Os 200 anos de Araraquara bem que poderiam ser comemorados de uma outra forma, mais aberta, livre, declaradamente democrática, sem respingos de uma política individualista e desnecessariamente prestadora de contas pelo mínimo que é feito. Araraquara bem que merecia mais. Ter o aroma de uma menina-moça enfeitada por seus caminhos e não ser o que vemos agora: senhora quebrada, desconsertada ecomicamente, sofrendo as consequências da insegurança pública, de ruas esburacadas, matagais vistos à luz do dia, educação a meia boca e coisas que não condizem com a tradição da cultura dos nossos antepassados. Bem que poderíamos adiar estes 200 anos.
Se é para comemorar vamos então comemorar, afinal são 200 anos que correram soltos pelas entranhas de um longo caminho, misturando glórias, decepções e cuja sobra pesa naturalmente de maneira menos confortável na atualidade. Araraquara poderia ser nestes 200 anos bem melhor do que se diz; sua posição estratégica na região central do Estado lhe dá a logística que outras não possuem mas que avançaram pela inexistência de uma política retrógrada.
Por décadas, Araraquara suportou uma industrialização esparsa tendo uma empresa aqui outra acolá, dando a impressão de cidade emperrada e estranhos poderes para não abrir suas portas. Se isso ocorreu, foi lá pelos anos 90 e já era tarde para pleitear indústrias ou empresas de porte que acelerassem a economia e o mercado de trabalho. Perdemos tempo, muito tempo. Ficamos distantes do avanço tecnológico, amarrados em pequenas ações, enquanto as grandes tomavam outros caminhos.
Pecamos pela inércia de alguns governantes e pela política pálida que ainda cria regras que não levam a cidade para lugar nenhum. Sempre tivemos a felicidade de encontrar gestores honestos e sem a prática de envolver a cidade em escândalos; uma ou outra situação aconteceu sim, mas impossível de abalar a estrutura econômica do município e se em algum momento algo semelhante tenha ocorrido, sinceramente, ficou entre quatro paredes.
Num momento como esse de reflexão, o filme da sua história passa apontando desigualdades: a queda do Teatro Municipal e de outros bens públicos que viraram moeda de troca por conta do progresso; do moderno sistema de transporte coletivo criado nos fins dos anos 50 movido a troleibus, que desapareceu e não será novidade a venda do Departamento Autonômo de Água e Esgoto num futuro não muito longe.
Mas a cidade não tem sido propagada por coisas ruins. Vive às custas da preservação das peças originalmente feitas no passado e se algumas se perderam, outras entram no campo da reposição até mesmo por necessidade. Mas das que surgiram nos últimos 25 anos, nenhuma nos traz recordação ou tenham dado um boom, maneira correta de se avaliar a economia.
Se do passado todos conhecem um pouco, nesta edição de aniversário trazemos a opinião de araraquarenses sobre “como será o amanhã”, pois o pensamento desta gente é que prevalece por sentir na pele, os problemas que os afligem na Educação, Segurança, Saúde, etc.
Não há por estes 200 anos o mesmo ufanismo de outros aniversários, onde não se lia nos rostos das pessoas – discórdia, incerteza, enfim, falta de perspectiva por uma cidade melhor. E ser a melhor é o que a tal senhora merecia.