou a Esplanada dos Ministérios! A ideia é que nada mude na MP. As duas ministras ameaçaram deixar o Governo e Lula sabe o preço que pagaria se isso acontecesse. Quer voltar atrás!

ABANDONO DOS SEUS
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) está lavando as mãos e abandonando seus assessores que estão presos: seu faz tudo Mauro Cid, o repulsivo ex-deputado Roberto Jefferson e o intragável ex-deputado Daniel Silveira, assim como fez com Anderson Torres, preso por quatro meses. Analistas consideram que jogará aos cães até a mulher Michele, se for preciso. E perguntam o que fará quando a coisa chegar a seus filhos, se vai valer a máxima: a “família acima de tudo”?

NEGACIONISMO
Em minoria a tropa de choque bolsonarista ensaia fraudar até os fatos mais cristalinos daquele domingo, 8 de janeiro, na CPI dos Atos Golpistas, e reescrever a história a seu modo para proteger autores e patrocinadores dos ataques. Inspirados na CPI da Covid, recorrem como modo de atuar, ao negacionismo. Lyra entregou a presidência da Comissão a um bolsonarista radical, Arthur Maia (UB) que disse: “A Comissão vai identificar se houve uma tentativa de golpe”! A relatoria ficou com a senadora, Eliziane Gama (PSD), mais próxima do PT.

LULA X ZELESNKY
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva convidado para a reunião dos países mais industrializados do mundo, o G7 (EUA, Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão e Reino Unido) em Tóquio, quis pousar de estadista e marcou uma reunião com o presidente Volodymyr Zelensky para discutir a guerra na Ucrânia. Recebido como celebridade no encontro, Zelensky ignorou Lula e não foi ao encontro alegando incompatibilidade de agenda. Ele não confia na isenção do brasileiro!

NOVA FEDERAÇÃO
As Cúpulas de PSDB e MDB que já foram um só – separados em 1988 quando Orestes Quércia torna-se dono do partido – e formaram chapa na eleição presidencial de 2022, retomaram as conversas para a formação de uma federação. O assunto debatido numa reunião em Brasília, na quarta-feira (24), pretende agregar os emedebistas à federação que já existe entre PSDB e Cidadania e que valeria somente para a eleição municipal, embora se estenderia até 2026.