Não sei de onde vem, mais chega em mim como uma áurea. Meu corpo, meio que levitando, sente a presença de um sopro que me empurra pra frente, me faz ajeitar na cadeira e me coloca em transe, sinto como se a curva estivesse chegando e movimentos imaginários me fazem acelerar e brecar. Sinto uma emoção indescritível, tenho a sensação de que meus joelhos, meus cotovelos e minhas costas desafiam o asfalto, para em seguida, altaneiro continuar uma corrida sem vencedores e vencidos.
Nessa prova, lá na frente, todos os pilotos são meus ídolos maiores, Evaldo Salerno, Olympio Bernardes Ferreira Neto, Celso (Baiano Faito), Johnny Cecotto, Carlos (Jacaré) Pavan, Denisio Casarini, Eduardo Luzia, José da Penha Moreira, Valentino Rossi, Alexandre Barros, Antonio Bernardo Neto, Pinho (José Manoel Sampaio), Valter (Tucano) Barchi, Manolo (Emanoel Toledo Lima), Ramon Macaia, Giacomo Agostini, Phil Read, Negão (Luiz Antonio Candido), Kent Anderson, Paolo Tognochi, Carlinhos Aguiar, Zé Faito, Paulo (Paulé) Salvalagio, Zé Duvilio (José Roberto Tedeschi)… fazem a tomada da curva, fazem a dois como se fosse única e caminham, retão à frente, 800m até a entrada da 3, quando o coração pulsa muito forte, rumo à curva que cresce se agigantando na minha frente. Passo adiante, todos como um bloco só, em direção à ferradura se ajeitam e um a um vão completando o trecho em direção à subida do lago, ganhando a reta oposta como uma orquestra absolutamente organizada de sons, de pêndulos e magias.
Isto tudo, este sonho, começou bem lá atrás, por volta de 1971, em torno de uma igreja na cidade de Jaú, sem saber da importância que o evento traria para minha vida; fui recebido e aconchegado nas instalações de Valdemar Zago e Carlos Murari que o tempo os transformou em campeoníssimos na modalidade de lambretas.
Carlos tive pouca convivência, mais admiração eterna. Zago despensa comentários, campeão brasileiro de provas com lambretas, alcançou seu ápice como preparador de motores. Desenvolveu um foguete: a lambreta de número 88 era um verdadeiro foguete, fez história e tem até hoje o respeito de toda nossa comunidade.
Como preparador também ajudou muito ao Moto Clube Araraquara. Com Penha e Adolfo Tedeschi, juntos, faziam coisas inimagináveis, progressos técnicos que desafiavam as equipes de fábrica, dotada de engenheiros e orçamento sem fim. No kart, foi ainda mais, foi ele quem cuidou do equipamento de Antonio Pizzonia, o “jungle boy”, que mais tarde chegou à F1. Impossível não associar seu talento de preparador ao talento do espetacular Newton “Boca” Gonçalves, outro multicampeão, igualmente talentoso, um grande nome da nossa velocidade.
Berto Zabra (Humberto da Funerária), Peixeiro (Luizinho Ventrilo), Manolo “Bucho” Segura, Nei (José Carlos Elias), também foram grandes expoentes deste movimento, cada um com sua história, seus resultados, suas emoções, mas todos também com inegável talento, que se transformaram em ídolos num tempo cheio de emoções.
Velhos Tempos, Belos Dias.