
Em nota distribuída na manhã desta sexta-feira (25) a Santa Casa de Misericórdia diz que hoje está completando 120 anos de atividades e sua trajetória tem sido marcada por um trabalho solidário de doadores, da contribuição de voluntários e até da dedicação muitas vezes sobre-humana dos profissionais de saúde.
O fato inconteste, no entanto, é que a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Araraquara enfrentou e superou cada um dos obstáculos até aqui para comemorar neste 25 de fevereiro, 120 anos de existência. “É uma história de amor ao próximo”, resume o diretor-geral da Santa Casa de Araraquara, Rogério Bartkevicius. Nenhum organismo público ou privado, de qualquer natureza jurídica, nasce patrimônio afetivo de uma cidade. Torna-se. E a Santa Casa tornou-se.
É verdade que o hospital está na lembrança dos mais velhos, como o ginecologista Leonardo Cunha, cujo primeiro contato com o hospital se deu numa das relações mais puras, e por isso mais sublimes, que existem: a de avós e netos. Há 80 anos, em janeiro de 1942, quando ele contava 11 anos, a avó de Cunha faleceu no hospital. E ele tinha vindo de Itápolis (SP) visitá-la, com o pai, que era médico. Em 1970, Cunha muda-se para Araraquara. Aos 91 anos, ele é professor do Centro de Ensino e Pesquisa da Santa Casa. Chama a atenção que lá atrás a Santa Casa já fosse referência regional.
Ou então do pediatra e hoje diretor-secretário Valter Curi Rodrigues, à frente da instituição desde 2005, liderando as inúmeras conquistas recentes do hospital em gestão, processos, estrutura física, tecnologia e pessoas, além da recuperação da filantropia, da formação e organização do hospital de ensino e da parceria com a Universidade de Araraquara (Uniara). Ele se recorda dos médicos que, recém-chegado da residência médica no Rio de Janeiro (RJ), em 1968, convidaram-no para ingressar na Santa Casa: Cláudio Curti, Dudu Lauand e Bertolino Bruno de Almeida.
E está também nas lembranças dos mais novos, como o estagiário do departamento de Comunicação Pedro Santos. Quando a família dele veio de São Paulo (SP) para Araraquara, o primeiro emprego de sua avó foi na Santa Casa. Seu irmão nasceu no hospital. A maternidade seria transferida para a Gota de Leite em 2012. Para os jovens, além dos arquivos, a Santa Casa faz parte ainda dos sonhos. Pedro Henrique sabe que o hospital funciona como um fator de equilíbrio social.

ANOS DE ESTRUTURAÇÃO
O provedor da Santa Casa, Marco Antônio Castelli Brandão, lembra que há cerca de 15 anos a instituição, sob a direção de Valter Curi Rodrigues, com o apoio do cardiologista Othon Amaral Neto e do gestor Jader Pires, vem seguindo uma tendência que pautava os hospitais filantrópicos, buscou a profissionalização da gestão, justamente idealizando a sustentabilidade da Santa Casa.
“Na realidade, o SUS foi evoluindo desde 1988 e os hospitais precisavam se profissionalizar, modernizar a administração, ser transparentes no uso de recursos públicos repassados por contratualizações, oferecer acolhimento, humanização e qualidade, ser eficientes no atendimento de alta complexidade, e por aí vai”, comenta. “E foi isso que a Santa Casa fez.”
Desde a participação, em 2009 e 2010, no Programa CPFL de Revitalização de Hospitais Filantrópicos, parceria entre a concessionária de energia elétrica e o Governo do Estado de São Paulo, a Santa Casa alcançou consecutivamente importantes avanços para a comunidade regional. Na ocasião, a diretoria da Santa Casa conheceu o pediatra especialista em saúde pública e administração hospitalar Giovanni di Sarno, hoje consultor do hospital, figura central para a obtenção da acreditação QMentum IQG International – Diamond.
Então, de 2014 para cá, vieram o ingresso como hospital estruturante do programa Santas Casas SUStentáveis; o Centro de Diagnóstico por Imagem; os novos leitos SUS e de convênio; a reforma do Centro Cirúrgico; a implantação do Soul MV Hospitalar, com o qual a Santa Casa tornou-se o primeiro hospital filantrópico do Brasil com software de gestão instalado na nuvem; a presença frequente na lista das melhores empresas para se trabalhar; a nova recepção e a revitalização da fachada histórica do hospital; a Clínica Santa Casa; o Hospital do Câncer de Araraquara; a primeira Santa Casa do estado a receber a acreditação QMentum IQG International – Diamond, metodologia de origem canadense que orienta e monitora padrões de alta performance em qualidade e segurança na área de saúde; e o plano de saúde próprio HSaúde.

“Eu gostaria de dizer que o legado do Valter é imensurável, mas isso é elitista, e até injusto com ele. Porque as pessoas que só podem contar com o SUS, com a Santa Casa, que precisam do hospital, elas conseguem mensurar, sim. Elas sabem que a Santa Casa melhorou. O legado do Valter é facilmente perceptível para quem usou e quem usa a Santa Casa, é só comparar”, avalia Brandão.
No entanto, ele ressalta que as evoluções geram custos. “Aquela máxima que gestores de saúde costumam usar é totalmente verdadeira: vidas não têm preço, mas cuidados médicos têm custo. A aquisição – e a manutenção constante – de equipamentos, materiais hospitalares, medicamentos, tudo isso custa. Custa caro. E hoje em dia custa mais caro ainda”, diz.
A CONTRIBUIÇÃO DAS PREFEITURAS DA REGIÃO
A Santa Casaé referência em 30 especialidades de alta complexidade, como urgência e emergência, cardiologia, ortopedia, oncologia, neurocirurgia e oftalmologia, para 24 municípios, que totalizam mais de 1 milhão de habitantes.São cerca de 300 mil atendimentos por ano, entre cirurgias, internações, consultas, diagnóstico por imagem, exames laboratoriais e tratamentos oncológicos, o que demanda ampla estrutura física e operacional. A Santa Casa tem 23 leitos de Urgência e Emergência, 18 leitos de UTI Adulto e 156 leitos de hotelaria. São mais de 900 funcionários ativos, quase 300 médicos, perto de 500 alunos e estagiários e aproximadamente 60 residentes.
O hospital serve algo em torno de 250 mil refeições por ano para os pacientes internados. Só de arroz, são 2.395 quilos por mês – 28.740 quilos por ano. “É o maior restaurante de Araraquara!”, brinca o gerente financeiro da Santa Casa, Alexandre Durante.
