Não bastasse a elaboração de boletim de ocorrência denunciando violência praticada contra internados na Clínica Santo Expedito, no Parque das Laranjeiras em Araraquara, autorizada para recuperar pacientes drogados, o advogado Leonardo Ribeiro da Silva decidiu reforçar a queixa crime junto à Polícia Federal descrevendo as agressões e os maus tratos sofridos pelo seu cliente – José Victor Tomé da Silva, 44 anos.
Segundo o advogado, o paciente ficou internado no período de 13 de janeiro até 05 de maio deste ano, deixando o local por conta da interdição da clínica feita pelas autoridades, após a morte de outro interno – Jean Carlos Bastos, de 35 anos, que foi hospitalizado após tentativa de internação involuntária na unidade de reabilitação em Araraquara. A morte do internado continua sob investigação, porém já ocasionou o fechamento.
Dias depois da paralisação das atividades da clínica outro interno, no caso José Victor, denunciou o mesmo local por tortura. A nova vítima foi internada neste local e como no caso de Jean Carlos Bastos, o homem que morreu, a internação do paciente teria se dado de forma violenta.
“Eles entraram na minha casa, me tiraram de dentro da minha casa e me deram um mata leão. Desde dentro da minha casa até a chegada do carro, eu fui sendo agredido. Eu não queria ir, eu resisti”, contou o denunciante ao seu advogado, Leonardo Ribeiro, que mantém escritório em Américo Brasiliense e atende principalmente clientes da região central do Estado.

Para ser retirado de casa, o homem diz ter recebido um mata leão e chutes, sofrendo lesões em seu olho direito e rompimento nos ligamentos do joelho esquerdo. Os três funcionários também o teriam ameaçado, dizendo que parariam o carro em um canavial, para fazer mais agressões. Durante o percurso, ele levou socos na cara e tentaram quebrar a mão dele.
No documento enviado à Polícia Federal, o advogado narra que seu cliente, desde o primeiro dia de sua entrada, passou a vivenciar este ambiente de extrema hostilidade, privação e violência. Em vez de receber qualquer tipo de tratamento terapêutico legítimo, foi submetido a uma rotina forçada de trabalho análogo à escravidão, sendo coagido a cumprir uma jornada exaustiva de mais de 14 horas diárias na cozinha da clínica, iniciando às 6h da manhã e encerrando somente às 21h, sem qualquer remuneração ou compensação, sob a constante ameaça de punições físicas e psicológicas.
Além da sobrecarga na cozinha, em claro abuso, o noticiante foi forçado a atuar como “terapeuta” da instituição, mesmo sem qualquer formação na área, sendo obrigado a ministrar palestras diárias aos demais internos. “Trata-se de verdadeira instrumentalização de sua condição de internação para suprir atividades operacionais da clínica, o que agrava ainda mais o cenário de desumanização e coerção”, alerta o advogado.
A vítima ficou na clínica até 16 de abril deste ano, onde sofreu diversos tipos de tortura, tanto física quanto psicológica, por parte dos funcionários. Nos 27 dias em que ficou lá, ele afirma não ter visto a cara de um médico.
Através do advogado, José Victor diz que só conseguiu deixar a clínica porque fugiu do local. “Consegui abrir a porta do quarto na madrugada. Aproveitei que o cachorro estava preso, porque eles tinham mantido a Rottweiler pra olhar à noite lá, e eu consegui fugir”, explicou.
Ainda na denúncia feita à Polícia Federal, Leonardo Ribeiro assegura que – torna-se evidente que a Clínica Santo Expedito atuava à margem da legalidade, violando frontalmente os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana, da liberdade e da integridade física e psíquica, promovendo verdadeiras situações de escravidão moderna, incompatíveis com qualquer proposta de tratamento de saúde.
A defesa da Clínica Santo Expedito, afirmou que “não há e nunca houve esse tipo de coisa dentro da clínica”.
Contudo, o caso está sendo investigado por meio de inquérito policial instaurado pelo 3º DP de Araraquara, informou a Secretaria da Segurança Pública. Além disso, há neste momento a denúncia feita à Polícia Federal.
A MORTE OCORRIDA NA CLÍNICA
A Polícia Civil paulista investiga as circunstâncias da morte de Jean Carlos Bastos, de 35 anos, que foi hospitalizado após tentativa de internação involuntária na clínica de reabilitação em Araraquara.
Segundo o advogado da família, Leonardo Ribeiro, na manhã de quinta-feira (1º/5), Jean avisou sua mãe que gostaria de se recuperar do uso de drogas. A mãe, então, procurou uma clínica em Araraquara.
Já no primeiro contato, a clínica, que fica localizada no Parque das Laranjeiras, propôs a internação compulsória.
Os funcionários da clínica chegaram na casa de Jean, no município de Américo Brasiliense, por volta das 15h de quinta-feira. A vítima estava dormindo e, quando foi acordada, disse que não queria ir.
Mesmo assim, eles usaram a força para agarrar Jean, o pegando pelo pescoço e o jogando no chão.
A mãe de Jean pediu para os funcionários pararem, mas eles não obedeceram. Um deles teria dito a ela que esse era o procedimento, disse o advogado da família – Leonardo Ribeiro.
Jean foi colocado dentro de um carro enquanto era asfixiado pelos funcionários da clínica e foi levado embora.
A mãe, então, ligou para o responsável pela clínica e foi informada que seu filho havia sido levado para a UPA Melhado.
Quando chegou lá, a mãe descobriu que Jean teve parada cardíaca e que seria entubado e aguardava vaga na UTI.
Jean morreu algumas horas depois, na madrugada de sexta-feira (2/5), enquanto estava internado.
A certidão de óbito de Jean aponta que a causa da morte foi por asfixia por constrição cervical, afirmou o advogado da família. Leonardo Ribeiro também acompanhou a declaração dos funcionários, que, em depoimento para a polícia, se intitularam como ‘pacientes colaboradores’ da clínica, não enfermeiros ou técnicos de enfermagem.
A SSP informou que a ocorrência foi registrada no plantão da Delegacia Seccional de Araraquara e que diligências estão em andamento para esclarecer os fatos. Os representantes da Clínica Santo Expedito dizem que sentem muito pelo ocorrido e estão em contato com a família para prestar toda solidariedade, disse a defesa.