Se tem algo que há muitos anos me incomoda é o pensamento de diversos membros de religiões e igrejas que se dizem cristãs, cheios de religiosidades interessados em templos luxuosos, falsos profetas, usando dos seus status nas hierarquias das direções das suas entidades religiosas para fazer política partidária ou conquistar cargos nos Governos.
Não dá para aceitar bancadas evangélicas praticando “lobbies” a favor das suas organizações religiosas, e ocupando cargos no “reino do Cesar”. Se é para identificar os pecados que levam o ser humano para o inferno, com certeza os que cometem esses falsos cristão estão cheios deles.
Os anos de estudos e convivência em duas religiões cristãs, me fizeram perceber que Jesus Cristo é o caminho, a verdade e a vida (João 14:6). Lendo a Bíblia, e entendendo o que ele nos deixou quando viveu neste planeta cheio de aflições (João 16:33), me fez ser mais cristão e menos religioso. Com certeza, na maioria das igrejas que se dizem cristãs, Jesus Cristo não entra.
Quem não lê, mal fala, mal ouve e mal vê, nos ensinou Monteiro Lobato. Penso que é impossível entender o que Jesus Cristo nos ensinou, sem ler e conhecer verdadeiramente a história, a cultura e a convivência política entre os povos antigos, entendendo que eles eram seres humanos como nós, independentemente das suas religiões, que são organizações de seres humanos e não nos salvam. O Deus em que acredito está acima das religiões.
Assim penso que para os cristãos o melhor seria interpretar a Bíblia, que é um livro rico em ensinamentos, lendo também os livros que mostram, cultural e historicamente, os costumes e as convivências políticas daqueles povos antigos neste planeta Terra.
Entendendo, sociologicamente, como se organizavam e viviam aqueles povos, é possível compreender o que penso, e nos livrarmos do entendimento de que a cultura predominante é a grega e romana, sem desrespeitar as culturas de outros povos que sempre habitaram e habitam, por exemplo, a Índia antiga, a África, a Arábia, a Ásia. É preciso saber que as religiões cristãs agregam somente um terço da população mundial. As culturas, inclusive religiosas, dos povos nativos devem ser respeitadas.
Não dá para aceitar, de maneira alguma, a mistura de religião com política partidária, fatos que tem ocorrido desde o feudalismo, quando sacerdotes, guerreiros e reis viviam em permanentes conciliações políticas, dirigindo e governando juntos, e escravizando os servos e trabalhadores que produziam para manter as suas mordomias.
“Amai-vos uns aos outros como eu vos amei. Somente assim podereis ser reconhecidos como meus discípulos”, nos ensinou Jesus Cristo (João 13:34-35). Como um governante, ou seus adeptos, pode se reivindicar cristão vendo no Brasil 20 milhões de brasileiros na miséria, morando nas ruas, passando fome diante da renda pessimamente distribuída. Como concordar com R$ 400,00 de Auxílio Brasil e R$ 1.212,00 de salário-mínimo?
Penso que o cristão que não conseguir, intencionalmente ou não, entender que o “Reino de Deus” não pode ser confundido com o “Reino dos homens”, precisa conhecer Jesus Cristo lendo com atenção o evangelho, principalmente o Sermão do Monte (Mateus 5) e 25:31-46. Ali Jesus Cristo nos ensinou que o “Reino de Deus” é dos que choram arrependidos, dos pobres, dos humildes e dos perseguidos por causa das injustiças. Pensar diferente, na minha opinião, é charlatanismo.
Temos na história da humanidade diversos episódios nos mostrando o conflito entre os poderosos, governantes, e os ensinamentos de Jesus Cristo. A regra que ele nos deixou é governar sem força ou violência, mas com amor. Pode um governante e seus adeptos, que se dizem cristão estimular as compras de armas de fogo ou concordar com guerras?
O recente episódio envolvendo o ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, pastor presbiteriano, acusado de desviar recursos públicos em benefício de religiões e igrejas evangélicas, não é o único e não será o último na história da humanidade e do Brasil. Eu poderia citar muitos outros fatos idênticos mostrando que nunca deu, e dará certo, usar religiões para fins políticos partidários, ou para integrar qualquer órgão institucional ou do Governo.
Walter Miranda, Vice-presidente do Sindifisco Nacional-Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil/Delegacia Sindical de Araraquara, Diretor do SINSPREV-Sindicato dos Trabalhadores Públicos em Saúde e Previdência do Estado de S. Paulo, militante da CSP CONLUTAS-Central Sindical e Popular
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