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Carnaval é “fumacê”, vagões abandonados e um marketing em cima da desgraça alheia

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Dengue 107

Nunca na história da cidade se viu uma população exposta ao comprometimento da sua saúde, correndo riscos e lamentando a perda pela qualidade de vida

Dengue 107Prédio da Prefeitura tomado por cartazes colocados pelos manifestantes neste sábado  

Vagões abandonados nas margens da Rua Antônio Prado até o cruzamento com a Via Expressa não representam apenas um risco para a saúde pública num período de extrema insegurança causada por criadouros do mosquito da dengue. A manifestação crítica da população mostra isso contra a falta de cidadania, mas o Poder Público jamais poderia se omitir ou então negligenciar diante de um caso tão grave nos últimos anos, sabendo que os índices foram aumentando.

Entendemos que o prefeito Edinho Silva tem razão quando diz da irresponsabilidade e falta de cidadania dos que não se atentam para a manutenção de uma cidade limpa, que oferece bolsões específicos para a guarda do lixo ou materiais inservíveis. Parte da população pratica sim esse desmanzelo, mas nem por isso devemos atribuir à essa atitude inconseqüente a origem de sete mortes.

Os vagões da antiga Rumo, hoje sob guarda da Denit – Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte, não devem ser confundidos com um saco de lixo, tão pouco com restos de construção pois há uma grande diferença entre o peso e a quantidade. O lixo, ao vê-lo, qualquer cidadão em sã consciência verá que é bem diferente de um vagão de trem, estando sempre perfeitamente visível ao menos inteligente dos fiscais. Logo, fiscalizar um vagão de trem seria bem mais fácil e coerente.

Os ‘sujismundos’ são tão culpados quanto a própria Prefeitura pois levando-se em conta que o exemplo vem de cima, o desmanzelo ganhou força após a cidade ficar tão descuidada, com enormes matagais, buracos nas vias públicas, prédios e locais abandonados, como este que chama a atenção pois está bem debaixo do nosso nariz.

Júlia Roberts faz bem o papel no filme de 1990 – “Dormindo com o Inimigo”, tanto quanto a obra de Alfred Hitchoock explica que “O perigo mora ao lado”. Situações semelhantes que mostram a pouca importância que o Poder Público deu ao inimigo (aedes), revestido de perigo e morando quase ao lado do Paço Municipal.

Assim, “Dormindo com o Inimigo” e “O perigo mora ao lado” espelham bem os riscos a que estamos expostos em pleno carnaval, trocando confetes e serpentinas pelo fumacê e cantando “Hê! Hê! Hê! fumacê! Ah! Ah! Ah! fumaçá!…”, coisa que vem lá de 1970. Quem diria que ainda viveríamos uma situação como essa, onde quanto mais desgraça, mais dinheiro do contribuinte corre.

É fato que nenhuma cidade está isenta de um risco de epidemia, mas bem que poderíamos ter evitado chegar ao extremo que chegamos, vergonhosamente infestada de criadouros, situação que não se compara a mais infortunada e paupérrima cidade deste país.

Mas como diziam os antigos que – não se adianta colocar tranca depois da porta arrombada – vamos nos precaver diante do que resta, entendendo que a lição é cruel, pois no meio do caminho há sete vidas e pelas quais não haverá responsáveis ou lágrimas de políticos para consolar familiares ou amigos.

A manifestação deste sábado (2) é um grito contra a arrogância, contra o marketing abestalhado que se usa para valorizar o copinho com água parada nos matagais que deveriam ter sido capinados, quando não há preocupação com os vagões assentados no vai e vem das nossas vidas.

Cemiterio Trem 107Atitude criminosa deixar sucatas de vagões espalhadas nas margens da Antonio Prado

Cemiterio Trem 108Ainda bem que por estes buracos nos vagões não entra água da chuva

Cemiterio Trem 109Se de um lado existe o mato, do outro para compensar, os vagões com a boca aberta

Cemiterio Trem 110Sem legenda

Muito bem, a culpa é nossa pelo lixo nos fundos quintais. Pagamos pela condenação, contudo não se acha o responsável pelos trens abandonados nos quintais da Prefeitura, não se acha o culpado pela selva que adorna os bens públicos. Voltaremos ao assunto.