Home Cultura e Lazer

1961: aniversário de Araraquara. O povo sai de casa para ver a corrida de carros na Bento e 36

Este 19 de agosto serve para relembrar, pois o aniversário de Araraquara já foi comemorado de várias formas: desfiles cívicos, concursos de bandas marciais e beleza, festival de balões, shows, serestas, porém, nada foi mais inusitado que as corridas de carros pela Avenida 36 e Bento de Abreu no início dos anos 60. Era o começo da carreira de Wilson e Emerson Fittipaldi, José Carlos Pacce, Bird Clemente, Marinho Camargo, Kiko Malzoni e o já veterano Chico Landi.

1461
Avenida 36 esquina com a São Bento e início da Bento de Abreu; ao fundo meia dúzia de casas. No lado esquerdo do Jardim Primavera, o prédio hoje transformado em loja pet; na direita, antiga marcenaria (atualmente posto de serviços). Por alí passaram os carros de corrida, tendo como guard rail - sacos de areia para dar segurança ao público

Em julho de 1961, o então vereador Mário Ananias conversou nos corredores da Câmara Municipal com o seu presidente Hermínio Pagotto, dizendo que gostaria de construir em Araraquara um autódromo. Na época, estava sendo fundada em São Paulo a Federação de Automobilismo. O vereador – entusiasta da modalidade – em uma das suas idas a São Paulo, já havia conversado com Eloy Gogliano, vice-presidente da federação que o aconselhou a criar uma entidade voltada para a organização de provas automobilísticas.

No retorno de São Paulo, Ananias conversou inicialmente com Hermínio Pagotto e ambos num final de tarde, 8 de julho, véspera de feriado, foram ao gabinete do prefeito Benedito de Oliveira, onde hoje se localiza a Câmara Municipal. O prefeito se entusiasmou com a ideia de organizar uma das etapas do Circuito Estadual de Automobilismo, contudo, achou muito curto o período de preparação para a prova que estaria incluída no programa de festejos do aniversário de Araraquara, um mês depois.

Mário Ananias mostra aos diretores da Federação de Automobilismo, a área reservada para o autódromo em Araraquara, próxima do Pinheirinho (1961). Rivalidade política e a intenção de Ananias ser prefeito, levaram Rômulo Lupo a abortar o sonho do vereador três anos depois

Mário Ananias se prontificou na semana seguinte em voltar a São Paulo e acertar os detalhes com Gogliano, que estabeleceu uma agenda de compromissos. As exigências, lembrou Hermínio Pagotto, alguns meses antes de falecer em 2005, iam desde as despesas nos Hotéis São Bento e Municipal para os membros da Federação de Automobilismo de São Paulo, premiação e questões de segurança por ser um circuito de rua.

Com planejamento definido, Mário Ananias discutiu com os vereadores Álvaro Waldemar Colino, Flávio Ferraz de Carvalho, Gelson Bucheroni, José Pizani e José Wellington Pinto, como seria a organização do evento, restando escolher o trajeto para então traçar o esquema de segurança com o Comandante do 13° Batalhão da Polícia Militar, que acabara de ser criado (junho de 1961), na Vila Ferroviária e o comandante Geraldo Hilário da Silva, do Posto da Polícia Rodoviária.

Antes do trajeto da prova ser levado para São Paulo na segunda quinzena de julho, Mário Ananias pediu apoio aos irmãos Barbugli, concessionários da Willys Overland do Brasil, que se comprometeram em ajudar na sinalização. Também foram os irmãos Barbugli que sugeriram o início e a chegada da prova logo após o primeiro balão, na Avenida Bento de Abreu, contornando o segundo balão, retornando pelo lado oposto e descendo a Avenida 36 até a Rodovia Washington Luís, totalizando um percurso de 5 quilômetros, mínimo exigido pela Federação de Automobilismo, logo no segundo encontro de Mário Ananias com Gogliano.

O vereador e organizador do evento chegou a comentar com  seu filho Marinho, na saída de casa (Avenida Duque de Caxias, quase esquina da Rua Expedicionários do Brasil), que Araraquara estava dando o primeiro passo para ter um dos mais belos autódromos do interior.

Marinho, alguns anos depois, chegou a comentar que o seu pai era um visionário. Além do autódromo, Mário Ananias começou a construir o Country Clube, bem antes do Clube Náutico, nas margens da rodovia Washington Luís, onde está a nova fábrica da Lupo; ele também idealizou a fundação do Nosso Clube Araraquara, construindo o primeiro Ginásio de Esportes de Araraquara, na Avenida 36 (onde está a Justiça Federal).

O prédio ainda mantém a fachada original do ginásio que ocupou o espaço do antigo garapeiro. Os dois imóveis de Ananias, anos depois, foram adquiridos pelos irmãos Gumercindo e Gerson Ferreira, da Chaban.

Fátima Monteiro, eleita Rainha do Autómovel Clube de Araraquara, o prefeito Benedito de Oliveira e o vereador Mário Ananias, abrem a prova automobilística pelas ruas de Araraquara (aqui é o segundo balão da Fonte)

Naquele 20 de agosto, Araraquara se vestiu de festa para acompanhar as provas que faziam parte do Circuito de Rua com três baterias, durando uma hora e meia cada uma delas.

Pouco mais das 9 horas da manhã, o vereador Mário Ananias, o prefeito Benedito de Oliveira e Fátima Monteiro, Rainha do Automóvel Clube de Araraquara que acabava de ser fundado em função da organização do evento, desfilaram em Jeep cedido pela Agro-Mobil que representava na cidade, veículos e máquinas fabricados pela CBT (Companhia Brasileira de Tratores), de São Carlos.

Era a volta de apresentação da primeira bateria com carros de passeio. Fátima, anos depois se casaria com Paulo Ferreira Camargo Filho, o Paulinho que jogou no Palmeiras, seleção olímpica do Brasil (1960 em Roma) e Ferroviária.

Nota da Redação: neste sábado (20), o dia da prova e continuidade desta reportagem em homenagem ao aniversário da cidade